A ilha do futuro
Andreia Melo

A ilha do futuro

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Embaixadores do Azores 2027

A partir de hoje, o “Diário dos Açores” passa a publicar, regularmente, artigos da autoria dos Embaixadores do Azores 2027 - Ponta Delgada Capital Europeia da Cultura. A estreia fica à conta da Embaixadora de S. Jorge, Andreia Melo.

 

Explicar a uma criança de meia dúzia de anos a candidatura Azores 2027 é o mesmo que fazer uma previsão de um futuro longínquo. Afinal, para a maioria destes pequenos seres, 2027 vai demorar mais a chegar do que as voltas que já deram ao sol na sua tenra vida, e por isso mesmo foi um desafio e pêras!
Em 2027 eles já vão “ser grandes” adolescentes, e, esperemos nós, grandes seres humanos.

Ao longo de uma semana, desafiei mais de 7 dezenas de crianças da Misericórdia das Velas a fazerem uma previsão reflexiva da sua “ilha do futuro”, refletir sobre que S. Jorge queremos para quando formos grandes e de que modo é que podemos garantir um futuro brilhante para os próximos jovens desta ilha.
Brilhante mesmo foi ver a forma como se dedicaram a participar, com um sentido de cidadania bem mais aguçado do que muito adulto que se vê por aí.
Nenhum se negou a participar, todos estavam ansiosos por ter algo a dizer, oxalá se mantenham assim!
Basicamente, através de um simples cartaz com S. Jorge desenhado ao centro, todos se apressaram a colocar um ou outro cartão com uma ilustração do que gostavam que na sua ilha acontecesse de novo, ou continuasse a acontecer, de modo a garantir uma vida bem preenchida. Foram várias as surpresas.
O primeiro cartão de todos, das 4 salas abordadas, tinha uma imagem cheia de livros! Gerou-se o debate: afinal para que são os livros tão importantes para uma criança tão pequena?
“Porque têm histórias, e eu gosto de histórias, e, além disso, é com os livros que aprendemos a ler.”
Contudo uma colega de 4 anos contestava que não gostava dos livros, mas gostava das histórias.
Eu e as adultas da sala tivemos de nos debruçar sobre a explicação que as histórias que se contam ou que se ouvem no youtube também vivem nos livros, e que, sem eles, elas desaparecem.
No geral, os cartões mais “negros” do leque foram deixados para canto: os que tinham poluição, lixo, incêndios, pessoas doentes ou inundações.
No entanto, mais do que uma criança, talvez meias dominadas pelos media e pelas notícias que se fazem ouvir sobre La Palma, ou até pelos desenhos animados ou algum sentimento mais “escuro”, que colocaram um vulcão em erupção mesmo no meio da cena.
 Contudo, desastre total seria se esse vulcão levasse as suas cabrinhas ou a sua casa, e assim, quando se aperceberam da dimensão da catástrofe, acharam melhor deixar os vulcões a dormir mais uns anos, garantindo que as nossas vidas permaneçam no sossego habitual.
Em todas as salas houve uma criança consciente com a necessidade de colocar, sem qualquer dúvida, um hospital!
Não é preciso “ser grande” para perceber que precisamos todos de cuidados de saúde decentes e de um lugar apropriado para nos irmos tratar quando estamos doentes.
Pode ser coincidência, mas vejamos o estado do nosso Centro de Saúde de Velas!
Entre o circo, a música, o teatro e o museu… houve uma criança que me repreendeu, 3 anos de desenvoltura: “Andreia, esqueceste-te da dança!”
É verdade, no meio de tantos cartões esqueci-me de colocar um com a dança, e isso é demasiado fixe e divertido para ser esquecido.
Prometo, da próxima não me esqueço, e no Azores 2027 também não se vão esquecer.
Na verdade, estas experiências são a maior gratificação de ser-se embaixadora de um projeto como o Azores 2027, e o meu desejo é que nenhum sentimento e ânsia destes humanos caia nesse temido esquecimento.
Não deixemos o assunto para 2027, a ilha do futuro tem de ser construída a partir de hoje, e devemos começar já a garantir que vamos todos ter uma ilha limpa, de gente saudável e feliz, como todos nós, um dia, na nossa infância, também desejámos.

 

*Andreia Melo, nasceu a 3 de Agosto de 1992 na Vila das Velas, na ilha de S. Jorge, ilha onde reside atualmente.
Desde cedo que participou em projetos culturais locais, desde filarmónicas, escuteiros e grupo de teatro. De 2010 a 2013 licenciou-se em Teatro, variante Interpretação na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Instituto Politécnico do Porto.
Desde 2013 que é professora de Expressão Dramática na Santa Casa da Misericórdia da Vila das Velas, onde desenvolve projetos artísticos com as crianças das várias valências. Em paralelo ocupa-se do Grupo de Teatro da Misericórdia das Velas que funciona em pós laboral envolvendo os funcionários e a comunidade. Em 2020, nessa instituição escreveu o seu primeiro livro em parceria como então Provedor Frederico Maciel - “O Milho - O Cultivo de uma Cultura”.
Conta também com a organização, escrita e produção de diversos bailinhos de Carnaval e Marchas Oficiais da Semana Cultural, trabalhos efetuados para o Município de Velas.
Trabalha como atriz com a Companhia de Teatro Cães do Mar na ilha Terceira.
Em simultâneo é Presidente, fundadora e encenadora da Associação Grupo de Teatro Iuventute Virtutis, um grupo de teatro jovem na vila das Velas.
Paralelamente desenvolve diversos workshops de Teatro em variadas instituições, destancando-se o trabalho efetuado para o Museu Francisco de Lacerda e o Museu da Graciosa.
Desde 2013 que conta com dezenas de projetos teatrais da sua autoria que já circularam pelo Pico, Graciosa, Terceira e S. Miguel.
Atualmente é embaixadora da ilha de São Jorge da candidatura Azores 2027 - Ponta Delgada Capital Europeia da Cultura.

 

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