Diário dos Açores

Seminário de Angra faz hoje 161 anos com novo modelo formativo e duas vigílias na freguesia dos Ginetes

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 O anniversário é celebrado no contexto da Semana dos Seminários, em que se reza especialmente pelas vocações. Amanhã estão agendadas duas vigílias de oração nos Ginetes, em Ponta Delgada e na Fajã Grande, nas Flores
O Seminário de Angra completa hoje o seu 161º aniversário, num ano particularmente desafiador em que pôs em marcha um novo modelo formativo. Além da separação das diferentes etapas formativas, a própria equipa formadora é composta, pela primeira vez, por leigos: um casal e uma psicóloga.
Para o reitor do Seminário, “esta nova dinâmica pretende alargar os protagonistas na caminhada, isto é, ter mais gente a contribuir para o discernimento dos candidatos ao sacerdócio e, simultaneamente, mais condições para os próprios candidatos poderem crescer humana e espiritualmente”, refere o padre Emanuel Valadão Vaz, o novo Reitor do Seminário Episcopal de Angra.
Esta é, de resto, uma das reflexões feitas na primeira Assembleia do Sínodo dos bispos sobre sinodalidade, que decorreu em Roma em Outubro e que resulta da própria proposta da nova Ratio Fundamentalis aprovada pelo Papa e adaptada pela Conferência Episcopal Portuguesa.
No relatório da Assembleia sinodal propõem-se diversas sugestões a ter em conta na formação dos candidatos a padres para que estes possam servir melhor “uma igreja mais próxima das pessoas, menos burocrática e mais relacional”. Os participantes na Assembleia do Sínodo  propõem às dioceses que “repensem os estilos e percursos formativos” dos candidatos ao sacerdócio. Por isso, avançam: “os seminários não deverão criar um ambiente artificial, separado da vida comum dos fiéis”, mas “directamente ligados à vida concreta do povo de Deus”.
“O povo de Deus deve estar amplamente representado na formação dos futuros ministros ordenados”, propondo-se mesmo o “contributo feminino e a cooperação das famílias” nesse percurso formativo.
“Insiram-se as mulheres nos programas de formação e ensino nos Seminários de forma a favorecer uma melhor formação para o exercício do ministério ordenado”, pode ler-se ainda.
“Esta solução é muito desafiante e pode dar frutos:  é preciso que o Seminário esteja mais no imaginário dos jovens e, quanto mais pessoas estiverem envolvidas, melhor” acrescenta, o reitor na entrevista dada ao Igreja Açores no inicio deste ano lectivo, que arrancou com a menor comunidade residente de sempre: seis alunos.
“Esta opção pela presença na equipa formadora de uma família insere-se na perspectiva de que o Seminário é um espaço onde existem comunidades idênticas às que existem na vida lá fora,  que nos possam ajudar a ver e a ter algumas perspectivas que nós padres podemos não ter”, enfatiza.
O Seminário tem dois alunos externos, por assim dizer, que iniciaram o ano propedêutico mas a residir fora da instituição, cuja formação e processo de discernimento é assegurado pelo pároco da paróquia onde residem e a equipa formadora do Seminário. Também os três alunos candidatos ao diaconado residem fora do Seminário sendo acompanhados pelos sacerdotes das paróquias onde desenvolvem trabalho pastoral.
Os novos alunos terão algumas aulas no Seminário de forma presencial e a maioria por zoom, em casa. Continuarão a desenvolver a sua atividade em são Miguel, de onde são naturais, nomeadamente das paróquias da Covoada e da Fajã de Cima, ambas na ouvidoria de Ponta Delgada.
Já os seis alunos que frequentam o curso de Teologia, no terceiro e quinto anos, têm a acompanhá-los a equipa formadora que será composta pelo Reitor, pelo director espiritual, padre Nelson Vieira, por uma psicóloga - Raquel Oliveira - e por uma família - Lúcio Sousa e Andreia Rocha-, que dia-a-dia acompanharão todos os seminaristas, internos ou externos.
“Este trabalho conjunto é importante para nos sintonizar com o mundo concreto e real e, sobretudo, com o nosso papel que é de escuta mas também de preparação para a escuta e essa preparação faz-se de um aprofundamento da nossa condição humana, de pessoas” explica o padre Emanuel Valadão Vaz.
“Todo o processo vocacional tem de ser um processo evolutivo; nós não podemos querer pessoas no seminário apenas por questões numéricas; quem está no seminário tem de estar disponível para fazer esta caminhada, procurando a conversão” refere ainda, lembrando que a presença dos vários carismas vocacionais pode facilitar um melhor conhecimento do mundo e da realidade que espera um jovem sacerdote, depois da formação no Seminário.
“Os padres não são super homens e neste caminho podemos ir trabalhando e discernindo a melhor forma de conseguirmos responder às situações que se nos deparem. No fundo, temos que nos ir desconstruíndo, retirando o que está a mais e acrescentando aquilo que são Paulo nos diz para sermos homens novos, aqueles que se aproximam mais de Jesus”, esclarece.
Ciente de que a maioria católica, “muitas vezes, não passa de estatística”, o momento que afecta os seminários é igual ao que acontece na Igreja em geral: “secularização e diminuição da prática dominical e, por isso, hoje, a referência que antes era passada no meio familiar já se esbateu”, afirma ainda o sacerdote.
“Temos de ser capazes de criar atracção pelo serviço a Jesus. Ser padre é uma consequência desta atracção por Jesus que se vai gizando à medida que vamos descobrindo e personalizando”, acrescenta o padre Emanuel Valadão Vaz.

 

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