Retábulos das Naves e Baptistério na Igreja  de Nossa Senhora da Saúde
Creusa Raposo

Retábulos das Naves e Baptistério na Igreja de Nossa Senhora da Saúde

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Patrimonium Nostrum

Nas naves laterais da Igreja de Nossa Senhora da Saúde, na freguesia de Arrifes, marcam presença dois retábulos de composição muito semelhante, que me atrevo a afirmar, nitidamente de influência rocaille. São no geral retábulos mais simplificados, menos aparatados que os das capelas principais, e no lugar da talha profusa surgem delicados ornatos dourados sobre um fundo claro. São retábulos com configurações mais alongadas, concebidos como móveis independentes e colocados nas paredes brancas.
O altar na nave da direita encerra a imagem de Nossa Senhora de Fátima, ladeada pelos pastorinhos: São Francisco Marto e Santa Jacinta Marto. A imagem da Virgem foi oferecida por emigrantes, aquando do encerramento do culto em Fall River, da igreja portuguesa de Nossa Senhora de Fátima em 2011. Anteriormente suportava uma imagem feminina ao centro, de Santo Antão e de Santo António nas laterais.
O altar na nave da esquerda encela um painel preenchido com a representação figurativa da Sagrada Parentela em pintura e em alto-relevo. Representa a família de Jesus com Maria, S. José, seus avós maternos: Santa Ana e São Joaquim e ainda Deus, o Espírito Santo e os coros celestiais. Exibe características barrocas realçadas pelas vestes douradas, pequenos puttis e teatralidade dos rostos. O ático é coroado por uma gárgula, ladeado por dois pequenos pináculos nas ilhargas, e decorado com sanefas em ambos os retábulos. De ornamentação simples a cartela exibe concheados e elementos vegetalistas e ao centro palmeiras e uma flor na nave direita, enquanto que na esquerda possui uma coroa. A restante decoração dos áticos compõe-se por elementos vegetalistas, concheados, flores, volutas e rocailles. As cornijas são lisas e douradas acompanhadas por fustes lisos e brancos. Os nichos do retábulo da nave direita não possuem baldaquino, mas o principal é emoldurado por elementos curvilíneos. Ostentam pedestal que interrompe o entablamento. As estípites do mesmo retábulo ladeiam os nichos, delimitando o retábulo em três vãos. São decorados com douramento insinuando volutas e flores, rematadas por um capitel de inspiração coríntia. O retábulo da nave esquerda também possui estípites, mas em menor número e menos escultóricas. Sobressaem as flores e a ausência de capitéis. A predela do retábulo acima referido é decorada com formas geométricas ostentando pequenas rosetas e rocailles. O seu congénere ainda usufruiu de mísulas e igualmente de rocailles. Os altares de formato triangular apresentam-se como os restantes, vazios e em branco, mas é possível que fossem detentores de alguma decoração ou inscrição e ainda de pintura nos tons clássicos do rococó: azul e rosa.
No lado esquerdo inferior do templo encontra-se o baptistério antecedido por um arco de volta perfeita que é protegido por um gradeamento. Ao fundo possuí vitrais coloridos ocultos na sua maioria por um retábulo de inspiração rococó, oferecido, segundo o Pe. Daniel Correia, por Fortunato Soares de Melo, que anteriormente adornava o palacete setecentista da família Jácome Correia, na actual escola Roberto Ivens. Afirma ainda que o nicho continha a imagem de uma pietá de barro e que foi encomendado um quadro propositadamente, mas não foi possível apurar esta informação, dado que o Livro de Tombo anterior a 1950 se encontra desaparecido. O facto é que o pintor micaelense Domingos Rebelo executou uma obra em 1939, apelidada de “Quadro das Almas” e que a partir desta data esteve presente no centro do retábulo. Hoje o nicho está ocupado por uma cruz, com a intenção de “harmonizar”, dado que os vários sacerdotes e zeladores não o consideram adequado para o baptistério. Esta substituição foi feita pelo Concelho Económico no início dos anos 2000, onde consideraram o quadro fora do contexto. É necessário dignificar esta obra e não poderá ser feito mantendo-a no desconhecimento, nem no arquivo ou no chão atrás de uma porta na zona de arrumos, como foi encontrada no decorrer desta investigação. Acredito que deve regressar ao baptistério ou que seja incorporada no interior do templo.
O retábulo do baptistério apresenta características simplificadas com decoração a dourado, destacada pelo colorido das pinturas marmoreadas a bege e verde. O ático é coroado no tímpano por um resplendor que rodeia um triângulo. A restante decoração do coroamento compõe-se por folhas, ramos e flores, rosetas, rocailles, um laço ao centro que se interliga com um festão de flores, e é ainda coroado por uma concha. As cornijas são lisas e douradas, enquanto o friso é marmoreado em tons de bege e castanho. Nos extremos as cornijas suportam pináculos que insinuam vasos de flores com folhas de açucenas caídas. As estípites do retábulo não apresentam capitel e são decoradas com douramento, assumindo formas de folhagem e flores, sob um marmoreado verde. Os vãos são marmoreados em bege e com uma palmeira dourada de dimensões consideráveis. Ao centro o entablamento é interrompido por um nicho encaixilhado numa moldura dourada. A predela apresenta-se de ornamentação simples com folhas, flores, rosetas, volutas e ao centro um elemento rocaille que ganha destaque pela sua natureza híbrida, misturando concheados, volutas e flores. O frontal é ornamentado por pintura marmoreada em tons de bege, verde e castanho. O altar é decorado por um douramento com volutas pronunciadas e ao centro por um elemento rocaille. O tecto detém uma pintura em tons de bege, dourado, azul e rosa. Ao centro a moldura exibe uma pomba em voo. O centro do baptistério possui a pia baptismal em pedra. Nas laterias um nicho da mesma matéria sustenta uma coroa do Espírito Santo (à direita) e exibe uma cartela de mármore (à esquerda), alusiva ao Cardeal D. Humberto de Medeiros, natural desta localidade.

In “ARRIFES: DETENTORES DE PATRIMÓNIO CULTURAL?”.

Este texto não segue o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.

* Licenciada em Património Cultural e mestre em Património, Museologia e Desenvolvimento pela Universidade dos Açores/ Sociedade Ibero-Americana de Antropologia Aplicada

 

 

 

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