“É poesia, mas sinto-me muito bem no meio dos ensaios”
Diário dos Açores

“É poesia, mas sinto-me muito bem no meio dos ensaios”

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Urbano Bettencourt lança livro amanhã em Ponta Delgada

O conhecido escritor açoriano Urbano Bettencourt lança amanhã, em Ponta Delgada, a sua última obra, intitulada “Antes que o mar se retire”.
Será na Livraria Solmar, pelas 18h30m, com leituras por Eleonora Marino Duarte, José Borge e Maria Fátima de Sousa.
O Diário dos Açores esteve à conversa Com Urbano Bettencourt, colabrador deste jornal, sobre a sua nova obra.

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O que é este “Antes que o mar se retire” ?
É uma reedição do meu anterior livro de poesia (“Com Navalhas e Navios”, 2019), a que acrescentei cerca de trinta poemas recentes,  incluídos numa última secção que dá o título ao actual livro.

Como é que chegou ao título da obra? Qual o seu significado?
A partir de um verso que surge na suposta voz de Antero e que pertence a um dos tais poemas recentes.
No seu contexto, vem na sequência de um pedido («Fale-me do Mar!»); deste modo apresenta-se «como sintoma de uma urgência nesta escrita», como muito bem entendeu e escreveu no posfácio o meu amigo  (e leitor atento) Leonardo Sousa.
 E eu só posso concordar com ele.

O Urbano está mais à vontade na poesia ou no ensaio?
São momentos e discursos diferentes, com diferentes relações com a linguagem.
Mas a continuidade e as solicitações têm-me atirado mais para o campo do ensaio, que é sempre uma tentativa de descobrir o outro do texto, de compreender os procedimentos discursivos, os jogos desse outro.
 Numa das suas cartas, Pedro da Silveira avisou-me: «Urbano, não se esqueça de que é um poeta.»
Creio que não tenho prestado muita atenção ao seu aviso e às vezes arrependo-me, mas sinto-me muito bem no meio dos ensaios.

O que é que tem entre mãos neste momento? Continua a escrever?
Continuo a participar em colóquios, encontros e a pretexto disso vou escrevendo comunicações de maior ou dimensão, conforme o caso.
Isso permite-me revisitar temas e autores que fazem parte dos meus interesses literários e culturais.
Neste ano já escrevi e falei sobre  identidades insulares, sobre Madalena Férin, Natália Correia (em duas ocasiões), Pedro Almeida Maia.
Entre  13 e 16 de Novembro estive na cidade da Praia (Cabo Verde) a participar no VI Encontro Internacional da Poesia da Macaronésia, tendo feito a conferência de abertura, em que falei das relações literárias entre Cabo Verde e os Açores nos anos 40 do século passado, sobretudo através do grupo de Ponta Delgada.
 É um tema bifronte, ainda a explorar, e que respeita à história literária de ambos os arquipélagos.

O Urbano tem presenciado e participado em vários acontecimentos literários e culturais na nossa Região. Como é que explica esta catadupa de iniciativas e forte dinamização na área?
Creio que isso traduz uma alteração de meios e condições que proporcionam o acréscimo de manifestações; resulta também, creio, de outras perspectivas a presença da cultura no espaço público.
Em todo o caso, isso não pode escamotear uma reflexão sobre o seu real impacto e sobre a natureza dos públicos que temos: dimensão, composição etária, proveniência social.
Nem pode fazer esquecer que uma política da leitura (e da formação artística e cultural) está muito longe de se circunscrever  a essas manifestações de natureza social.

E quanto às editoras, continua fiel à Companhia das Ilhas, do seu Pico.  
Publico na Companhia das Ilhas desde a edição da minha tese de doutoramento, “O Amanhã não Existe”.  colaborei com o Carlos Alberto Machado na reedição das obras de José Martins Garcia, um esforço da Companhia  para trazer ao conhecimento do público um grande escritor que continua por descobrir  devidamente, tão grande na desenvoltura verbal e narrativa quanto politicamente incorrecto,  sem medo de mexer nas feridas e nos dogmas de uma sociedade de máscaras e disfarces públicos.
A Companhia das Ilhas é um exercício de persistência, de teimosia, do Carlos Alberto Machado e da Sara Santos, a partir de um pequeno lugar e sem os estímulos imediatos que adviriam de um enquadramento cultural e  social mais  favorável.
jornal@diariodosacores.pt

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