Diário dos Açores

E assim vamos...

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Apesar de ainda não decidida a dissolução do parlamento dos Açores por quem de direito, a verdade é que a Região entrou oficiosamente em campanha eleitoral imediatamente a seguir à audição do Presidente da República aos partidos com assento parlamentar. E a primeira grande sessão eleitoral pública (oportunista e de enviesada legitimidade) dessa campanha partiu do próprio demissível e ainda Presidente do Governo Regional.Com uma longa intervenção de vitimização e passa culpas através das câmaras da RTP/Açores, José Bolieiro anunciou a sua repentina conversão às eleições antecipadas, logo que o Chega e o IL, depois de 3 anos de turbulenta e instável concórdia, a remar em grande desacerto, optaram por largar o barco da maioria parlamentar de apoio ao seu governo, para não se chamuscarem. Assim se retira, deixando pouca saudade, um governo de três galos em poleiro e mais dois a cantar do parlamento, onde dominaram as contradições, o oportunismo e o calculismo político, muito mais que, malgrado as insistentes juras em contrário de todos os cinco empoleirados, o genuíno interesse pelos Açores e pelos Açorianos.
Pelo contrário, na República, o Orçamento Geral do Estado, por pressão um pouco irregular da presidência, sempre passou, com os votos de uma maioria absoluta que nem por assim ser conseguiu manter-se à tona muito tempo, proporcionando dessa forma aos poderes presidenciais o regozijo por mais um exercício em que se tornou campeão: o da convocação de eleições antecipadas! Assim se retira um governo cuja maioria absoluta serviu para, por exemplo, aumentar as rendas em 7% aos mais pobres, deixando de ter em conta os seus magros rendimentos, e continuar apesar disso a atribuir benesses aos seus senhorios. Um governo que, por exemplo continua a recusar-se a assegurar para os Açores uma justa política de transportes, continuando sem compensar a SATA das responsabilidades assumidas no cumprimento das obrigações de serviço público, seja nas rotas não liberalizadas, seja no encaminhamento gratuito de passageiros chegados das liberalizadas.
E enquanto por cá se faz mais politiquice que política, apanhando agora o impoluto Marcelo e manchando repetidamente os pergaminhos da democracia, uma outra estranha “democracia”, pelo menos assim apelidada, faz política a sério. Apoiada e financiada tanto pela direita mais extremista (Chega e Iniciativa Liberal), como pela direita tradicional do PSD e CDS, e até mesmo pela social-democracia do PS, a “democracia” do governo de Israel, à caça de terroristas, mata todos democraticamente por igual às centenas por dia (sejam crianças, mulheres ou velhos) desde há dois meses a esta parte, totalizando já (e sempre em aterradora atualização, agora estendida a sul) mais de 16 000 palestinianos, fora os soterrados em mais de 6 000 edifícios totalmente destruídos ou em 160 000 habitações total ou parcialmente danificadas pelos bombardeamentos, incluindo escolas, universidades ou hospitais.
Enquanto o representante da UNICEF, James Elder, de visita à faixa de Gaza no domingo passado, num vídeo que fez passar na sua conta do Twitter (X), afirmou que estava a ficar sem maneira de descrever os horrores porque ali passam as crianças; enquanto a presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Miriana Spoliaric, de visita ao mesmo território, no dia seguinte, afirmou como sendo “intolerável” o sofrimento porque está a passar a população palestiniana, os enviados especiais da RTP para esta guerra, no mesmo dia, bem resguardados do lado de Israel, mostravam-se pelo contrário bem pouco incomodados com o inferno humano que ardia do outro lado e optaram por fazer notícia com o retorno de dois luso-israelitas ao território, privilegiando a transmissão em direto de um jogo de futebol onde eles participavam…


Mário Abrantes

 

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