Baked Brasil
Creusa Raposo

Baked Brasil

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Uma designer de interiores formada na Escola de Belas Artes optou pela sua paixão e tornou-se confeiteira há doze anos. Um chef de cozinha pediu-a em casamento depois de se conhecerem na cozinha de um restaurante. Desta união nasceu a Baked Brasil.

 

Maíra e Rodrigo Castro dão vida ao projecto Baked Brasil para deliciar o nosso olhar e as nossas papilas gustativas ao confeccionar doces e salgados que logo à primeira vista nos chamam à atenção pelo seu detalhe e primor na apresentação.
O Diário dos Açores convidou-os a partilharem o seu dia-a-dia com os nossos leitores e dar-nos a conhecer os seus produtos.

O projecto surgiu mais concretamente em 2015 com “o intuito de trazermos os produtos brasileiros com influências portuguesas e açorianas”, dando prioridade aos produtos locais e “produtores rurais que são da terra onde a gente está”, conta a confeiteira.
Inicialmente tinham “um projecto onde cozinhávamos e dávamos aulas ao vivo. Fazíamos jantares fechados. A Baked foi surgindo conforme os lugares que fomos viajando e morando”, explica o chef.
“Eu ia estudar na Espanha e o Rodrigo ia fazer uma especialização. Com a pandemia nós aceleramos o projecto da Baked, e no meio do caminho encontramos algumas parcerias e por isso hoje fazemos também eventos como casamentos”, realça Maíra.
“Começamos com os brigadeiros mas também fornecemos doces e salgados para todos os tipos de eventos. Trabalhamos com os “Bem-casados” que são uma tradição do Brasil como lembrança de casamento, ou de aniversario e baptizado. É uma tradição forte no Brasil que temos trazido e está a ser muito bem aceite. Fazemos doces finos que são um pouco diferente do estilo dos doces daqui. Nas festas as pessoas têm usado um pouco dos dois”, contextualiza Rodrigo.
Rodrigo Castro revela que dividem as tarefas. “A Maíra trabalha mais com a parte de doces e pães e eu, mais com os salgados brasileiros mas com influências açorianas neste momento. Dividimos a parte da produção e de media. Por exemplo a Maíra cuida mais da parte da divulgação no Instagram e eu mais da gestão financeira e algum marketing. Às vezes partilhamos tarefas na cozinha mas a decoração é por conta dela”, ressalta. É também o casal que realiza as entregas. “Prezamos muito o contacto com o cliente. Para nós é fundamental. Falar, contactar, conhecer a pessoa. Um atendimento personalizado do início ao fim. Damos muita atenção ao pós-venda. Notamos que aqui as pessoas não estão habituadas. No Brasil é normal se fazer uma venda e depois retornar a saber o que a pessoa achou do produto”, declara Maíra.
Quanto aos produtos que confeccionam nos salgados utilizam queijos, chouriço, morcela e bacalhau.
Na doçaria “temos uma linha só dedicada aos Açores que já tem doces e salgados. Temos a colecção Portugal e a gama Brasil. Temos o salame de chocolate, o Dom Rodrigo, bolo de rolo que é património imaterial de Pernambuco. Nós adaptamos e usamos goiabada na forma tradicional. Aqui utilizamos marmelada em homenagem a Portugal. Fazemos com doce de ovos, com amêndoa, doce de leite”, relata Maíra.
“Focamos no bolo para o café, no bolo para a reunião familiar, o bolo para você oferecer a um amigo” e afirma que durante a pandemia surgiram os “mimos” por este motivo. “Atendemos muitos amigos que queriam estar próximos, e para estar próximo levava um brigadeiro, um bolo, enfim… iniciamos os outros produtos por isso. Surgiram assim as caixas mais elaboradas para presentes. O nosso intuito era ajudar às pessoas a demonstrar o seu carinho, como não se podia sair de casa, mas nós podemos levar por vocês”, destaca a confeiteira.
“Há um tempo começamos a ter muita procura dos bolos mais altos e recheados. Com o tempo começamos a trabalhar com os bolos mais elaborados e mais artísticos. Os clientes pediam muitas coisas e começamos a elaborar. Trabalhamos por exemplo com buttercream, ganache e recheio de chocolate”, salienta Maíra.
Quanto aos sabores dos brigadeiros gourmet, uma das suas especialidades, o casal confessa que têm mais de sessenta sabores e que são rotativos. “Da colecção Brasil temos brigadeiros de paçoca, farrofa de amendoim com açúcar, doce de leite, quindim, cocada, de chocolate, beijinho e cocada branca. Da gama de Portugal temos Dom Rodrigo, salame, doce de ovos, amêndoas, entre outros. Dos Açores temos brigadeiro de batata-doce roxa, queijada da Vila, queijada da Graciosa, de maracujá, queijo da ilha e banana. Fazemos também doces finos para casamentos, como o brigadeiro de capucho, brigadeiro de uva com creme de leite, a surpresa damasco e o caramelo salgado. Nos salgados temos as coxinhas de vários sabores, camarão capotado que é envolto de massa, empanado e frito. Nos Açores os preferidos são o brigadeiro créme brûlée, de Nutella, de pistáchio e chocolate”, salienta o casal.
O casal confessa que são priorizados o leite condensado, o chocolate, a marmelada, o leite condensado cozido, as frutas, em especial frutas vermelhas como ingredientes principais e que em termos de bolos o Red Velvet “é um dos que mais sai”, indica Rodrigo.
