“Descendentes” da violência doméstica
Jessica Pacheco

“Descendentes” da violência doméstica

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16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência Contra as Mulheres

 O “Diário dos Açores” associa-se, a partir de hoje, à “Campanha 16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência Contra as Mulheres - ano 2021”, promovida por UMAR-Açores, em parceria com diferentes entidades e que decorre entre 25 de Novembro, Dia Internacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres, até 10 de dezembro, Dia Internacional
dos Direitos Humanos.

 

Não nascemos com genes dos padrões patriarcais, mas eles encontram-se bem plasmados na nossa sociedade e cultura.
Nascemos e somos logo apresentados a normas de género bem definidas e que nos assombram toda a vida.
A vida da mulher é marcada pelo sacrifício, pelas dores que tem de suportar com a beleza, menstruação, parto, injustiças laborais, o trabalho extra voluntário como dona de casa, enquanto a vida do homem é marcada pela pressão de pertença ao grupo alfa, o chefe de família, o dominador, o antagonista da fraqueza.
Tudo isto é um rótulo cultural exigido, que nos ilude sobre um domínio que nos destrói.
É a luta por este domínio que gera violência, que se apresenta de diversas formas: física, sexual, emocional e psicológica. Todas elas são destrutivas e deixam marcas profundas na nossa sociedade.
É dentro de casa que o maior número de crimes acontece, não fosse a cultura do “entre marido e mulher não se mete a colher”.
A legislação tornou a violência doméstica um crime público, criando na sociedade o dever de denunciar estes casos e de certa forma nos levar a ter uma palavra e ação contra a violência, promovendo a sua eliminação.
Sabemos, no entanto, que o caminho para a salvaguarda dos direitos da vítima ainda continua a ter que ser percorrido.
A nossa luta feminista é fundamental para quebrar estas “descendências” de violência doméstica, que parecem passar de geração em geração, a permanecer ao longo do tempo e ainda hoje ser uma realidade demasiado presente.
E é preciso também lutar pelas mulheres de outros contextos, que nascem com padrões em que lhes são negados os seus próprios direitos, promovendo casamentos entre meninas e adultos, abusos sexuais, mutilações genitais, uma vida de clausura e submissão.
 Temos que ser a voz delas e não permitir que em nome do que quer que seja se continue a violar os seus direitos.
Em nome de muita coisa já se fez muitas atrocidades e como sociedade é nossa obrigação que não se permita que a his-tória se repita e continue a ser uma realidade.
A chave da mudança é a educação para a não-violência, para a importância da luta pelo feminismo e para a garantia dos direitos humanos.
Não existem genes dos padrões patriarcais e a sua transmissão quebra-se com a educação, com a partilha de responsabilidades individuais e coletivas, que promoverão a mudança que desejamos ver  no Mundo.
Sim, no Mundo, porque os direitos humanos não se resumem ao que nos é próximo, mas ao global, ao que é de todos e de todas!
Todos os dias são dias para se lutar pelo feminismo, pois até se alcançar uma verdadeira igualdade não conseguiremos ter descanso.
Pode parecer uma utopia, mas utopia é achar que viver desta forma é inevitável.

*Enfermeira

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