Se tivesse de resumir a minha experiência de voluntariado numa única palavra, sem dúvida, seria: DESAFIO. Não há nada que nos desafie mais do que quando fazemos algo sozinhas, especialmente uma viagem num país estrangeiro, onde não conhecemos a língua, nem as pessoas, e não sabemos bem o que nos espera.
Nos últimos 4 meses tive a oportunidade de dinamizar workshops em educação afetivo-sexual na ONG Sambhali Trust, uma associação cujo objetivo é garantir que as mulheres e as crianças do Rajastão tenham direito a uma educação. Este é o estado com mais crimes cometidos contra as mulheres em toda a Índia. Diariamente são relatados vários incidentes de homicídio e violação. Portanto, num país onde a luta pelos direitos humanos é uma constante diária, a educação é também ainda considerada um privilégio, especialmente para as mulheres. E a educação afetivo-sexual é um tabu, e é exatamente por isso que é tão necessária!
Durante estes meses, nunca imaginei que iria encontrar mulheres e crianças com histórias de vida tão impressionantes e inimagináveis, e com tanta garra e determinação em estudar e tornarem-se [um pouco mais] independentes. É, sem dúvida, uma realidade muito dura, que dificilmente alguém fica indiferente, e faz-nos sentir altamente impotentes. Mas é também uma fonte de inspiração, que nos move, e nos faz querer dar o melhor de nós para as ajudar.
Na convivência com as mulheres e nos workshops que dinamizei, lá encontrei uma nova definição parasororidade. Encontrei uma comunidade unida, que diariamente as encoraja e capacita a se destacarem num mundo que [muitas vezes] as desfavorece. Em vez de competição, encontrei cooperação e colaboração, permitindo que sejam mais bem-sucedidas juntas do que separadas.
Foram apenas 4 meses, mas lá encontrei um ambiente de apoio, no qual as mulheres podem procurar orientação, aconselhamento e encorajamento umas das outras, permitindo que elas alcancem os seus objetivos. Encontrei uma constante luta contra as expetativas e os estereótipos que a sociedade patriarcal impõe sobre elas diariamente. Encontrei compreensão, compaixão, partilha, resiliência, força, empatia, segurança, amizade, crescimento e solidariedade.
Sem dúvida que esta experiência marcou-me muito, tanto a nível pessoal, como profissional, e por isso estou eternamente grata pela oportunidade! Levo cada uma destas mulheres e crianças no meu coração, com a promessa de algum dia voltar!
Sara Valério*
*Psicóloga e Voluntária em Sambhali Trust
Campanha 16 Dias pelo Fim da Violência contra as Mulheres 2023