Tradições de Natal em Portugal continental e nos Açores
Creusa Raposo

Tradições de Natal em Portugal continental e nos Açores

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Feliz Natal, Bom Natal ou Boas Festas! É desta forma que formulamos os votos natalícios nesta quadra festiva nos Açores, mas e no restante país? Sabia que existe um cântico atribuído a um rei português? E sabia que durante a implantação da república tivemos um “bolo-presidente” ou que nos Açores o dia de Natal era o dia principal de comemoração onde se degustava massa sovada e figos passados?
O Diário dos Açores revela-lhe estas e outras tradições de Natal.

 

Missa do Galo

A Missa do Galo é uma eucaristia celebrada à meia-noite e assinala o nascimento de Jesus na noite de 24 para 25 de Dezembro. Reza a lenda que à meia-noite do dia 24 um galo teria cantado anunciando a vinda do Messias.
Tradicionalmente, depois da missa, as famílias voltam para casa colocam a imagem do Menino Jesus no Presépio e distribuem os presentes.
Todos os anos na noite de consoada é também possível acompanhar na televisão a celebração pelo Papa da Missa do Galo no Vaticano. A realização desta celebração ocorre com cânticos próprios da época.

Cânticos de Natal

“Hino Português” é uma das versões da música Adeste Fidelis na Europa. Apesar da sua autoria ser incerta é frequentemente atribuída ao rei D. João IV de Portugal.
“A todos um Bom Natal” é uma canção do Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras composta por César Batalha e com letra de Lúcia Carvalho. Estreou-se em 1980 e através da sua presença frequente em programas de rádio e televisão, tornou-se rapidamente uma das melodias de Natal mais populares em Portugal.
Outro exemplo intitula-se “Eu hei-de dar ao Menino”. Música tradicional portuguesa com origem na cidade de Évora. Apesar da letra ser do século XVIII a sua melodia só foi composta nos anos trinta do século XX pela pianista Gertrudes Cartaxo.

A Consoada

A Consoada, tradição portuguesa cujo nome deriva do latim consolata que significa “consolar”, é a ceia de Natal que reúne a família numa farta mesa com vários pratos e doçaria típica da época.
Anteriormente as Vigílias que celebravam o nascimento de Jesus eram realizadas em jejum mas que ao longo dos séculos foi abolido e substituído pela Consoada.
Este rito é alvo ainda de algumas lendas, como a de que a mesa não deve ser levantada, nem a louça usada deve ser lavada, assim como as sobras da refeição, por respeito aos entes queridos da família.
Actualmente o bacalhau com batata e couve cozida é um dos pratos tradicionais portugueses mais confeccionado para a ceia de Natal fazendo também parte da tradição portuguesa o peru assado ou o polvo.
A véspera de Natal celebrada na Missa do Galo e na Consoada reúne a família numa farta mesa com pratos e doçaria típicos portugueses, constituídos pelo bacalhau, polvo, carnes de porco, cabrito e mais recentemente o peru, e ainda o Arroz Doce, o Bolo-rei, o bolo inglês de frutas, entre outros.
Durante o século XIX e inícios do XX, nos Açores, a família reunia-se à mesa para celebrar no almoço do dia 25 - o “dia da festa” - onde degustavam, não a comida tradicional do Natal, como hoje, mas sim os alimentos típicos das épocas festivas (Páscoa, festa anual dos padroeiros e Natal), geralmente caldos de galinha, galinha assada, massa sovada e figos passados.
Por esta altura as famílias percorriam as casas dos familiares para verem o Menino e saborearem os licores e compotas caseiros, típicos da época, com grande destaque para o licor de tangerina.
Era frequente a expressão “correr meninos” a fim de desejarem as Boas Festas e ainda “mijinha do Menino Jesus” ou “o Menino mija?”, que se prolongava e ainda se mantém até ao Ano Novo.