As receitas do casal têm como base receitas brasileiras do seu local de origem mas também são inspirados pela gastronomia açoriana. “Trabalhamos fazendo releituras da culinária regional que introduzimos nos nossos produtos, tal como os brigadeiros roxos que são feitos com a batata-doce roxa regional”, continua o chef.
 A Maíra mostra-se apaixonada por este tubérculo que apesar de existir no Brasil, tem características distintas da regional. “Esta batata é fornecida através de um produtor da Maia. Ele deu-nos a conhecer a batata e quando experimentei pensei logo que tinha de transformar em brigadeiro. Ele retorquiu dizendo que era comida para porcos, referindo-se à casca. Fiz o brigadeiro e depois o pão típico da nossa cidade de Salvador com a batata-doce de casca roxa. Pensei: porque não? Fiz a experiência e deu certo. As nossas receitas são de Salvador da Bahia e usamos muito os doces típicos como a cocada com açúcar e coco. Usamos em cestas especiais de pequeno-almoço e de nascimento na maternidade, com balão para o bebé e muitas vezes enviadas por pessoas que vivem noutros países. Temos muitos clientes de fora, do Canadá e EUA que entram em contacto connosco. Temos também o pãozinho delícia que é basicamente a história de um pão que ia dar errado, que estava cru mas que foi um enorme sucesso. É um pão que parece que está cru de tão macio. É a forma dele ser fermentado que fica assim fofinho. Temos também o bolo de rolo que é típico de Pernambuco, de onde é a minha família materna. Fomos experimentando e desenvolvendo, inclusive o Rodrigo tem um trabalho sobre a história e origem da culinária baiana. Usamos também o quindim que é um doce feito de gemas que foi inspirado na Brisa de Lis que foi para o Brasil, mas como não tínhamos amêndoa, as escravas substituíram por coco e assim surgiu o quindim” exalta.
“Para além disso, o chocolate, o cacau sempre está presente, tal como o doce de leite e o maracujá, pois existe no Brasil o ano todo e com várias variações da espécie. A goiaba também, pois é uma fruta comum”, diz Rodrigo. “Tentamos trazer o que é nosso e os ingredientes que nos inspiravam lá, mas dando uma pincelada local que cria algo único, desde a parte estética ao sabor. Prezamos muito os detalhes e cuidado ao bolear o brigadeiro”, continua Maíra.
Possuem apenas loja online e confessam que a experiência tem sido positiva. Antes da pandemia pensaram numa loja física mas rapidamente perceberam que o mercado online seria a melhor solução. Partilham inclusive que são poucas as pessoas que estranham a ausência de loja física. Apontam, no entanto, que o maior desafio foi a comunicação, pois as pessoas que os procuravam utilizavam redes sociais diferentes. Revelam que desde o início tiveram muitos contactos do exterior e que já realizaram entregas em várias ilhas do arquipélago.
“Temos uma faixa etária muito vasta de clientes e muitos homens românticos com as suas mulheres”, afirma.
“Uma dificuldade foi introduzir os produtos por serem novos. No Brasil é muito comum. Aqui usamos muito o lanche feito em casa ou ir comprar fora. E nós só fazemos a entrega na casa do cliente. Queríamos que o cliente tivesse o conforto de tomar o seu banho relaxado enquanto o pedido não chegava e depois poder lanchar”, refere Maíra.
 Quem contacta com os seus produtos de imediato percebe a atenção na decoração das embalagens. Afirmam que pretendem transmitir cuidado, carinho, onde a pessoa se sinta abraçada, que se encante, e se sinta especial tal como ela é. “Sabemos como é a sensação de abrir um laço, uma caixa, e queremos que a pessoa se sinta acarinhada, ouvida, e surpreendida. A caixa de bombons é no fundo, um presente. Os laços são dourados e é só uns dos detalhes. Têm cartões e mensagens da parte de quem envia os presentes e às vezes nossas também. A entrega é sempre a mesma onde explicamos tudo e até quando consumir. Percebemos que essa forma de tratar é um diferencial nosso. Demora mais tempo mas o objectivo é esse, de levar carinho e produtos feitos com amor aos nossos clientes. Queremos que se sintam especiais”, declara Maíra.
Como projectos futuros os brasileiros a residir nos Açores pretendem dar seguimento ao novo sabor de brigadeiro: chá da Gorreana. Dar formação é também uma das hipóteses, pois já o fizeram anteriormente e online, a fim de auxiliar pessoas com poucas condições a aprender uma arte e mudar de vida.
“Acompanhamos até à pessoa empreender, ajudámos muitas mães a terem o seu próprio negócio para que possam passar mais tempo com os filhos e acompanhar o crescimento deles e fazemos esse trabalho de forma gratuita”, indica.
“Nós fazemos também “o chefe em casa”. O cliente quer dar um jantar especial e nós fazemos o cardápio e cozinhamos para um número limitado, com serviço completo de jantar”, diz Rodrigo.
Por fim o casal partilhou com o nosso jornal que possuía um projecto de caridade. “No Brasil tínhamos um projecto que fazia homenagem a pessoas carentes, desde jovens a idosos, que nunca tiveram uma festa de aniversário ou que estávam muito tristes, ou em luto, ou precisassem de um momento de alegria. Tinha um cunho social muito grande pela parte afectiva e de agradecimento. Gostaríamos no futuro de trazer este projecto para os Açores”, termina Maíra.

jornal@diariodosacores.pt

 

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