“A mesma peça nunca será igual a outra, pois são feitas à mão,  e as mãos não são “fotocopiadoras”
Diário dos Açores

“A mesma peça nunca será igual a outra, pois são feitas à mão, e as mãos não são “fotocopiadoras”

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“Caras Felizes” é um projecto criado por Susana Cabrita, cuja paixão adquirida ao acaso, fez nascer de uma aventura um projecto de vida.

Susana Cabrita, é algarvia de gema, mas vive em são Miguel desde 2009.
Foi através da realização de um bolo de aniversário para o seu marido que viu nascer uma paixão que conduziu a criar o projecto “Caras Felizes”, onde realiza inúmeras peças de porcelana fria.
O Diário dos Açores esteve à conversa com Susana, para conhecer um pouco mais sobre o seu trabalho, cuja delicadeza e originalidade são compatíveis com a felicidade de quem as adquire.

Fale-nos um pouco sobre si.
Sou a Susana, a “euquipa” da Caras Felizes, marca registada portuguesa. Sou uma rapariga de 44 anos, simpática, um pouco envergonhada, algarvia de gema. O nome “Cabrita” é tipicamente algarvio.
Quis o destino que viesse a conhecer o meu marido, micaelense, na altura em que estudava em Lisboa. Mudei-me para este pequeno paraíso, São Miguel, de vez, em 2009. Em 2014, fui mãe da princesa da casa, a Sofia.

Como surgiu o conceito do “Caras Felizes”?
Com a minha filha Sofia, a minha luz. Desde pequena que quer ver os outros com ‘caras felizes’. Ela adora celebrar tudo, fazer os outros felizes. Tinha ela 3 aninhos, estávamos com os nossos compadres, que vieram do Algarve para nos visitar e ela salta-se com um: “todos aqui, todos felizes, caras felizes”. E o nome ficou-me na cabeça. Espalhar sorrisos como ela, através do meu trabalho, com peças diferentes, únicas. Fazer com que a pessoa que recebe se sinta especial e única, são os objectivos.
 Os feedbacks dos clientes têm sido muito bons. Confesso que, por vezes, até fico emocionada com as palavras dos mesmos. Também são eles que me motivam para continuar.
Mesmo que haja alguns designs que repita, a mesma peça nunca será igual a outra, pois são feitas à mão, e as mãos não são “fotocopiadoras”.

O porquê da porcelana fria? Como emergiu a paixão pela mesma?
Ainda hoje sorrio quando penso como tudo começou.
É preciso dar um pequeno contexto. A vida dá muitas voltas e quando vim em 2009 para São Miguel tive de me adaptar. Trabalho na área da minha licenciatura  em Estudos Portugueses/Espanhóis, não havia. Num breve resumo, entre programas de emprego, num deles, fui trabalhar para Casa do Povo de Água de Pau, um beijinho a toda a extraordinária equipa.
Lá, juntamente com a equipa de monitoras, entre outras funções, dávamos atelier de culinária. Entretanto o meu marido ia fazer 39 anos e resolvi fazer-lhe um bolo em forma de camisa. Foi o início. Saiu-me bem melhor que eu esperava. Pensei, afinal, até tenho jeito para a coisa, para modelar. Depois, apareceu a vertente de ‘cake design’ na Casa do Povo e fui aprimorando técnicas de modelagem.
Aqui surgiu a paixão de modelar. Fui também incentivada pelas minhas colegas, que me diziam que deveria investir num material que durasse mais do que a pasta de açúcar. Foi assim que descobri a porcelana fria. É um material maravilhoso, extremamente versátil e duradouro.
Quando terminei o último programa de emprego na Casa do Povo, achei que estava na altura de dar o “salto”. Criei meu próprio emprego, artesanato personalizado em porcelana fria, com os apoios destinados à criação do próprio emprego, com registo da marca portuguesa Caras Felizes, em 2019.
Que tipos de material utiliza nos seus trabalhos? Em que consiste a linha técnica utilizada nos mesmos?
A porcelana fria é extremamente versátil. Vem num bloco, tipo o da pasta de açúcar. Depois é preciso misturar tintas, estruturar e modelar. Modela-se a porcelana fria por fases, pois seca ao ar e encolhe. Depois aplica-se os restantes materiais.
Raramente uso apenas porcelana fria nos meus trabalhos. Desde madeira, acrílico, molduras, canecas ou mesmo peças de bijutaria. Pode ser utilizado mil e um materiais. É questão de visitarem a página para verem os diferentes tipos de trabalho que já fiz.

