Responsabilidade em tempos  de COVID19
Mário Freitas

Responsabilidade em tempos de COVID19

Previous Article Previous Article A Alfândega na Ribeira Grande e o grande João Albino Peixoto
Next Article Alternativa ao Socialismo: Um imperativo nacional Alternativa ao Socialismo: Um imperativo nacional

Conversas pandémicas (79)

1. Anos de vida perdidos

Desde o aparecimento do SARS-CoV-2, que as medidas de saúde pública utilizadas, para minimizar o impacto da pandemia covid-19, variaram substancialmente, entre os vários países.
Estas medidas políticas afetaram muitos determinantes sociais e económicos da saúde, incluindo a acessibilidade aos serviços de saúde. O impacto geral da pandemia, e as medidas políticas associadas, têm implicações para a mortalidade, para além das mortes por covid-19 - cuja precisão é questionada em muitos países.
Os dados sobre todas as causas de mortalidade são considerados indicadores fiáveis do impacto da pandemia da covid-19, porque são menos sensíveis a erros de codificação, riscos concorrentes e o potencial de classificação incorreta na designação da causa da morte e, como tal, permitem comparações entre países. Embora o indicador “mortes em excesso” tenha sido considerado o método ideal para medir o impacto da pandemia, esta métrica não leva em consideração a idade no momento da morte.
Quando as pessoas morrem em idades mais altas, perdem menos anos de vida. A análise da esperança de vida e dos anos de vida perdidos (YLL) fornece uma estimativa da mortalidade prematura, ao nível da população.
A esperança de vida, uma medida de mortalidade amplamente usada, indica quanto tempo, em média, as pessoas ainda podem esperar viver, se as taxas de mortalidade específicas por idade, naquele ano, permanecerem constantes, o resto das suas vidas. O YLL leva em consideração as distribuições de mortalidade por idade, atribuindo maior peso às mortes que ocorrem em idades mais jovens.
Existe uma diferença importante entre a esperança de vida e YLL. Enquanto a esperança de vida é uma medida padronizada com base numa coorte de tábua de vida hipotética, o YLL é calculado a partir do número de mortes observadas em populações reais. Portanto, a esperança de vida depende apenas da mortalidade, ao passo que o YLL depende da mortalidade e da estrutura etária da população.
Já sabíamos que a pandemia levou à redução da esperança de vida nos Estados Unidos, Inglaterra e País de Gales, e Espanha.
O estudo “Efeitos da pandemia de covid-19 na esperança de vida e mortalidade prematura em 2020: análise de séries temporais em 37 países” (publicado no BMJ, a 3 de novembro de 2021) documenta as mudanças na esperança de vida ao nascer e o excesso de YLL, por todas as causas em 2020, comparando a esperança de vida observada e os YLL, em 2020, com os que seriam esperados com base nas tendências históricas em 2005-19, em 37 países desenvolvidos.
A redução na esperança de vida, em homens e mulheres, foi observada em todos os países estudados, excepto na Nova Zelândia, Taiwan e Noruega, onde houve um aumento da esperança de vida, em 2020.
Nenhuma evidência de alteração na esperança de vida ocorreu na Dinamarca, Islândia, e Coréia do Sul.
A maior redução na esperança de vida foi observada:
na Rússia (homens: -2,33, intervalo de confiança de 95% -2,50 a -2,17; mulheres: -2,14, -2,25 a -2,03),
Estados Unidos (homens: -2,27, -2,39 a  -2,15; mulheres:  -1,61, -1,70 a  -1,51),
Bulgária (homens: -1,96, -2,11 a -1,81; mulheres: -1,37, -1,74 a -1,01),
Lituânia (homens:  -1,83, -2,07 a -1,59; mulheres: -1,21, -1,36 a -1,05),
Chile (homens: -1,64, -1,97 a -1. 32; mulheres:  -0,88,  -1,28 a  -0,50) e
Espanha (homens: -1,35, -1,53 a -1,18; mulheres: -1,13, -1,37 a -0,90).

Os anos de vida perdidos em 2020 foram maiores do que o esperado em todos os países, excepto em Taiwan, Nova Zelândia, Noruega, Islândia, Dinamarca e Coreia do Sul.
Nos restantes 31 países, mais de 222 milhões de anos de vida foram perdidos em 2020, o que é 28,1 milhões (intervalo de confiança de 95% de 26,8 milhões a 29,5 milhões) de anos de vida perdidos mais do que o esperado (17,3 milhões (16,8 milhões a 17,8 milhões) em homens e 10,8 milhões (10,4m a 11,3m) em mulheres).
O maior excesso de anos de vida perdidos por 100.000 habitantes foi observado:
• na Bulgária (homens: 7260, Intervalo de confiança de 95% 6.820 a 7.710; mulheres: 3730, 2740 a 4730),
• Rússia (homens: 7020, 6550 a 7480; mulheres: 4760, 4530 a 4990),
• Lituânia (homens: 5430, 4750 a 6070; mulheres: 2640, 2310 a 2980),
• EUA ( homens: 4350, 4170 a 4530; mulheres: 2430, 2320 a 2550),
• Polónia (homens: 3830, 3540 a 4120; mulheres: 1830, 1630 a 2040) e
• Hungria (homens: 2770, 2490 a 3040; mulheres: 1920 , 1590 a 2240).
O excesso de anos de vida perdidos foi relativamente baixo em pessoas com menos de 65 anos, exceto na Rússia, Bulgária, Lituânia e Estados Unidos, onde o excesso de anos de vida perdidos foi superior a 2.000 por 100.000.
O estudo conclui que mais de 28 milhões de anos de vida foram perdidos em 2020, em 31 países, com uma taxa maior em homens do que em mulheres. O excesso de anos de vida perdidos associados à pandemia de covid-19 em 2020 foi mais de cinco vezes maior do que os associados à epidemia de influenza sazonal, em 2015. Não, isto nunca foi uma gripezinha.

2. Os surtos de COVID19, em locais públicos

Um surto de covid-19 em Montemor-o-Velho, obrigou ao encerramento de vários edifícios municipais, após propagar-se a grande velocidade.
O presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, Emílio Torrão, disse ao Notícias de Coimbra (NDC) que “as autoridades de saúde acham altamente eficaz a forma de contágio do vírus, ou seja a velocidade com que propagou no espaço de dias e horas”.
“Não tínhamos tido nenhum contacto com nada semelhante, o que motiva o pedido que foi feito pelas autoridades de saúde da análise da própria estirpe com que estamos a lidar. Na verdade já tivemos vários surtos, mas nenhum com esta rapidez e com esta abrangência tão grande em tão pouco tempo”, frisou o autarca.
Segundo a autarquia, “na passada sexta-feira foi detectada uma situação de particular vulnerabilidade epidemiológica nos serviços municipais, que se agravou exponencialmente”, atingindo rapidamente mais de 20 casos.
A Câmara ativou o plano de emergência municipal, de modo a conter a propagação do vírus no concelho, mantendo-se “em permanente contacto com as autoridades de saúde locais que recomendam, de forma urgente e imperiosa, a implementação de medidas preventivas e cautelares que diminuam drasticamente os contactos sociais ou outros de todos os colaboradores e utentes do município”.
Foi, assim, decidido o encerramento temporário do edifício dos Paços do Concelho, com a suspensão do atendimento presencial, passando o mesmo a ser efetuado exclusivamente por telefone e meios digitais. Também os edifícios municipais do Centro de Alto Rendimento, da Biblioteca, do Arquivo Municipal, do BUPI e do Pavilhão Municipal foram encerrados temporariamente.

3. Vacinar é fundamental

Num estudo publicado em
https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/70/wr/mm7044e1.htm, o CDC faz a análise, em vários Estados, das hospitalizações por doença semelhante a COVID-19 em adultos com idade ≥18 anos durante janeiro-setembro de 2021, cuja infecção ou vacinação anterior ocorreu 90-179 dias antes, e concluiu que a probabilidade de contrair COVID-19, confirmado por laboratório, foi maior entre os não vacinados, e em pacientes previamente infectados, do que nos que foram totalmente vacinados com 2 doses de uma vacina de mRNA COVID-19, sem registo prévio de infecção por SARS-CoV-2.
Os resultados são consistentes com a evidência de que os títulos de anticorpos neutralizantes após 2 doses de vacina de mRNA COVID-19 são altos.

4. Irresponsabilidade

É irresponsável que um profissional de saúde, no seu dia-a-dia, não use os EPI adequados. Apetece dizer criminoso, mas irresponsável é mais simpático. Um profissional de saúde, neste período de crise sanitária, constitui a linha da frente desta guerra. Ao não usar as armas adequadas para este combate põe em risco toda a comunidade. Já falei aqui sobre isto, mas repito.


*Médico graduado em Saúde Pública e Delegado de Saúde

Share

Print

Theme picker