Diário dos Açores

Marrocos Micaelense

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1 - É arriscado emitir opiniões públicas em meios pequenos como os açorianos, onde as verdadeiras e sólidas amizades se resumem a pouca gente. Eu que o diga, especialmente quando adoeci gravemente. Deixei de ser contactado por certos “amigos” e passei a morto-vivo, ressuscitando apenas quando sai uma crónica acertiva e mais picante.
2 - A de hoje é muito picante pois envolve um facto evidente e uma solução que não dá votos. A maioria  dos grandes “influencers” nativos ou importados apenas se interessa  em votos e na cor da nova governança. E o novo poder não quer ondas, preferindo ser simpático e carinhoso até se sentir confortável com a requentada  equipa  de “boys” que hibernaram nestes últimos anos “bolieirais “
3 - A crónica de hoje é abissal porque se refere ao troço paisagístico e ecológico que se  desenvolve entre a Cadeia Medieval da Boa [ou Má ] Hora e a Praia Grande do Pópulo ou Praia das Milícias.
Sem falar no grande crime do aterro da graciosa Calheta de Pedro de Teive, último testemunho do rendilhado de calhetas e caneiros que bordejava a recortada baía de Ponta Delgada, assunto pecatório que revelarei  em outra crónica apostólica.
3 - Mas voltemos  ao Pópulo - Cadeia Medieval. Antes deste ciclo vorazmente turístico, onde a ganância, a insensatez e o risco se entrelaçam, a cortina marítima da cidade tornou-se um autêntico neocasbah marroquino, feio, inestético, arquitectónicamente incoerente, desarrumado, entulhado, coloridamente aberrante, enfim um desastre difícil de emendar ou de se redimir. Há muito dinheiro em novas construções, muitas aberrantes. Há muitos euritos na recuperação de casebres, há muito dinheiro em  remendendos habitacionais feiosos, primários, sem gosto ou funcionalidade. Um casbah marroquino ou marroquóide enquadra muitos interesses.
4 - Na zona da Cadeia Medieval, edificaram-se casinhas aparentemente modernas, ao lado de quintais de alumínio e de provincianos estendais de roupas. E casinhas com enormes  janelões de alumínio. Num sítio ou noutro surgem obras paradas ou embargadas. No castelinho de S. Roque meteram um bar inestético e nas encostas da mesma S. Roque proliferam as casinhas de rebouco anarquista.
Junto da bela  igreja de S. Roque vende-se um pequeno terreno a pique até ao mar. Quem compra?
5 - A orgia de  mau gosto prossegue. Até ao velho forte do Pópulo no extremo poente das Milícias. O forte, muito descomposto mas muito interessante, é uma retrete. E a bela e rara  parede-espingardeira, está parcialmente arruinada.
O património da ilha de S. Miguel está a saque, da Povoação aos Mosteiros. E as outrora aguerridas associações ecológicas estão caladinhas, amedrontadas ou bem  acomodadas....
Parecem inebriadas pelos calores das máquinas governamentais ou contactos camarários. Há um “dolce far niente” que corrói  os antigos espíritos que amavam estas nossas terras.
Como dizia Jô  Soares - “que mais nos vai acontecer!!”

Victor Hugo Forjaz *
*Vulcanólogo

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