Uma República madrasta
Osvaldo Cabral

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Diário inconveniente

Todas as campanhas eleitorais são, por natureza, um viveiro de hipocrisia política.
Os líderes partidários desdobrem-se em promessas que sabem não serem possíveis cumprir, contradizem-se em muitas propostas, dizem uma coisa e a prática é outra e mostram, por estes dias, uma simpatia e proximidade ao cidadão que logo se esfumam depois das eleições.
Este ano temos, novamente, um verdadeiro maná, começando pela baixa de impostos e acabando noutros milagres, como a semana de 4 dias ou o rendimento básico universal.
A vinda de António Costa, no domingo, a S. Miguel, foi um destes exercícios, a que não faltou a tradicional vassalagem local perante um governante que tem ignorado as Autonomias.
Ainda bem que Rui Rio não tenciona vir à região, porque seria outra hipocrisia de quem nos avalia como “12 mil votos que não são fortuna”...
Quanto ao secretário-geral do PS, fez um programa errado.
Deveria ter programado uma visita à Universidade dos Açores, acompanhado por Vasco Cordeiro, e ambos pedirem desculpa pela promessa escandalosa que o Reitor denunciou, no dia seguinte, em plena cerimónia de aniversário da academia açoriana.
Deveria visitar o monte da bagacina, naquele negócio que deveria ser investigado pelo Ministério Público, que é o escândalo da construção da nova cadeia.
Seguiria para Santa Maria para pedir desculpa pela proposta de uma lei do espaço que nos subjuga a escravos da República e, depois, partiria para o Pico, onde explicaria aos ex-trabalhadores da Cofaco porque não recebem a ajuda prometida no Orçamento de Estado.
Os últimos seis anos de governação da República foram um desatino para as Regiões Autónomas e o que se desenha para depois de 30 de Janeiro não é nada mais famoso, quer continuemos com Costa, quer levemos com Rio.
Há uma geração de políticos, formados nas inúteis jotas, que só vão piorar o país e a região.
Não há sinais de esperança para a geração mais bem qualificada de sempre, a não ser emigrar para dignificar o seu trabalho e construir um futuro promissor.
Fogem os talentos e por cá vão ficando os desmotivados e os que procuram o habitual aconchego no orçamento público.
É este o retrato lá - e cá também - para mais quatro anos de instabilidade e mediocridade políticas.

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Porque não exportamos? - É uma dúvida que me assalta sempre que entramos em campanha eleitoral.
Nenhum partido coloca na agenda o desenvolvimento do sector transacionável da região.
Fala-se muito de coisas imediatas, mas da sustentabilidade da criação de riqueza nos Açores ninguém apresenta soluções.
Ainda esta semana ficamos a saber que as vendas portuguesas para o exterior cresceram 15,7% em Novembro, um valor extraordinário para os tempos em que vivemos.
 Não há estatísticas sobre as exportações açorianas, o que já é uma falha grave para avaliar da dinâmica do sector, mas sabemos que importamos mercadorias, por ano, em mais de 1 milhão de toneladas, enquanto que a saída de mercadorias fica-se pelas 300 mil toneladas.
Passados estes anos todos de administração autónoma, não se percebe como nenhum governo tenha posto o nosso sector produtivo a exportar e, pior ainda, dos produtos potencialmente transacionáveis, é sabido que estão quase todos a definhar.
Fala-se em aviões cargueiros, barcos com carga rolada, desenvolvimento do mercado interno, apoios à exportação e a conclusão com que ficamos, quando falamos com os empresários do sector exportador de bens, é que as barreiras e burocracias continuam intransponíveis, enquanto que os mercados concorrentes nos vão deixando para trás a léguas devastadoras.
Os economistas já nos chamaram a atenção para o facto da transformação da economia dos Açores, nas últimas décadas, ter-se feito “com uma concentração cada vez maior em setores não transacionáveis onde ganham expressão, por exemplo, as atividades imobiliárias e a construção civil, para além dos serviços públicos, a educação e a saúde e onde não logram ganhar peso os setores transacionáveis, suscetíveis de alargarem os mercados onde a economia possa expandir-se e criar mais riqueza”.
Acresce que as apostas públicas têm sido maioritariamente canalizadas para a terciarização da economia, enquanto o sector primário vai de crise em crise até ao dia da dependência total.
Os únicos sectores onde é possível vislumbrar crescimento do emprego é no público, como a administração pública, a saúde e a educação.
Assim não vamos lá.
Se não mudarmos de estratégia, valorizando o sector transacionável regional, vamos continuar a pedinchar a Lisboa e à Comissão Europeia que nos acudam para matar a fome.
É uma questão de modelo e de risco político, que os políticos não gostam.
Preferem o imediato e a intervenção permanente do braço estatal para privilegiar  a  clientela habitual.
É pena, num país e região com tantos recursos, desperdiçamos o que temos de melhor.
Incluindo, claro, as pessoas talentosas.

 

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