Diário dos Açores

1993: um ano crucial para o ténis nos Açores

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Há precisamente trinta anos (1993), o ténis açoriano vivia aquele que, a esta distância, pode ser olhado como um dos anos mais marcantes da sua história.
A margem de progressão, assente no dinamismo dos seus (à época!) jovens formadores/treinadores, começava a dar frutos nas quatro ilhas (Faial, Santa Maria, São Miguel e Terceira) que se haviam decidido por fomentar uma modalidade tantas vezes apelidada de elitista.
Como é normal, cabia então a São Miguel, como ilha sede do (uma vez mais, à época!) maior Clube de Ténis dos Açores e da Associação de Ténis dos Açores (fundada dois anos antes) encabeçar uma estratégia de desenvolvimento sustentada e sustentável, que abraçasse não só os ensejos próprios de uma coletividade no auge das suas faculdades, como as legítimas pretensões das ilhas adjacentes em fazer com que o nível médio dos seus atletas crescesse e acompanhasse, tanto quanto possível, uma cadência que lhes permitisse ser salutarmente competitivos, e não, apenas, brincar ao ténis.
1993 marca o último ano do Challenger/100.000USD “Azores Open” em modo ascendente, ou seja, foi o último grande certame de uma competição internacional que se estendeu por oito anos (de 1990 a 1997), mas que a partir dessa edição enfrentaria sempre sérios obstáculos financeiros, acabando mesmo por desaparecer em 1997. As megalómanas expectativas que anteviam a passagem da prova para patamares superiores, com garantias da visita de tenistas do top-20 mundial -delírios devidamente registados na revista promocional da edição de 1991- nunca passariam disso mesmo: de um manifesto de interesse de dois ou três deslumbrados.
Fazendo o exercício de recuar exatos trinta anos, chega-se também ao histórico primeiro título de singulares de um tenista açoriano fora dos Açores, quebrando-se definitivamente o estigma de que era impossível sermos os melhores, como de facto aconteceu nesse marcante mês de Abril.
Poucos meses mais tarde, em Julho, o reverso da medalha: naquele que foi, seguramente, o dia mais trágico na história do Clube de Ténis de São Miguel, um dos seus sócios mais brilhantes e empenhados caía inanimado enquanto jogava, acabando por ser infrutíferas as manobras de reanimação. Encerrava ali, sem complacência, a sua jornada terrena.
Ao longo de 24 anos, houve a decência de homenageá-lo em Torneio com o seu nome, até ao dia em que, em vésperas da 25ª Edição, resolveram, como quem muda de camisa e sem prestar contas a ninguém, homenagear outro qualquer.
E mesmo no final, em tempo de Natal, voavam para São Miguel alguns dos melhores tenistas juvenis portugueses, acompanhados pela Campeoníssima Leonor Peralta, a fim de participar no “Torneio Wilson”, numa jornada de intercâmbio e competição inédita e até hoje saudosamente recordada por quem nela participou.
1993 foi portanto, por estes e outros motivos, um ano de viragem, mas não deixa de ser motivo de profunda reflexão a efetiva convivência de três décadas de ténis com “tumores” que sempre que se acreditava terem sido definitivamente extraídos, voltavam, quais metástases traiçoeiras que até hoje persistem.
A 19 de Março deste ano, era possível ouvir da boca de um dirigente responsável pelo Clube de Ténis de São Miguel -que também o era em 1991, quando a então direção se propunha transformar o CTSM num parque de diversões com campos de ténis-, em entrevista à RTP-Açores, que estava previsto arrancar em Agosto/Setembro uma obra que, numa primeira fase, levaria à construção de três campos cobertos, ficando para depois a construção de seis campos de padel cobertos e dois campos de ténis de praia. No entretanto, basta um olhar panorâmico sobre o CTSM para perceber que a única obra em curso é a delapidação do património, nomeadamente ambiental, e o crescimento exponencial da população do mais diverso tipo de animais que por ali coabitam, paredes meias com os campos, que usam como casa-de-banho.
Passados 30 anos, a grande novidade é que hoje, a ilha dominante nas vitórias é a Terceira, e que, em São Miguel, é num clube tendencialmente inclinado para o volei (Clube K), que se encontram os melhores tenistas micaelenses, onde treinam no único campo existente nas suas instalações.
Certa vez perguntaram a Nelson Rodrigues, conhecido Jornalista/Romancista brasileiro, o que invejava(?): “Invejo a burrice, pois é eterna!”.
Pois alevá!    

Francisco Tavares Medeiros*

*Professor / Investigador
Ex-atleta CTSM 

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