Diário dos Açores

Vida e Educação: Alguns traços de uma Biografia

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Face ao que tenho constatado, também no Facebook e outras
Questões de Catolicidade, Laicidade e dimensões biográficas

Face ao que tenho constatado, também no Facebook, é de elementar e gritante urgência esclarecer, até quem devia ter um discernimento que cada vez mais concluo que não está ligado a graus e a títulos (embora estes, com humildade, deviam ser um fator acrescido de discernimento).
Entre outros aspetos, ninguém deve ser perguntado se tem ou não tem confissão religiosa e se tem qual. (isso de acordo com a lei normativista porque, em termos pessoais nada me incomoda, o que importa é saber distinguir o que é da ordem da intimidade, da ordem da privacidade e da ordem pública). Aí convém conhecer a lei porque numa sociedade persecutória tudo pode servir para fazer mal a outrem, se vem de gente sem princípios e sem ética e moral. Para se ter a noção do alcance do que afirmo perguntemo-nos: alguma vez pensámos que iria ser necessário instituir o Dia Mundial contra o bullying?!
Mas temos visto ações e ações de formação, incluindo nas escolas, sobre o bullying, promovidas, também, por autoridades públicas. Há que fazer Educação em Valores. Quem educa a Educação?
Sou Professor há muitos anos, comecei a dar aulas oficiais com 18 anos de Idade, o que me deu uma Alegria imensa. Tenho as melhores memórias desse tempo e o sentimento de ter exercido muito bem a minha função de Monitor/Professor (de Português, Francês, História, Estudos Sociais, Trabalhos Oficinais, Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), como opção, embora os encarregados de Educação livremente matriculassem os/as seus filhos/as. Trata-se de uma disciplina que em muito contribui para a formação integral. Aliás, a Constituição da República Portuguesa reconhece a todos a necessidade de assegurar a “integridade moral e física”, é importante que a dimensão moral apareça em primeiro lugar. De facto, nós somos sujeitos morais e como pessoas nunca devemos alinear essa prerrogativa, mais ainda, essa Dignidade. Desses primeiros tempos como Professor tenho depoimentos, escritos, que guardo, com elogios muito abonatórios e muito incentivadores para que eu seguisse a vida de Professor, Vocação e Sentido de Missão que já vinha da fase de aluno na antiga Escola Primária, que frequentei nos Ginetes (a Terra da Autonomia), a minha Terra Natal. Terra abençoada como tantas vezes dizia a minha amada Mãe. As terras contíguas à casa onde nascemos foram adquiridas pelo nosso Pai e sempre continuaram na Família. E é essa terra, em especial, que a minha amada Mãe, hoje com 87 anos de Idade, sempre considerou abençoada, porque produzia tudo e muito, além de ser, de facto, uma boa terra e terra boa.
Mas, antes dessa etapa escolar e profissional, sou Batizado, aos 7 dias após o nascimento, Crismado e Casado na e pela Santa Igreja Católica. Para o Católico, mesmo em termos de Matrimónio, o Direito Canónico prevalece sobre o Civil. Pode-se casar mil vezes ao civil, mas só uma pela Santa Igreja Católica, enquanto os dois estão vivos, é o Amor celebrado e selado no Altar de Cristo. Falta doutrinar e não se pode vacilar nos Princípios. É na condição de Batizado, de Cristão e de Católico que partilho textos de natureza católica alguns mesmo não apenas de natureza, mas da essência mesma de Cristão e Católico como os Evangelhos. Mas devo acrescentar, todavia, que a Religião, - no meu caso a Religião Católica - para além da sua dimensão da Fé, é Cultura no seu melhor. É muito importante que também possa haver diálogo entre religiões, também como cultura, mas isso não se exige à Profissão de Fé de um Pessoa.
Na dimensão de Cultura, a Religião é, em termos de investigação científica, uma área ou subárea de Formação, em termos universitários, designadamente em termos europeus. Assim, a pessoa também pode escrever sobre Religião como matéria de Ciência. No meu caso cruza-se, com Raiz profunda, a Fé, a Cultura e a Ciência.
Em mim, o que predomina como raiz é a Fé em Jesus Cristo, que recebi no meu Batismo e que, Graças à Escola da Fé, que veio do meu Berço, tenho alimentado pela Vida fora. Aliás, todos os Papas, na doutrina católica, e no Direito Canónico, fazem notar, de modo explícito, que há uma obrigação natural do Testemunho. Aliás, em Portugal, há o Acordo entre o Estado e a Santa Sé, através da Concordata, o que prevê, por exemplo, que o Casamento pela Igreja Católica seja reconhecido, automaticamente, em termos civis, pelo Estado Português.
Se todo o Saber e Conhecimento, para o serem, devem ser vividos - ninguém explica com alma o que não vive - no caso da Religião mais ainda. Só se transmite, em Verdade, o Conhecimento da Palavra de Deus e a Fé quando são vividas, só assim são tocantes pela luz que nos ilumina. Falo da transmissão pelo testemunho porque nas escolas há a disciplina, opcional, de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC). No artigo 43º da Constituição da República Portuguesa está escrito: “Liberdade de aprender e ensinar”, ponto 2: “O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas”; 3: “O ensino público não será confessional”.
Como o Estado é laico, não há religião de estado - somos uma Democracia, de Estado Direito Democrático - e podem coexistir todas as religiões, embora, devido à concordata, e à catolicidade do Povo Português, há uma atenção específica. Secularidade, Laicidade, Sacralidade e Catalocidade, em religiosidade plural.  
Veja-se que no caso das Universidades Católicas, frequentadas por quaisquer pessoas, no Símbolo está a palavra “Verdade”. Mesmo em termos laicos cada vez mais se constata, por várias evidências, que o Conhecimento que não estiver vinculado à Verdade seca. O mundo da Religião e do Direito/Justiça são guardiões do vínculo à verdade: “Dizer a Verdade e só a Verdade”.
A Fé é Luz. A Fé é uma Virtude teologal e uma força de vida poderosa, que nos faz mover em Ser, Conhecer e Acreditar. A Fé promana da Nascente de Deus e de muitas fontes, de muitas pessoas, de muitos livros, e são tantos, que nos ajudam a caminhar na vida.
O que é muito grave é quem se diz Cristão e Católico e não der Testemunho da sua Fé, através da Palavra e do Exemplo. Nós somos templos do Espírito Santo. E sabemos, é bíblico, “O Espírito sopra onde quer”. Ser e Crescer como Pessoa tem várias dimensões, para um Cristão Cristo é o Centro, ao ponto de podermos dizer como S. Paulo: “Já não sou eu que falo, é Cristo que fala em mim”. E a Pessoa não perde, pelo contrário, a sua autonomia e independência. Fala em Verdade e Liberdade. Como não acreditar na Palavra de Deus se a palavra dos homens não vale nada (como se vê, todos os dias)?. Para mim, pergunto, como não ver em Cristo a Única Saída, se este mundo está cada vez mais um cárcere, uma prisão? Como não nos dedicarmos às Coisas de Deus se as pessoas nos negam sempre? Como escreve Bento XVI, as pessoas devem ser “credíveis” e “fiáveis”.
Mas Deus é a Esperança que nos pode ajudar a resgatar essa humanidade, em risco de alienação, em guerras bárbaras, intermináveis, fazendo tantas vítimas inocentes. É tempo de Compaixão, para juntos SERMOS e cantarmos o Hino da Alegria.

