Czar 2013, o novo luxo do Pico para correr o mundo
Diário dos Açores

Czar 2013, o novo luxo do Pico para correr o mundo

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Fortunato Garcia seguiu as pisadas do pai e coloca, agora, no mercado, mais um famoso Czar, desta vez de 2013, um envelhecimento, pela primeira vez, de oito anos. Quem o provou diz que não há igual. Não admira que já haja uma lista de espera para compra deste produto de luxo, que poderá custar ao público 490 euros. Mais uma vez, a ilha do Pico vai correr o mundo. A entrevista com Fortunato Garcia.

 

Finalmente o Czar de 2013, há tanto aguardado. O que é este Czar Single Harvest Reserve 2013?
O Czar 2013, lote 2, é um vinho que foi envelhecido oito anos, o que acontece pela primeira vez no Czar, e que nos 630 litros do lote levou um garrafão de 5 litros de 1999.
É um vinho com um aroma extraordinário, com mel, frutos secos, laranja caramelizada, passas e ao mesmo tempo citrino e fresco. Na boca, entra com alguma doçura, para logo ficar completamente equilibrado, pela acidez, com uma riqueza envolvente, onde os açucares, a acidez e o álcool natural se conjugam, fazendo-o quase perfeito, e ainda, com uma persistência rara, que parece não querer deixar as papilas gustativas.

Quantas garrafas foram produzidas e em que mercado vai vendê-las e a que preço?
Foram engarrafadas 863 garrafas e já existe uma wait list que vai desde o centro da Europa, Europa de leste, EUA e, claro, Portugal, incluindo os nossos Açores. Este lote terá um preço de venda ao público de 490 euros.

Este vinho tem uma história intrínseca relacionada com o seu pai. Conte-nos.
Meu pai não queria estudar, compreensível no final dos anos 40, e minha avó disse, então, que ele tinha de ir trabalhar para a fábrica da baleia com meu avô, um dos sócios fundadores das Armações Baleeiras Reunidas.
Um mês depois, meu pai chega a casa e diz a minha avó: “Mãe, afinal quero ir estudar”.
Tirou o curso do magistério primário e consegue vir trabalhar para o Pico na segunda metade dos anos 50.
Logo no início dos anos 60, vai dar aulas para a Criação Velha, onde conhece o professor José Rodrigues, antigo proprietário da nossa primeira vinha na Criação Velha, onde criaram uma boa amizade.
Devido a alguns favores e pelo interesse demonstrado pelas vinhas e pelos vinhos, o Prof. i, tendo este recusado que esta lhe fosse oferecida. Comprou-a pelo ordenado de um mês de professor, na altura  1000 escudos(5 euros). Tinha no entanto que continuar a produzir este tipo de vinho passado, visto que estava em riscos de deixar de existir.
Assim começa a história das vinhas velhas na família.

A Criação Velha continua a ser o lugar do milagre Czar? Há possibilidades de expandir as vinhas velhas?
Desde o falecimento de meu pai, em 2007, consegui já comprar mais três vinhas. Claro que só poderia ser na Criação Velha, único lugar do Pico com vinhas velhas das castas autóctones.
Poderá haver uma expansão? Cada vez mais difícil, visto que a casta maioritária, para produzir Czar, tem de ser o verdelho e a maioria da Criação Velha tem Arinto dos Açores.

Este vinho associa o nome do Pico ao país e ao mundo. Como vê, presentemente, o futuro do sector na ilha? Com o turismo a crescer devemo-nos preocupar com uma menor qualidade na produção dos vinhos para atender à grande procura ou há a consciência de que é preciso manter o bom nome da produção picoense?
Tenho sido já abordado bastantes vezes com esta questão, tenho mantido a minha opinião desde que comecei a produzir o Czar com meu pai, ou seja, desde 1989.
Nessa altura, a procura não era desmurada pelos vinhos brancos, no entanto, na adega do Czar já se mantinha a velha máxima: Antes pouco mas bom!
Temos de ter a completa noção que não conseguimos produzir quantidades de vinho como o Douro ou Alentejo. Daí que teremos de nos saber posicionar no mercado médio alto. A nossa competição nunca poderá passar por vinhos baratos, aliás, impossíveis de se fazer no Pico.
Na minha opinião, quem quiser beber os nossos néctares tem de pagar o preço justo por eles. Existem outras opções muito em conta de outras regiões do nosso país, onde se conseguem ter baixos custos de produção.
Relativamente à consciência, só posso comentar a minha. O Czar é a melhor prova disso. Vejo no entanto com bons olhos, que existem bastantes produtores do Pico a seguir a linha da excelência.

Depois deste 2013, o que virá a seguir?
Depois de 2013, vem 2014. Isto sem nenhum sarcasmo, pois 2014 foi realmente um grande ano e tenho, novamente, um grande Czar. Posso já afirmar que não irá haver Czar em 2016, 2017, 2018 e 2019 ainda está em stand by. Também não houve Czar em 2010 e 2012.
Julgo que, assim, também o público que não está muito familiarizado com o Czar, perceberá melhor o porquê do meu vinho se estar a conseguir posicionar no mundo ‘premium’ dos vinhos. A velha máxima mantém-se, antes pouco mas bom. Atrevo-me a dizer, no caso do Czar, antes pouco mas excepcional.

jornal@diariodosacores.pt

 

 

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