Evitar dizer “eu amo-te”  não é só uma estratégia de defesa, mas também de ataque
Dionísio Fernandes

Evitar dizer “eu amo-te” não é só uma estratégia de defesa, mas também de ataque

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De todas as coisas que o ser humano resolveu achar que sabe sobre o que ele chama de sua presença no universo (trend topics: respostas para perguntas sem respostas, tais como: “de onde vim?”, “para onde vou?” e “por que estou aqui?”),  é evidente, ou razoavelmente lógico, pensar que ele procura uma ligação entre si e o que o rodeia.
Quer seja com o cachorro, com o espírito, com o pai, com o amigo, com o passado, com o futuro, indica que cada um está numa busca diária por pertencimento e por isso somos prepotentes a ponto de dizer que estamos presentes no universo sendo a definição de presença algo que nós mesmos criamos. A questão é: muitas pessoas querem sentir o toque do externo, o aconchego do alheio, mas então por que enchemos os nossos cabides de armaduras impenetráveis?
Por que aceitar a fragilidade é chocante ?
É inconsciente para a maioria, eu sei, mas para uns é como se estivéssemos prestes a enfrentar um puma assim que abrimos os olhos depois de uma noite de sono.
Mesmo assim, acho que nem toda a luta exige armas e estar constantemente em estado de alerta deve cansar imenso.  
Todo mundo esconde algo, é óbvio. E expor-se é um exercício muito mal visto. Ou não ? Na verdade, depende. Existe uma diferença escandalosa entre noticiar que finalmente alcançou o emprego de sonho e admitir que só está nesta empresa porque precisa pagar a renda e as contas. Isso acontece porque estivemos, estamos e sempre estaremos, num contexto social onde o sucesso é o limite, a margem entre a felicidade e a miséria. Existe aqui um embate morfológico, miserável é o que tem pouco, e um dia determinaram que quem tem pouco é fracassado.
Quem vai querer se sentir ligado a um fracassado?
De volta ao objetivo cosmológico daqueles que esperam pertencer a algo.
Não posso dizer “eu amo-te” primeiro, vai que ela não diz, e fica a olhar para mim, com um ar incrédulo. Não podemos mostrar para os nossos filhos, pais, amigos, que estamos deprimidos, vai que eles se envergonham de nós. Não podemos estar abaixo de super, de incrível, de perfeito.
Erro.
Os nossos defeitos, os nossos fracassos, as nossas cicatrizes e fraquezas mais sórdidas não nos impedem de sermos atraentes.
Porque podem nos tornar mais autênticos.
E o paradoxo:
O estado de vulnerabilidade, quando aceite e compreendido, traz-nos um sono mais calmo, e a nossa vida mais corajosa.
Até para semana
haja saúde

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