A luxúria do poder
José Soares

A luxúria do poder

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Transparência

O chauffeur mantinha-se qual estátua ao lado da porta aberta do luxuoso automóvel preto. O agora primeiro-ministro entrou, recostando-se comodamente nos assentos traseiros. Logo de seguida o carro pôs-se em andamento com tão preciosa carga, em direção ao restaurante cinco estrelas em sítio recatado da cidade, para evitar olhos indiscretos.
Estar no cimo da pirâmide (do poder) é a ambição de muitos. Viver sem ter grandes preocupações rotineiras, como apertar a barriga para poder pagar a renda da casa; não ir a restaurantes nem de uma estrela sequer, para poder pagar a eletricidade e não ficar às escuras e ao frio; andar a pé até gastar as solas, porque a gasolina está pelas ruas da amargura nos preços e todo um rol de torturas. À noite e depois de um lanche-jantar, o trabalhador tenta ouvir algumas notícias. Afinal, ele ainda é um animal social…
E que ouve em todos os canais? Mentiras e mais mentiras. Promessas a todas as virgens deste e do outro mundo. Risos e abraços hipócritas e amarelos. Promessas, só e mais promessas.
Estas eleições do dia 30, tão só cumprem o calendário. Ao governo de António Costa restava ainda quase dois anos, mas os comunistas e os bloquistas quiseram fazer gastar mais estes milhões de euros ao país (que tanta falta fazem aos que têm fome, à Saúde, às pensões dos idosos, à Educação, enfim, um triste rosário social).
Partidos radicais como o Bloco de Esquerda, cuja função é só bloquear tudo nos parlamentos (e foi o que fez com António Costa) ou o Partido Comunista, que se apresenta camuflado no nome, sob a sigla CDU – coligação democrática unitária – por se encontrar colado ao PEV, arranjado para exatamente poder apresentar-se sob CDU e não como partido comunista. Ou ainda um CHEGA, que com palavrinhas mansas tenta (re)tomar velhas saudades. Até mesmo o CDS que já nem sabe o que é que é. Estes grupos estão condenados a desaparecer. Dificilmente já enganam as pessoas, a não ser os cerca de 8% de analfabetismo ainda existente no país. Menosprezam os cidadãos insulares. A essa elite política só lhes interessa os lucros estratégicos que as geografias das Ilhas oferecem. Depreciam os respetivos cidadãos – como fez Rui Rio – e digladiam-se entre si para conseguirem o tal chauffeur com carro à porta pago pelo trabalhador.
Algumas dessas formações partidárias, existem porque a Democracia o permite. E, no entanto, estão constantemente a tentara eutanásia na Democracia, corroendo-a e aproveitando a sua tolerância para os próprios fins, alegando hipocritamente o bem do trabalhador. São os “Putins” na forja, à espreita da primeira oportunidade para governar com o mesmo chauffeur e com a imprescindível ajuda de uma força policial secreta, inquisitorial e vigilante. Eu seria um dos primeiros a ser preso por esses pairas, que logo me retirariam a minha amada Liberdade de Expressão, liberdade de falar e gritar no morro dos meus descontentamentos.
Quanto aos outros, os denominados moderados, mentem. Prometem mentindo, mentem prometendo. O governo central falha constantemente com os seus deveres nacionais para com os Açores. Há décadas que promete uma cadeia na Ilha de São Miguel, mas mente. A Universidade dos Açores, nascente intelectual insular, vê-se aflita pela falha do governo de Lisboa no cumprimento das verbas a atribuir àquela importante instituição. Estariam já mortas de fome as famílias despedidas na Cofaco da Ilha do Pico. As suas ossadas estariam expostas aos sorrisos dos políticos do PS que há anos lhes devem as ajudas prometidas. Os terrenos a descontaminar na Ilha Terceira, que fazem perigar gravemente a saúde dos seus habitantes, através dos lençóis subterrâneos de água, resultado dos acordos internacionais que beneficiaram o país no seu todo. Mais uma prova de que só lhes interessa a terra, não as gentes. Ou ainda a Ilha de Santa Maria e as promessas de várias instalações tecnológicas, futuristas e espaciais. Tudo fogo de pouca palha. Tudo promessas vãs.
Acham mesmo que os insulares estão motivados para sair de casa e irem votar?
Os bajuladores que farejam constantemente um lugarinho apadrinhado pelo tal senhor do carro com chauffeur. Esses são sempre os primeiros.
Ou os que, como eu, continuam a acreditar que a Democracia também vocifera de vez em quando e expele mais alguns dos muitos parasitas de todo o espectro político do país à beira mar afogado.

* lusologias@gmail.com

 

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