Subir ao Pico só com reservas  de meses de antecedência
Diário dos Açores

Subir ao Pico só com reservas de meses de antecedência

Previous Article Um poema surrealista de Natália Correia
Next Article 500 anos do Convento de S. Francisco 500 anos do Convento de S. Francisco

Subir o Pico está a ser um quebra-cabeças para muitos interessados, porque a afluência é cada vez maior e as reservas já têm que ser feitas com meses de antecedência.
Só  este ano, entre Janeiro e Setembro, mais de 34 mil pessoas subiram os 2.351 metros de altitude da montanha do Pico, segundo os dados do Serviço Regional de Estatística.
Renato Goulart, um dos guias mais conhecidos do Pico, confirmou à NiT que estão a ser feitas reservas com semanas e até meses de antecedência.
“Apesar do clima não ter sido muito favorável no Verão, tivemos um boom de turismo muito intenso. Há empresas e operadores turísticos que já estão a fechar o ano de 2024”, afirma o guia de montanha, com 50 anos, que já subiu ao Pico mais de 2.700 vezes.
“Quem quiser fazer a caminha na época alta, sobretudo nos meses de Julho e Agosto, deverá tratar das reservas entre um a três meses antes para garantir lugar. Podem ter sorte e conseguir vaga no próprio dia, caso existam desistências, mas é muito difícil, até porque há cada vez mais operadores a trabalhar aqui, que levam grupos enormes, especialmente de italianos”, sublinha o guia à NiT.
Recorde-se que o limite de carga é de 240 pessoas por dia, à excepção dos meses de Verão, quando a capacidade aumenta para mais 40 ou 60.
“Há pessoas que chegam lá às seis da manhã, ou antes, a tentar ver se conseguem vagas. A Casa da Montanha (o ponto de partida do trilho) não pode libertar assim os espaços e às vezes esperam até à uma da tarde, e mesmo assim não conseguem”, sublinha Goulart.
 “O limite de carga que temos que cumprir e a situação do tempo dos Açores ser muito variável são alguns dos factores que levam a este problema”, confessa.
A caminhada sem guia até à zona da cratera custa 15 euros, enquanto a subida até ao ponto mais alto fica por 25 euros.
A NiT conta a história de Renato Goulart: Quando tinha sete anos, Renato Goulart subiu, pela primeira vez, a montanha do Pico. Acompanhado pela família e pelos irmãos mais velhos, nunca esqueceu o momento em que chegou ao ponto mais alto de Portugal — mas não foi pelos melhores motivos.
“Foi uma experiência que me recordo bastante bem porque me marcou muito, passei muitas dificuldades. Antigamente não tínhamos equipamento, a minha família era pobre e eu não tinha noção ao que íamos. Passámos lá a noite, com um cobertor para sete ou oito pessoas. Os adultos bebiam aguardente para aquecerem e os mais novos nem sequer dormiam”, recorda Goulart.
Nessa altura, não imaginava que acabaria por se tornar guia de montanha profissional. Após aquela primeira experiência, só voltou a subir o Pico anos mais tarde, dessa vez acompanhado por amigos — e com equipamento.
 Quando tinha 20 anos pediu autorização para fazer subidas com algumas pessoas, caminhadas que conciliava o emprego numa oficina de alumínio, onde esteve pouco mais de uma década.  “Aos 29 anos decidi dedicar-me a 100 por cento às subidas e, após tirar cursos de guia de montanha local, dados pela Secretaria-Geral do Ambiente, tornei-me profissional na actividade”, conta à NiT o açoriano, nascido e criado na ilha do Pico. Capaz de sentir a terra como ninguém, Renato Goulart começou a ser conhecido como o “Rei da Montanha” e é lá que se sente em casa.  Já subiu ao Pico mais de 2.700 vezes. “Agora não tenho pressão nenhuma, mas há uns quatro anos sentia-me pressionado porque estava quase a atingir a subida número 2351, igualando a altitude da montanha.” O guia de montanha conseguiu atingiu esse número de subidas no dia 31 de Agosto de 2019, mas não foi nada fácil. “No Verão, em dias de bom tempo, subia e descia sem parar. Em 24 horas, fazia o percurso três vezes, não tinha como descansar”, conta.
Apesar de já ter feito a viagem de ida e volta quase três mil vezes, costuma dizer que “a montanha tem sempre alguma coisa nova para nos mostrar”. Não tanto no trilho em si, mas por ser imprevisível.  “A situação climatérica é cada vez mais instável e mesmo que tenhamos muita experiência, às vezes a montanha não corresponde ao que estávamos à espera. Hoje em dia o tempo muda com muita mais facilidade do que há 10 anos”, conclui.

Share

Print
Ordem da notícia3123

Theme picker