Quanto tempo tem o tempo que temos para sermos felizes?
Patrícia Carreiro

Quanto tempo tem o tempo que temos para sermos felizes?

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“(…) este coração é para ti. Guarda nele todas as
coisas que te façam sentir feliz.”

Os nossos filhos e crianças da nossa família vão à escola, e temos isso como um dado adquirido.
Lá, eles aprendem a ler, a escrever, a estudar, a socializar, e tudo o mais que necessitem. No entanto, em alguns recantos do nosso país, e do mundo em geral, há crianças que ainda não têm acesso a esta vertente que nos parece tão básica e normal.
É mesmo esta a história de “A menina que desenhava corações”, escrita por Sónia Sousa, ilustrada por Sofia Sant’ana e Beatriz, e editada pela AlmaLetra.
Esta menina tinha o tempo todo para ver, sentir e viver a natureza, sozinha ou com os seus avós. Os pais, estes, haviam partido em busca de uma vida melhor, para trazer mais conforto à sua filha e restante família. Ela vivia feliz com os avós, mas não sabia ler, nem escrever. No entanto, reconheceu, rapidamente, um símbolo que todos entendemos, seja qual for a língua que falemos: um coração!
Foi num dos seus dias pacatos e felizes na aldeia que esta menina conheceu um pintor que desenhava, também, corações para oferecer a quem neles soubesse colocar o que mais lhes importava.
Ela pensava que não o poderia ajudar, já que não sabia pintar, nem escrever ou ler, mas com este senhor, um mero desconhecido que passou por acaso na aldeia, ela percebeu e sentiu que as verdadeiras coisas não precisam de estudo nem de preparação. Sentimo-las, e isso basta para viver melhor.
Nesta linda e simples história, a açoriana Sónia Sousa traz-nos uma prenda literária que nos aquece o coração e nos faz sentir que nem tudo está perdido; ainda há crianças que são felizes só com a aldeia, a terra, os animais; sem a parafernália dos computadores, tablets ou telemóveis. Não é preciso ir para a escola para sabermos ser melhores; embora seja sempre necessário, claro, para progredirmos enquanto seres humanos.
No entanto, este livro é uma metáfora, parece-me, para a quantidade de informação que recebemos diariamente e que só nos traz, muitas vezes, ruído para a mente e para o coração. Esta menina não conhecia as palavras, mas sabia o que colocar dentro do seu coração e dentro daqueles de que a rodeava.
Sem se aperceber, ela dá uma prenda gigantesca a este pintor fantasticamente ilustrado pela Sofia e pela Beatriz, que nos levam de volta aos tempos da infância, da alegria ingénua e capaz de ser totalmente verdadeira, tal era a falta de conhecimento do mundo que nos rodeava.
As ilustrações deste livro, o primeiro das suas ilustradoras, são feitas à medida de quem ama e vive feliz, com cores perfeitas, nas curvas das imagens que, a par com o texto, nos tornam mais conhecedores dos sentimentos e das emoções. Voltamos a ser crianças, com histórias e ilustrações como estas.
Mas a vida é mesmo assim. É bom crescermos e sermos pais, mães, bons profissionais e tudo mais, mas – quando crescemos e nos tornamos adultos – quanto tempo tem o tempo que temos para sermos felizes?
Contabilizado pode parecer pouco, na realidade, mas se aproveitarmos os momentos simples que nos trazem felicidade, então certamente teremos corações mais felizes e mais capazes de desenhar tudo o que neles queremos guardar.
É por isso, também, que leio: para ter um coração mais preenchido!
Boas leituras!

 

*Editora da 9idazoresnews.com
Diretora da Livraria Letras Lavadas

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