O que o inspira para a criação dos seus trabalhos?
A inspiração está em tudo. Não são raras a vezes em que vou apenas comprar algo banal, vejo determinado artigo e penso “e se fizesse assim?”.
Depois, com o passar do tempo, também tenho clientes fiéis. Tenho alguns que me dão “carta-branca” para criar, confiam no meu trabalho. Alguns já são mais do que clientes, já são amigos. Sou grata por todos os que se têm cruzado no meu caminho.

Que tipos de peças produz? Destaca alguma peça, em particular ou todas detêm um significado diferente e distinto?
Todas são especiais. Depois há picos de trabalho. Faço de tudo um pouco. Desde estatuetas, topos de aniversário, de casamento, a brincos.
No entanto, há duas que destaco. A primeira são as peças de design exclusivos colares/brincos família, da página. São micro detalhes personalizados. É a capa da página. Não há muitas pessoas, a nível nacional, que façam este tipo de micro detalhes em trabalhos.
Depois há uma estatueta em especial que destaco. Um topo de aniversário do Joker e Harley Quinn. Esta marcou-me porque terminei-a, depois de ter estado de baixa por causa de uma cirurgia, algo urgente, no inicio deste ano. Tem imensos detalhes. Quando a terminei, pensei…”fui eu que fiz isto?”. Era capaz de ficar horas a admirar todos os detalhes. À medida que me desafiam para fazer certos trabalhos, é muito encorajador e fico muito orgulhosa dos resultados.
Detém, trabalhos direccionado para o Natal. A procura por parte destas peças, nesta época do ano, tem vindo a aumentar?
Normalmente os trabalhos de Natal que aparecem na página, já são pedidos. Tenho clientes coleccionadores de presépios, por exemplo. Quando aparece um novo, já foi feito para determinado cliente. Mas sim, há sempre mais pedidos nesta época. Felizmente há cada vez mais pessoas a quererem oferecer algo diferente, personalizado também.

Visto que nos encontramos na época, considerada por muitas pessoas, como a mais mágica do ano, o que representa para si o Natal? E qual a sua memória preferida?
Família. Sem dúvida nenhuma, é sinónimo de família. A minha memória favorita desta época é a da manhã de Natal na casa dos meus pais, no Algarve, a descer as escadas com os meus irmãos para irmos para a brincadeira, abrir presentes. Toda aquela azáfama de preparar as comidas tanto para a noite, como para o dia a seguir. Desde que a princesa da casa nasceu, só consegui ir uma vez passar o Natal com eles.

Faz trabalhos somente por encomenda ou já podemos encontra-los à venda em alguma loja?
A esmagadora maioria das minhas peças são encomendas particulares que vão para o continente. Tenho alguns clientes locais e alguns no estrangeiro. Mas, de momento, não há artigos em lojas. Há umas peças que fizeram parte numa exposição numa loja do continente. Localmente, está em ‘stand by’, enquanto não há abertura ao público, uma parceria com uma quinta.
Já fui contactada muitas vezes para revenda dos meus produtos. No entanto, ainda não aconteceu encontrar as parcerias certas nesse sentido.
Com produtos altamente personalizados, é extremamente difícil isso acontecer. Dou exemplo de uma moldura. O valor com uma figura, será diferente de uma com 2 figuras. Depois, há a questão de valores. Ao preço que os materiais estão, não posso baixar muito o meu valor de venda, para depois alguém revender e só eles terem lucro, sem terem tido o trabalho e custo de produção das peças. Seria estar a pagar para trabalhar.
Como a maior parte dos portugueses, há contas para pagar. Também não posso fazer muitas peças, para estarem paradas, na eventualidade de alguém ficar interessada nelas. Os materiais custam dinheiro, principalmente a porcelana fria. Vivendo em São Miguel, facilmente os valores disparam quando tenho de mandar vir de outras lojas nacionais, por causa do peso. Razão pela qual não tenho participado em feiras.
No entanto, se alguém estiver interessado em ter em loja algumas peças minhas, estou sempre disponível para conversar.

O que representa para si o Caras Felizes?
É mais do que um simples trabalho. Já faz parte de mim. Também é altamente terapêutico a modelagem. Não dou pelo tempo a passar.

Quais são as suas expectativas para o futuro?
Gostava muito de continuar a trabalhar no que faço, por muitos anos. Vejo muitas colegas a terem de desistir de fazer artesanato. Por vezes, é difícil competir com artigos feitos de fábrica, cujos custos não têm nada a ver com os custos de quem faz manualmente.
Também gostaria de interagir, pessoalmente, com mais pessoas, na vertente ensino.
Estou a pensar começar a dar pequenos ‘workshops’ temáticos, quem sabe, já este Natal.

por Ana Catarina Rosa
*jornal@diariodosacores.pt

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