Nas ondas dos feminismos
Clarisse Canha

Nas ondas dos feminismos

Previous Article Previous Article Edição de 11 de Dezembro de 2021
Next Article Empresários acusam Governo de Costa por não apoiar empresas açorianas face ao aumento do salário mínimo Empresários acusam Governo de Costa por não apoiar empresas açorianas face ao aumento do salário mínimo

16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência Contra as Mulheres

O brilho dos olhares juvenis, daquela turma onde se falou de feminismos, facilitou abordagens, trazendo ao de cima emoções e ativismos de ontem e de hoje...

 

Na campanha 16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência Contra as Mulheres, 2021, é também tempo de destacar caminhadas de mulheres e dos feminismos ao longo de anteriores décadas e porque não séculos, lançando mudanças na sociedade, de ontem e de hoje, muitas delas inesperadas.
Na história da humanidade, é pouco conhecido, incluindo no espaço escolar, o papel do movimento feminista, movimento social e estrutural, apesar de ser este, um dos primeiros movimentos sociais a emergir na nossa história.
Sabe-se que o seu início em termos de visibilidade, aconteceu aquando da revolução francesa.
Sabe-se que nesta revolução, as mulheres estiveram grandemente envolvidas.
Sabe-se também que esse grande envolvimento das mulheres, não resultou numa verdadeira igualdade para o lado das mulheres. Pelo contrário às mulheres não era permitido falar no parlamento, nem tão pouco serem eleitas. Foram várias as mulheres envolvidas das quais podemos destacar Olympe de Gouges que, em 1791, escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em contraposição à Declaração dos Direitos do Homem (que não inclua direitos das mulheres).
Foi também altura de outras importantes afirmações escritas, como é o caso da inglesa Mary Wolstonecraft que publicou a “Reivindicação dos Direitos das Mulheres”.
Se esta importante movimentação, naquela época, foi de grande significado, não podemos esquecer que sempre houve mulheres no mundo a defender seus direitos e de suas companheiras. Ainda na europa podemos lembrar Cristina de Pizan no Séc XIV, a percorrer a França, a pé, a cavalo, levando mensagens de cariz feminista. Conhecida por criticar a misoginia presente no meio literário da época, predominantemente masculino, e defender o papel vital das mulheres na sociedade. Escreveu ‘A Cidade das Mulheres’. Como ela outras mulheres mais ou menos isoladas, aqui e acolá despertaram e fizeram despertar para o sonho da igualdade feminista.
A diferença que o feminismo nos trouxe foi, a de fazer despertar as mulheres no seu conjunto, nas diferentes áreas da sociedade, em diferentes pontos do mundo, pelos seus direitos e afirmação, o que aconteceu sobretudo, em momentos de ação coletiva, contribuindo igualmente para a construção de outras práticas e teorias de equidade, assim como o alicerçar mundial dos feminismos como movimento.
Entramos agora nas ondas dos feminismos, hoje denominadas como as 3 ondas.
A primeira onda do feminismo foi marcada pela luta das mulheres na defesa dos seus direitos, incluindo direitos que os homens usufruíam. No entanto o maior destaque nesta onda vai para a luta pelo direito ao voto. Para além desta luta com grande destaque em Inglaterra, e outros países, vale a pena sublinhar, o caso dos EUA onde a luta pelo direito ao voto esteve associada à luta contra a escravatura.
Na segunda onda do feminismo surge a clarificação das questões de género, em que Simone Beauvoir afirmou “não se nasce mulher, torna-se”. Nesta altura terá ficado mais clara a diferença entre sexo e género, distinguindo-se que sexo diz respeito à caraterísticas biológicas dos seres humanos, enquanto, o género é uma construção social, atribuindo papéis diferentes aos homens e às mulheres, no que as mulheres ainda hoje são prejudicadas no mundo, isto é, na mentalidade dominante, nas situações, e condições de vida. Neste contexto social, a situação de classe, etnia, origem acentuam essas diferenças nomeadamente as discriminações múltiplas.
Finalmente vem a terceira onda do feminismo. Nesta fase, mais recente para nós, podemos destacar o conceito feminista de que “o pessoal é político”, significando, por exemplo, que situações como a violência doméstica e de género não é para esconder mas sim contrariar e denunciar.

E os femicídios?
Embora venha de longe, é preciso prosseguir a denúncia “dos femicídios” flagelo que permanece no mundo atual. Daí que o movimento feminista faz deste fenómeno um importante campo de ação internacional. No que respeita aos femicídios o Observatório das Mulheres Assassinadas, lançado pela UMAR nacional em 2004 ao longo dos anos tem vindo a denunciar este flagelo. E, é tempo de lembrar o alerta de que o feminismo nunca matou ninguém, mas o machismo mata todos os dias.
Este ano, alertando para o femicídio da nossa conterrânea em setembro, a UMAR-Açores lançou a denúncia e realizou um protesto público em frente ao Tribunal de Ponta Delgada: “Vivas nos queremos”, “Nem mais uma”!  
No que respeita à ação feminista desenvolvida pela UMAR nos Açores, podemos realçar duas áreas em que a Associação mais se tem envolvido, não só no âmbito regional/ nacional mas também no âmbito internacional.
    - No âmbito regional / nacional: a luta pelos direitos e valorização das mulheres a nível social, familiar, político, económico; formação-ação na área da igualdade e dos feminismos; movimento ativo contra a violência doméstica e de género; direitos sexuais e reprodutivos; assim como ação contra as diferentes discriminações incluindo no campo lgbtqia+.
    - No âmbito mundial destaca-se a Marcha Mundial de Mulheres, rede feminista internacional, na qual, desde o início das suas etapas mundiais, em 2000, a UMAR-Açores se tem envolvido com diferentes atividades; também neste âmbito, mundial, se enquadra a Campanha 16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência Contra as Mulheres que desde 2009, tem sido desenvolvida nos Açores numa promoção da UMAR-Açores em parcerias, com o objetivo  de promover o debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres.
Em resumo, destacamos que o feminismo é uma prática, teoria e movimento, que hoje como ontem prossegue, sobretudo: a luta pelos direitos das mulheres, o combate e erradicação do machismo presente na estrutura social, desconstruir e erradicar as diferenças de género, pela igualdade de direitos e oportunidades e, contra as diferentes discriminações.
Para finalizar não é demais afirmar que, o feminismo é o maior contributo coletivo das mulheres para a humanidade!

*UMAR -Açores

Share

Print

Theme picker