Ponta Delgada, 12 de dezembro de 2023
Emanuel Oliveira Medeiros
Texto escrito e publicado, originalmente na minha Página do Facebook

Quem não é de um Lugar não é Universal

Quem não é de um Lugar não é Universal, como tenho dito e escrito várias vezes. Nasci, cresci e vivi nos Ginetes, e os Ginetes continuam em Ponta Delgada, não só porque Ponta Delgada é a Cidade do Concelho, mas porque o lugar e tempo primeiro e primordial é os Ginetes como Génese, Origem, Sentido, como um lugar original de significação que me acompanha no fundo de mim, na essência do meu Ser, em dinamismo e projeto. Nós somos as nossas raízes, trazemos connosco o torrão que nos viu nascer. Foi nos Ginetes que eu aprendi a andar e a falar. A Língua Portuguesa tem essa capacidade de acrescentar ser ao nosso Ser. Nós somos linguagem e nessa linguagem vemos o mundo e mergulhamos num oceano infinito de ser. Sempre gostei muito de línguas, mas a Língua Portuguesa, o Português, é, em mim, dentro de mim, muito especial, é uma língua genésica, genética e cheia de potências, de metáforas. Aprendemos a falar e a ver o mundo do colo, esse lugar de segurança e conforto. Um dia a minha Mãe escreveu que se segurava nas Palavras de Deus. Nunca escrevi algo tão profundo, A Palavra como Segurança, é uma metáfora originalíssima, com um imenso fundo humano e teológico, divino e divinal. Também foi a minha amada Mãe, Leontina Maria Oliveira Medeiros, hoje com 87 anos de idade, que, há alguns anos atrás (não muitos) afirmou: “Deus nasceu para a Páscoa”, anotei, rapidamente, para exarar como tinha sido proferido. Que profundidade humana e teológica, contida naquela afirmação, dita com muita humildade, como sempre. Foi na Paróquia e Freguesia dos Ginetes a minha Infância, a minha adolescência, a minha juventude e parte significativa da minha vida adulta. Mas na Cidade, os Ginetes estão dentro de mim, além do mais, desde adolescente que os Ginetes e a Cidade de Ponta Delgada fazem parte da minha vida, pessoal, familiar, escolar, de trabalho, das minhas experiências e vivências, da minha História de Vida, da minha Biografia, do meu Curriculum Vitae.
Da minha idade de menino, da minha infância e adolescência, da minha idade como jovem adulto, da minha idade adulta, ficou-me o gosto por tantas coisas, uma delas andar a cavalo.
Aqui ficam sementes para um texto. Sei qual.
Ponta Delgada, 10 de dezembro de 2023
Emanuel Oliveira Medeiros
Emanuel Oliveira Medeiros, nos Ginetes da minha Infância, em cima de uma égua, com cerca de cinco anos de idade. Um Tempo Primordial e Primeiro de Ver e Olhar o Mundo, com Alegria, mas na vida, desde cedo, também sentimos o que é a tristeza e outros sentimentos, que nos fazem. É a Vida, a Ser, em nós e em coexistência. O que estaria eu a sentir e a pensar?

Emanuel Oliveira Medeiros
Professor Universitário*

*Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia  da Educação

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