Diário dos Açores

Psicologia e Cuidados Paliativos: não há espaço para a solidão na “montanha russa”

Previous Article Previous Article Polícia Municipal intensifica acções de fiscalização e aposta em política de proximidade em Ponta Delgada
Next Article 1993: um ano crucial para o ténis nos Açores

“Mais uma volta na montanha russa… parecia tudo calmo e estou outra vez a mil à hora… agora que me estava a organizar desde a recuperação do último cancro… mais projectos que ficam a meio… não sei o que esperar, já não sei como ter esperança… já não sei o que pensar! E a minha família… estou cansado de ser uma preocupação para eles… um peso, um impedimento a que vivam as vidas deles… e estou sempre a incomodar-vos, enquanto equipa… mais um diagnóstico… mais tratamentos… mais incerteza… mais ansiedade… mais medo… até quando? Vou ter que me habituar a isto… Mas como?! E depois, se isto correr mal, desta vez… será que se sofre? O que será que acontece?... como se lida com este turbilhão, com esta montanha russa que não pára?!”
Este discurso ficcionado, espécie de súmula daquilo que ouvimos de vários utentes, traduz a realidade das pessoas com quem os Psicólogos trabalham, num contexto de Cuidados Paliativos. Realidade dura e exigente mas bonita, onde se procura intervir sobre a “dor total”, princípio cunhado por Cicely Sanders, aquela que vai muito além da dor física.
A intervenção da Psicologia é um dos vectores do acompanhamento a utentes com doenças graves, prolongadas e/ou progressivas que podem, ou não, encontrar-se em estado terminal. Integrados em equipas multidisciplinares, os Psicólogos contribuem para a promoção da qualidade de vida, prevenindo o sofrimento, numa intervenção transversal que inclui o utente e a sua família, numa abordagem que conjuga a ciência com um profundo humanismo e empatia (como sempre é apanágio dos Psicólogos).
Na mala de ferramentas do Psicólogo que intervém em Cuidados Paliativos constam, por exemplo, a comunicação, a compaixão, o respeito pela dignidade e autonomia, a flexibilidade, a capacidade de auxiliar tecnicamente, e humanamente, colegas de equipa ou a noção plena dos princípios éticos e deontológicos. Deverá constar, também, a noção do auto-cuidado, dada a exigência das intervenções nesta área.
As equipas de Cuidados Paliativos existem para lidar com as diferentes dores que emergem dos processos de doença incurável. A Psicologia, e os Psicólogos, como sempre, trabalham para ser um dos elos dessa luta, na defesa de todos aqueles com quem trabalham. Conte connosco. Sempre.
Fique bem pela sua saúde e a de todos os açorianos.
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Filipe Fernandes*

*Psicólogo Clínico e da Saúde e Vogal da Direcção da DRA-OPP

Share

Print

Theme picker