Estes dias de debate sobre o Plano e Orçamento no parlamento regional serão reveladores do estado de tensão eleitoral em que se encontra a política açoriana.
De um lado, já se percebeu, está a coligação a defender firmemente os dois documentos, que são, na verdade, um envelope tentador para um ano de eleições, e do outro temos os partidos da oposição, incluindo os dois que assinaram o acordo com a coligação, receosos que o governo fique sem freio em ano eleitoral.
É que o problema já não é o Plano e Orçamento, é o perigo da coligação começar a distribuir as habituais benesses eleitorais até Outubro, no tal “frenesim prometório” que a oposição receia.
Os deputados do Chega e da IL já perceberam, há muito tempo, que esta ponta final da governação é perigosa para o chamado “voto útil”, porque poderia levar muita gente do seu eleitorado a votar na coligação.
A estratégia é travar este ímpeto eleitoralista da coligação e tentar eleições antecipadas o mais rápido possível para segurar o seu eleitorado e captar o voto dos descontentes e desiludidos com a coligação, antes que sejam beneficiados pelo tal “prometório” e mudem de opinião.
O que o Representante da República, via Marcelo, vai perguntar a estes dois deputados é se aguentam a coligação por mais uma legislatura, como acordaram no início, ou se já não acreditam nela e, mesmo que venha um novo Plano e Orçamento daqui a 90 dias, voltam a chumbar.
Se é assim, então não vale a pena prolongar uma governação com destino marcado e a funcionar em duodécimos.
Marca-se já eleições e até vem a calhar se elas coincidirem com as nacionais a 10 de Março, para não mandar os eleitores duas vezes às urnas.
Deve ser isto que está na cabeça de Marcelo. Resta saber se as duas campanhas a decorrer ao mesmo tempo não criará uma enorme confusão no eleitorado e na bolha mediática.
A coligação parece não estar muito preocupada e, certamente já a pensar nas antecipadas, jogou forte na apresentação do Plano e Orçamento com o discurso inicial do Presidente do Governo em vez da tradicional apresentação do titular das Finanças.
A instabilidade que transpira do parlamento esta semana parece conselheira a eleições o mais depressa possível.
Mas ninguém se atreve a provocá-las para não ficar com o rótulo de desestabilizador durante a campanha.
Estará Marcelo disponível para se substituir à moção de censura?
Quase que aposto que é isto que Marcelo gostaria de fazer, até para dar o aviso a uma eventual coligação de direita a nível nacional, após as eleições de 10 de Março, que venha a ter o apoio do Chega e da IL.
O Presidente da República avisaria, com o exemplo dos Açores, que se alguém falhar no apoio a meio da legislatura, em Lisboa, fará o mesmo que nos Açores: dissolve!
O que se vai passar nos próximos dias é um óptimo laboratório para Marcelo, avistando o que se poderá passar a nível nacional.
Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt