‘Plant based’: como o nosso garfo afecta as mudanças climáticas
Marisa Furtado

‘Plant based’: como o nosso garfo afecta as mudanças climáticas

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A reversão das alterações do clima também passa pela alimentação.
Patrick O Brown, ou simplesmente Pat Brown, é um dos ferrenhos defensores da comida plantbased, aquela que é feita à base de proteína vegetal.
E não é tão simples compará-lo a outros CEOS da indústria de Alimentação.
Mais do que um expoente do Vale do Silício, apaixonado pelo que faz, é PHD, professor, biólogo, cientista e pesquisador formado pelas melhores universidades do mundo.
Agora está à frente da ImpossibleFoods, empresa que se dedica a uma nova dietética, em que o bem do ecossistema vem antes mesmo do bem de seus próprios consumidores.
Brown defende que a redução da criação extensiva de animais é a saída contra o aquecimento global: “a tecnologia que mais destrói o meio ambiente são as tecnologias usadas na indústria da alimentação, mais especificamente na agroindústria”.

Alternativas à proteína animal

 Na opinião do especialista, é urgente encontrar alternativas que substituam a proteína animal antes que toda a biodiversidade seja destruída.
Essa foi a sua motivação para ter migrado da academia e fundar sua própria empresa, tratando a ImpossibleFoods como o seu trabalho dos sonhos.
Em escala direta da Web Summit para Glasgow, Brown adiantou o alerta que faria na COP26: “estamos focados em diminuir a emissão de gases prejudiciais e a pegada de carbono, que serão reversíveis se tomarmos as devidas providencias à tempo. Mas do que nunca se fala, é do impacto do agro em termos dos resíduos fósseis, que não podem ser regenerados, duram para sempre. Se a emissão de carbono for neutralizada até 2100, ainda assim, pouco da biomassa será recuperada”.
É por isso que Brown não se dá o direito de falhar.
A promessa é de que lançarão o máximo de produtos que puderem para competir com a comida à base de proteína animal.
O crescimento da ImpossibleFoods tem uma meta alta, mas está mais ligado à causa do que ao resultado de vendas: dobrar de tamanho a cada ano, nos próximos 15 anos.
 O desafio maior em vencer a resistência ao plantbased não é o preço mais baixo, ou a saudabilidade ou a sustentabilidade.

Uma prova cega

O que mais influencia o consumidor na compra dos produtos plantbased é que seja delicioso, que tenha aquele sabor habitual e reconfortante da carne, uma sensação única na cadeia de alimentos.
Neste sentido, um paradoxo importante surgiu recentemente nos Estados Unidos, a partir de um teste às cegas, entre consumidores de chickennuggets.
Venceu a versão plantbased.
E o mais intrigante é que os degustadores afirmaram que o nugget à base de vegetais tinha mais sabor de frango do que o original.
Então tudo é sensorial.
E comer de forma mais consciente está tomando importância em alguns países.
Falando na geografia da indústria plantbased, fica evidente que alguns continentes e nações estão mais abertos à essa proposta como Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos, Singapura e Hong Kong.
A barreira em entrar na Inglaterra e na União Europeia deve-se a um novo ingrediente que ainda não está regulado por autoridades sanitárias, demonstrando que a mudança na alimentação vai além do simples paladar.

Uma visão fora da caixa

A previsão é de que a aprovação aconteça até meados de 2023 e assim a Impossible Foods pretende atuar em todo o mundo, provavelmente como uma companhia pública, “mais democrática”, segundo Brown.
Sobre o surgimento de mais competidores no mercado de plantbased, a visão do CEO também é fora da caixa: “eu não quero concorrer com nenhum deles, quero que eles sejam bem sucedidos. Nós não estamos competindo entre nós, mas sim contra a indústria da carne.”
Rebatendo críticas de que o processo de produtivo da ImpossibleFoods também é prejudicial ao meio ambiente, Brown relatou que seus produtos exigem 125% menos área agriculturável, 80% menos água e em torno de apenas 10% dos fertilizantes, quando comparados à atividade da agropecuária.
O impacto final é infinitamente menor.
“Historicamente a gastronomia é a combinação perfeita entre ciência e ingredientes em busca do sabor. Alguns consumidores acham que temos muitos ingredientes em nossos produtos, no entanto, um só componente da carne pode ter mais de mil formulações invisíveis para e chegar àquele resultado.”
Interessante como a fala de Pat Brown saiu muito mais em defesa de um propósito do que da Impossible Foods.
Esta tem sido a fórmula do sucesso dos chamados Unicórnios, startups que rapidamente se valorizam em bilhões de Euros na nova economia.
Vender é só consequência de uma boa história.

Filet-mignon à base de vegetais

 A Juicy Marbles, outra representante bastante emblemática, esteve presente no palco Q&A da Web Summit, onde os participantes fazem as perguntas.
 O co-fundador, Vladimir Mickovic tentou elucidar os mistérios de seu filet mignon à base de vegetais e soja, mas não abriu o jogo.
Apesar de ainda não estar à venda, o bife verde empolgou quem provou e promete ser uma carne vegana premium, tanto pelo sabor como por sua textura “marmorizada”, que imita a gordura da proteína animal e, segundo Mickovic, é o maior diferencial da startup.
Assim a comida começa a ganhar foco nas discussões sobre o clima e não pode mais ser renegada nos assuntos tech da Web Summit.
Assume o seu posto de tecnologia-chave para o futuro do ser humano, da sociedade e do planeta.
Pela primeira vez, o catering servido aos convidados e palestrantes contou com o estrelismo de chefs dos mais aclamados restaurantes de Portugal.
Centenas de estudantes e talentos excepcionais serviram no backstage o melhor das iguarias locais.
O CEO da cimeira, Paddy Cosgrave declarou o seu encantamento absoluto sobre a cozinha portuguesa com certeza, a comida de verdade.
Sem economizar no entusiasmo, a grand finale ficou com a declaração da Secretária de Estado do Turismo Rita Marques: “os negócios fluem melhor em torno da boa mesa”.

(*) Exclusivo para Diário dos Açores/Marisa Furtado é jornalista no Brasil, autora e apresentadora de programas televisivos. É descendente de famílias açorianas.

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