Diário dos Açores

Crises na Corte que afrontam a degradação da vida plebeia

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É inevitável falar da crise na superestrutura política do país, palco de mais uma pantomina ofuscante da outra (real) crise atravessada pela vida coletiva.
Desde que o PS, surpreendido por uma maioria absoluta, com a qual não contava, optou estrategicamente por se recuperar daquilo que resolveu dar por tempo perdido nos dois mandatos anteriores, enquanto se entendeu com o PCP e o BE, que a representação das direitas (engrossada pelo IL e o Chega) na Corte política portuguesa, agora sem tapete para se opor abertamente a políticas que ela própria subscreve no essencial, optou pelo recurso sistemático às rendosas temáticas da corrupção e da pressão sobre a justiça para tentar apear dos seus lugares, não as políticas, mas os cortesãos do PS. E, com o beneplácito régio do presidente, conseguiu isso mesmo.
Cansado, António Costa aproveitou a oportunidade que lhe foi dada pela (fraca) acusação do Ministério Público e abandonou o barco, mas não antes de nomear um sucessor da confiança política do reino para o substituir – José Luis Carneiro, não vá o diabo tecê-las e dar outra vez a vitória ao PS em março do próximo ano…
Mesmo após o anúncio da saída do primeiro-ministro e do seu governo, considerando a convergência de interesses existente na Corte política, que está a resultar numa escandalosa acumulação de lucros por parte das grandes empresas e dos bancos, as direitas e o presidente, alargando prazos de forma pouco límpida, concederam afinal ao PS a garantia da aprovação da sua própria proposta de Orçamento de Estado que, pelos vistos, não será assim tão de esquerda como os seus autores proclamavam.
Mas saiamos da Corte e passemos à plebe. Ela mostra-se hoje descontente e frustrada nas suas expetativas. Depois de achar que dar força ao PS funcionaria como seguro de vida contra as políticas de direita, acha-se agora vítima das erradas políticas do reino, confrontando-se com o acentuado aumento do custo de vida e das desigualdades, a degradação dos seus já magros rendimentos, a pobreza crescente, as dificuldades no pleno acesso à saúde, à habitação, à educação ou à justiça.
Enfrenta a contenção dos salários e pensões face ao crescimento ininterrupto dos benefícios fiscais aos grupos económicos, a baixa no IRC, os gastos com as parcerias público privadas (PPP), as transferências chorudas de capital público (mais de 8 mil milhões de euros) para o negócio privado da saúde, a desregulação do acesso à habitação.
Vão-se realizar eleições antecipadas. Escondendo as anteriores políticas de Coelho e Portas (PSD/CDS), e aproveitando a queda do governo do PS, as direitas e a extrema direita descerão da Corte para pedir à plebe que volte para eles, num ciclo vicioso interminável de alternância, sem contudo proporcionar a necessária alternativa para a real satisfação das suas legítimas aspirações.
No entanto, essa alternativa existe, não à direita, mas à esquerda do PS. Uma política capaz de dar solução aos problemas reais dos plebeus e das plebeias e pela qual se luta não só nos atos eleitorais, mas também todos os dias de braço dado com eles.


Mário Abrantes

 

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