Bolo-rei

O Bolo-rei é um bolo tradicional português que se consome na altura do Natal e até ao dia de Reis. A forma redonda com um buraco ao centro insinua uma coroa com os frutos secos e frutas cristalizadas que lhe dão cor.
O seu nome alude aos três Reis Magos. A origem do bolo-rei remonta, ao que se sabe, ao tempo dos romanos. Estes tinham por hábito eleger o rei da festa durante os banquetes festivos o que era feito tirando à sorte uma fava. A Igreja Católica aproveitou o facto deste jogo ser característico do mês de Dezembro e decidiu relacioná-lo com a Natividade e com a Epifania.
O bolo que inspirou o bolo-rei português surgiu em França como Gâteau dês Róis. Popularizado em Portugal no século XIX segue uma receita originária do sul de Loire.  É um bolo em forma de coroa feito de massa lêveda. A documentação indica que a primeira casa onde se vendeu bolo-rei em Portugal foi a Confeitaria Nacional, em Lisboa, por volta de 1870.
Os presentes dos Magos: ouro, incenso e mirra traduzem-se na côdea, aroma e frutas secas e cristalizadas, respectivamente. A sua aparência alude facilmente a uma coroa de ouro incrustada de pedras preciosas.
A sua confecção foi proibida na Europa aquando da Revolução Francesa e em Portugal com a implantação da República alterando o nome para “Bolo-Presidente”, no entanto, não vingou. Possuíam até aos finais do século passado uma fava, porcelana, brinde em ouro ou metal e que dariam sorte a quem o encontrasse.

Presépio

Os símbolos natalícios tipicamente portugueses traduzem-se no presépio e na árvore de Natal.
Nos Açores a documentação aponta singelas referências ao presépio já no século XVI e no seguinte surgem as primeiras “lapinhas” de cunho conventual.
Nas centúrias seguintes as figuras de barro produzidas por artesãos locais tomaram proporções populares contendo apenas as figuras principais, geralmente em cima de uma cómoda no quarto de cama do casal e por vezes co-existindo com os altares dedicados ao Menino Jesus (o altarinho nos Açores e o Menino em pé na Madeira).
Este Menino podia ser em madeira, barro ou gesso pintado que era rodeado por velas, por ramagens de laranja e tangerina (incluindo os citrinos) e ainda por trigo e ervilhaca.
As figuras do presépio apresentavam-se em barro pintado e geralmente de tamanhos reduzidos. Mais tarde passou a ser montado no chão ou sob pequena armação, decorado com musgo e “musgão” nascido nas pastagens. Surgiram novas figuras como os pastores e ovelhas que se juntaram às figuras iniciais: o Menino Jesus, Maria, José, o Burro, a Vaca e os Reis Magos, originando reproduções dos hábitos e costumes locais (procissões, romarias quaresmais, matança de porco, folias, distribuição de pensões em louvor do Divino, coroações, trabalhos agrícolas, etc.) e ainda de edificações emblemáticas da localidade (igrejas, teatros, coretos, fontanários, moinhos, residências, etc.). Actualmente a grande oferta de mercado influencia na diversidade de presépios existentes nas residências. Alguns conservam as figuras de barro, outros optam por porcelana ou pelos novos materiais como o acrílico e de traços contemporâneos. Pode manter-se até à Epifania ou Dia das Estrelas.

Postais dos Emigrantes

Os postais decoravam os lares, quer junto ao altar do Menino Jesus, quer próximo do forno ou junto à árvore com os votos de boas festas da família que estava emigrada principalmente na América do Norte, até pelo menos aos finais dos anos 90 do século passado. Em casos de extrema pobreza era a única decoração possível.

Árvore de Natal

Nos Açores a árvore de Natal que se popularizou pelas moradias, ao longo da centúria de oitocentos, começou por ser constituída por pés de laranjeira e ramagens de tangerina anteriormente citadas. Aqui algumas crianças deixavam as peúgas ou sapatinhos, na esperança que na manhã de Natal o Menino Jesus tivesse deixado alguma fruta ou guloseima.
Antes de se colocar as prendas na árvore o local mencionado era o forno onde as crianças deixavam o sapatinho na chaminé.
No último século esta árvore, por vezes de material sintético, tomou grandes dimensões e passou a ser decorada com adereços bastante variados e coloridos. Optam ainda por exibir frequentemente a árvore de Natal na sala, próximo das janelas e portas envidraçadas, proporcionando a comunicação com o exterior. Figura ainda no exterior junto às casas da câmara, igrejas e juntas de freguesia das várias localidades açorianas.


jornal@diariodosacores.pt

 

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