Chega André, adeus!
Rodrigo Rodrigues

Chega André, adeus!

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As declarações bombásticas de André Ventura, exigindo ao Chega nos Açores, que é como quem diz ao deputado José Pacheco, que retire a confiança ao governo regional de coligação, fazendo cair já na próxima semana o acordo parlamentar assinado por ambas as partes, despoletou grande azáfama política na Região, mas também na capital do reino, claro.
Vejo que todos estão muito ofendidos e preocupados com aquilo que tem sido considerado um assalto à autonomia regional por parte de Ventura, o que é que esperavam?
Não partilho dessa visão generalizada, que sendo correta do ponto de vista político, pois é óbvio que Ventura manda e desmanda no Chega regional, já o tinha mostrado com Furtado. Mas também me parece óbvio que nos vai resolver um problema nos Açores. Sim, com esta atitude, Ventura acabou com o que restava do Chega, que era pouco mais do que o deputado Pacheco.
Hoje, José Pacheco terá os seus 10 minutos de fama nacional quando der a tão anunciada conferência de imprensa, e das duas uma: ou, como julgo que vai acontecer, apresenta uma série de cedências por parte do GRA na proposta de orçamento a debater e votar na próxima semana, fazendo-nos acreditar que está em linha com o acordo assinado, contrariando assim o seu líder nacional, que se vê desautorizado na opinião pública, em período de pré campanha nacional, deixando assim passar o orçamento, ou, por outro lado, segue as indicações, ou exigências, do seu líder nacional chumbando o orçamento.
Em qualquer dos casos, terminados esses 10 minutos de fama, termina também a carreira política de Pacheco nos Açores, poderá eventualmente prosseguir ao lado dos eu líder nacional. Se Pacheco seguir o líder, chumbando o OR, o Chega vai ser altamente penalizado no próximo dia 30 de janeiro, quer a nível nacional como regional, mas principalmente por aqui, os açorianos não são estúpidos. Se contrariar Ventura, terá mais alguns momentos de fama, pois será visto como um defensor da autonomia regional e o seu máximo garante na próxima semana, andará contente e feliz durante alguns dias, até que André Ventura, enxovalhado na praça pública pela desautorização regional do Chega, numa altura em que este se preparava para um crescimento exponencial da Assembleia da República, o afaste compulsivamente do partido. Passaremos a ter então dois deputados do Chega, agora independentes, tendo a sua carreira política a duração exata desta legislatura por eles segurada, por cabelos finos, digo eu que não percebo nada de política. E com este triste episódio, acabou o Chega nos Açores, afinal resolvendo-nos um problema que o país ainda não conseguiu resolver.
O IL também foi protagonista nesta fase, embora de forma diferente, e até poderia vir a ser o grande protagonista da próxima semana, caso Pacheco deixe passar o OR, e Barata não. Seria um grande balde de água fria para o chega, para a coligação e para o próprio PS, que não está preparado para eleições regionais. Mas não vai acontecer porque o IL não quer complicações com o PSD, logo agora que pode chegar a governo da República em coligação pós-eleitoral. Pois é, e a autonomia e tal?
Sou dos poucos que acha que uma crise regional, que permita esclarecer sem equívocos o xadrez político atual, não seria assim tão problemática, e teria um único beneficiário, José Manuel Bolieiro. O PS não está preparado, Vasco Cordeiro até poderá sair já em fevereiro para a AR, deixando em aberto a disputa regional pela liderança, sem que se conheça alguém que o substitua a tempo de enfrentar o PSD. O Chega perde os dois deputados, e o IL poderá ganhar um deputado em São Miguel, mantendo um pela compensação. O PPM e o CDS, depende.
A grande questão que se coloca, é como o PSD deve ir a esse confronto, que é apenas académico e fruto de uma imaginação fértil. Fazendo uma análise após um ano das eleições, tiro algumas ilações: O povo deu um cartão alaranjado ao PS, por todo o desgaste de 24 anos de governação, isso é inequívoco; e não votou nesta solução de governo, de todo. Então que nos esclareça o povo, perante esta realidade política, o que pretende.
Se o PSD acreditar nesta coligação a 3 partidos, na forma e proporção como ela foi constituída e como transformou votos e mandatos em poder efetivo no GRA, então deve apresentar-se ao eleitorado assim, coligado, correndo os riscos inerentes. Ou pode o PSD querer recontar espingardas, indo a votos sozinho, deixando uma possível coligação para a contagem de deputados eleitos por cada partido, e constituindo um governo com os partidos da não esquerda que ainda existirem nessa altura, mas com uma proporcionalidade correta entre mandatos e presença no GRA.
Eu acho que José Manuel Bolieiro e o PSD ganhavam tudo com esta opção, mas compreendo que outros não estejam assim tão de acordo, até pelo que vai acontecer no dia 30 de janeiro.

* Empresário. Ex-Presidente da Câmara do Comércio e Indústria
de Angra do Heroísmo

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