O protagonismo  de Artur Lima  e a liderança de Bolieiro

O protagonismo de Artur Lima e a liderança de Bolieiro

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O pior que pode acontecer a um governo de coligação é transparecer na opinião pública que os governantes atuam cada um para seu lado, pretendendo desse modo mostrar trabalho e aumentar a “clientela”, caso se realizem eleições antecipadas. A estratégia é conhecida.
    Quando a atual solução governativa foi constituída no Parlamento “para derrubar o PS do poder regional” houve quem pensou que o PSD tinha conseguido a proeza de liderar toda a direita num mesmo projeto político regional.
    Mas será que J.M. Bolieiro, então considerado “um exímio negociador”, ao distribuir pelos seus parceiros de coligação as pastas governativas e respetivas competências, acautelou a diferença eleitoral do PSD, com 21 deputados, com o CDS 3, PPM 1 e CDS/PPM 1? Não Creio. Esse erro está a ser uma dor de cabeça para o Presidente do Governo que nada ganhou com a coligação às legislativas nacionais.
    Durante o primeiro ano de governação, o Chega exigiu a Bolieiro uma remodelação ainda não efetuada, e o próprio líder do PPM ousou, publicamente, afirmar que o Secretário dos Transportes não lhe merecia confiança pelo que devia ser substituído.
    São dois fatos políticos que se vêm somar ao evidente e, segundo alguns, exagerado protagonismo do líder do CDS que parece preferir destacar as ações da vice-presidência, em prejuízo da consistência e unidade da coligação, diminuindo, desse modo, a responsabilidade primeira do Chefe do Governo e a sua liderança.
    Prova do que afirmo é a nota de imprensa dos deputados centristas distribuída em 16/02/22. Os três parlamentares congratulam-se, “com o anúncio de novas rotas aéreas para a ilha Terceira operadas pela SATA Azores Airlines, resultado de uma estreita colaboração entre acompanhia aérea e a Vice-Presidência do Governo Regional, através da Aerogare Civil das Lajes1, no sentido de diversificar as rotas e servir melhor as comunidades da nossa diáspora.”
    O teor da nota centrista releva o protagonismo do Presidente do CDS, cujas competências na orgânica do executivo abrangem, inexplicavelmente, a gestão da Aerogare civil das Lajes. E com tal despudor o fazem os parlamentares centristas que chegam ao ponto de considerar que as já contestadas rotas para Nova Iorque e Montreal constituem “um desafio que se coloca à empresa, e estamos certos de que será abraçado pelas tripulações e por todos os funcionários que em terra trabalham para que os aviões da SATA Azores Airlines continuem a voar”.
    Presumo que os deputados e dirigentes do PSD, o titular dos transportes e o próprio Chefe do Executivo não terão digerido bem esta ousada e isolada intromissão. Cabe agora a Bolieiro apaziguar, rapidamente, o mal estar gerado na comunidade emigrante de Montreal, de origem micaelense, como relata este jornal2.  
    Não acredito que a iniciativa de Artur Lima em conseguir novos destinos para a SATA, a partir da Terceira, tenha sido feita à revelia de Bolieiro, mas com a sua “complacência” e o conhecimento da tutela da transportadora aérea.
    Se assim foi, a questão é ainda mais grave e tem de ser publicamente explicada, porque envolve o aluguer de uma aeronave e dá a impressão de que a SATA continua a voar à vista, para destinos de duvidosa rendibilidade.
    Para sossegar os incrédulos – e muitos são! - convinha que a SATA ou a tutela, esclarecessem, quanto antes, quais as reais motivações destas opções empresariais e quais os estudos de mercado realizados para o efeito.  
    Esse procedimento já deveria ter acontecido, pois o silêncio permite tirar ilações que não abonam em favor de uma gestão rigorosa da SATA, da unidade do executivo e da estabilidade da coligação. E este é um valor inestimável que fortalece e legitima os órgãos de governo próprio e promove a unidade do arquipélago e o desenvolvimento harmónico das nove parcelas.
    Governar para clientelas, para satisfazer o eleitorado desta ou daquela ilha em benefício de um partido, é abalar as fundações, a coesão e a autoridade governativa, promover a desunião do arquipélago e destruir um edifício autonómico de quase meio século.
    Bolieiro está confrontado com a difícil gestão da coligação, quando as suas preocupações e liderança deviam estar voltadas para a resolução de problemas novos que nos colocam os recentes e graves acontecimentos internacionais.
    A opinião pública reconhece a bonomia e empenho do Chefe do Governo, mas espera dele  coragem e determinação para assumir a Presidência do Executivo e exigir aos seus membros uma solidariedade ativa conjunta que ultrapasse as naturais diferenças que sempre as há.
    Sou de opinião que o próprio PSD tem de tomar uma posição liderante e mais pro-ativa, assumindo-se como partido maior da coligação (21 deputados). Se tal não for feito, dá a impressão que abdicou do seu programa eleitoral, da social-democracia que identifica o partido, mais não seja no nome.
    Se a manutenção da coligação for a preocupação maior do PSD, daí resultará uma sujeição constante aos pequenos partidos, pois já se percebeu que o PPM, o Chega e a IL são useiros e vezeiros em desaprovar tudo quanto contradiz os seus interesses político-partidários.
    Bolieiro e o PSD têm, pela frente, decisões importantes a tomar para não serem consumidos pelos “parceiros” que introduziram no governo.
    Quanto mais tempo demorar a clarificação e a afirmação de uma liderança forte, determinada e dialogante, pior é para a democracia e para o Regime Autonómico.
    O presente conflito bélico no Leste Europeu revela que o culto da personalidade, o autoritarismo, o populismo e a desumanidade conduzem, facilmente, a guerras e conflitos entre povos e nações que destroem a democracia e liquidam os direitos humanos.
    É também contra isso que nos insurgimos.


Notas:
1 Sublinhado meu
2 Jornal “Diário dos Açores”, 22fev2022

 

http://escritemdia.blogspot.com

*Jornalista c.p.239 A

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