Diário dos Açores

Café sem açúcar e imagens sem filtros!

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Hoje, segunda-feira, ofereceram-me um café no Royal, o café que existe em Ponta Delgada desde 1926, há 97 anos. Não o pedi, mas ofereceram-me, e eu aceitei, bebi-o e soube-me bem.
Bem sei que quando lerem este texto será domingo, quase uma semana depois, mas a minha semana (passada) começou com um café de oferta. E foi bom!
Ofereceu-mo uma colega de mais de dez anos, entre conversas sobre filhas que crescem num instante e sobre doenças que aparecem do nada e que nada sabemos sobre quando irão desaparecer!
Ela disse que me pagava o café. E eu agradeci. Bebi-o sozinha, mas não imediatamente, no interior daquele café emblemático da nossa cidade, porque a minha colega estava de passagem, e nem se sentou para tomar o pequeno-almoço antes do trabalho. Não podia. As horas corriam, e nós corremos com elas.
Olhei o café que fumegava à minha frente e que me oferecia um aroma aliciante, cativante o suficiente para acreditar que iria ter uma semana boa, esperançosa e capaz de me fazer sentir melhor. Agora que estou no final da semana a escrever esta crónica, até não me posso queixar! Foi uma semana intensa, cheia de trabalho e de afazeres domésticos, mas plena de emoções bonitas e de pessoas que nos preenchem os vazios da rotina e do cansaço.
Mas enquanto não bebia o café, não conseguia deixar de pensar que só assim ele era meu, era-me destinado, pois quando entrasse no meu corpo, apesar dos momentos em que faria a sua descida, já não seria meu, fugiria de mim de alguma maneira. Quanto mais não fosse quando o seu efeito terminasse!
Ao meu lado um livro, claro, Tudo o que ouço é coração, de   Carmen Garcia, que ainda não terminei, mas que escreverei sobre ele em breve. É de leitura obrigatória!
Bebi-o sem açúcar, um velho hábito aprendido com o meu marido. Dizem que quem bebe café sem açúcar é psicopata. Será? Talvez? E não seremos todos, muitas vezes, “patas psicológicas” sem forças para andar, para continuar querendo ceder em vários momentos do dia? Sim, muitas vezes somos assim. Mas depois bebemos mais um café, revigoramos a nossa confiança e seguimos caminho, porque só assim conseguimos vencer dia após dia, com todas as dificuldades, mas também com todas as coisas boas que a vida nos traz diariamente. Porque não é tudo amargo, e mesmo o amargo às vezes é bom; dá-nos a noção do valor da doçura.
Hoje, bebam um café ou um chá sem açúcar, se já não o fazem, e vejam como o sabor das coisas ao natural nos preenche mais, nos faz viver melhor, sem nos preocuparmos em camuflar as coisas naquilo que não são; qual foto do instagram que é publicada sem filtros (como eu faço sempre).
Somos aquilo que somos, não precisamos de máscaras, nem de nos preocuparmos com o que os outros vão pensar sobre as nossas olheiras ou sobre o cabelo menos bem arranjado que não deu tempo de lavar antes de ir para o trabalho. Sejamos pessoas reais, cafés sem açúcar e rostos sem máscaras.
Psicopatas seremos quando a nossa maior preocupação for esconder aquilo que não vive em nós!
Boas leituras!

Patrícia Carreiro*

* Diretora da Livraria Letras Lavadas

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