Unidade Autonómica
José Soares

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Transparência

Todos criticamos o centralismo em excesso por parte de São Bento e Belém em relação às neo-autonomias da Madeira e dos Açores. De facto, as revindicações constantes feitas por estes territórios ao Terreiro do Paço, denotam desmazelo político dos responsáveis centrais. O Estado de Direito, só por si, exige uma normal participação relacional entre as partes, uma vez que todos são parte integrante da mesma unidade política, “una e indivisível”.
O simples facto de terem de pedinchar constantemente a Lisboa, já em si mesmo manifesta menosprezo pelas populações insulares da parte do governo central e seus ministérios, repartições ou instituições.
Desde a instauração das Autonomias regionais, que os dois arquipélagos nunca se deram de favor. Eram como dois marrões que se arranham procurando as tetas da mãe-porca, a ver quem mama mais.
Como as coisas seriam muito mais fáceis se os dois se unissem nas justas revindicações a fazer.
Apesar de governarem sob a mesma capa ideológica (PSD) durante duas décadas, Mota Amaral nunca se deu bem com Alberto João Jardim, nem o contrário. Duas personalidades opostas com passados políticos bem diferenciados. Nem me recordo de visitas oficiais recíprocas às respetivas Ilhas, tanto de um, como de outro. E, no entanto, a solidariedade mútua esteve sempre presente nos desastres que assolam os dois arquipélagos de tempos a tempos.
Sendo verdade que as ideologias em excesso aniquilam a democracia, o facto é que o partido socialista justifica melhor esta falta de contacto entre os dois territórios, dispensando virtudes sociais-democratas que nunca mudaram na Madeira.
Mas agora, o adversário partidário em Lisboa é comum! Ambos os Arquipélagos, governados pelo mesmo partido, só têm a ganhar unindo as forças, construindo uma frente comum. O centralismo praticado, desde sempre, por vários governos nacionais, só nos ensina que sozinhos e isolados nada conseguimos. E Lisboa tem sido mestra em dividir para reinar.
A próxima revisão da Lei das Finanças Regionais, para ambas as Regiões Autónomas, é de uma importância vital, que nenhum desentendimento ou egoísmo justifica. Ambos os arquipélagos devem pensar seriamente nas enormes e únicas vantagens em se unirem para atingirem o bem comum de ambos os povos, madeirense e açoriano. Miguel Albuquerque e José Manuel Bolieiro, ambos serão responsáveis históricos perante o futuro, se falharem, mais uma vez, a oportunidade de que a unidade faz a força.
Ambas as partes são suficientemente capazes de reconhecer as suas diferenças territoriais, sociais, económico-financeiras e outras para, em conjunto, delinearem projetos adaptados à realidade de cada um. E ambos têm justas revindicações a fazer. Mesmo os irmãos gémeos não são exatamente iguais…! É essencial ceder nas diferenças.
As diferenças entre a Madeira e os Açores são de tal forma flagrantes, que só as más intenções, atitudes maliciosas, ou o egoísmo desenfreado podem obstar por dificultar as relações entre ambas as Regiões.
Esta opacidade existente há anos entre a Madeira e os Açores, só facilita os governos centrais, em detrimento do progresso das Autonomias, em detrimento da própria Democracia portuguesa que já está perto do seu meio século de existência.
A política geral portuguesa de TOLERÂNCIA ZERO no que respeita aos territórios insulares, bem como o temor constante provocado por traumas imperialistas e colonialistas, criaram uma intolerância quási absoluta em todos os assuntos estruturais das Ilhas atlânticas.
Portugal, por princípio histórico, pela sua pequenez política, pelo sistema em que se enquadra toda a elite instalada através de hipócrita diplomacia, nunca facilitará nem tomará iniciativas positivas sobre os povos insulares, a não ser lembrar-lhes constantemente que são portugueses (apenas no nome).
Se não fosse a radicalidade dos movimentos independentistas da década de 1970 em ambos os arquipélagos, nem estas fracas autonomias existiriam.
E como disse Winston Churchill: “Aqueles que esquecem os erros da História, estão condenados a repeti-los”.  
   
* lusologias@gmail.com

 

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