Na ordem do dia
Mário Abrantes

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Positiva a atitude do governo açoriano ao recuar, perante a indignação da opinião pública, na decisão de entregar à concessionária do Casino, o espaço público do Pavilhão das Portas do Mar em Ponta Delgada.
No entanto nada descansativa é a preocupação governamental que permanece subjacente à entrega daquele espaço: a da sua rentabilização económica. Ora, não dispensado uma gestão economicamente racional, nem mesmo a sua conjuntural rendibilidade, um espaço público com aquelas características e localização deve ser avaliado em primeiro lugar pela sua rentabilização social, cultural e recreativa, condições que como muito bem se sabe foram totalmente postas de parte até hoje pelos concessionários do Casino e do espaço circundante onde aquele foi implantado.
A título de exemplo bem recente, pode dizer-se que a rentabilidade social do Pavilhão das Portas do Mar obteve o seu valor máximo ao ser estrategicamente utilizado como centro de vacinação anticovid. Gostaria de saber se isso alguma vez teria sido “economicamente” viável casoos nossos iluminados iniciativistas liberais e o governo que os acolhe tivessem logrado aplicar, neste caso, as suas “infalíveis e inquestionáveis” receitas ideológicas…
Entretanto a leste na Europa, ao contrário de promessas reiteradas, a Rússia, acossada desde o fim da guerra fria pelo cerco militar da Nato a fechar-se à volta das suas fronteiras e perante as criminosas ações políticas e armadas de Kiev contra as populações russófonas especialmente de Donbass (cerca de 20% da população da Ucrânia), optou pela pior e menos útil decisão para todos, incluindo para ela própria, a de desencadear uma guerra generalizada naquele país, muito para lá da região de Donbass.
A Paz, a segurança coletiva europeia, os princípios da Carta da ONU e a Ata Final de Helsínquia, tal como antes impunham nas guerras contra a Jugoslávia, o Iraque, o Afeganistão, a Líbia ou a Síria, impõem agora (esperemos que com maior êxito que nos casos anteriores) a desescalada urgente deste conflito, a rápida assinatura de um cessar-fogo e a prioridade absoluta às negociações políticas (entretanto iniciadas).
Para se alcançar a Paz e a cooperação nessas negociações, terão sempre de pesar os legítimos e verdadeiros interesses de ambas as partes. Aumentar mais a anterior tensão político-militar na zona e atafulhar o território da Ucrânia com mais e mais armas, bem como os territórios contíguos com mais e mais concentrações militares, numa autêntica corrida armamentista entre a Rússia e a NATO, como está acontecendo, só vai dificultar as soluções e pôr em perigo mais e mais vidas humanas e inocentes. Uma corrida, também sustentada pelo governo português, mas que apenas interessa às elites e aos grandes grupos económicos, seja na Rússia ou nos EUA, por mais que se sacrifiquem com ela os povos da Ucrânia, tanto quanto os do Iémen ou da Palestina.
Uma corrida que manifestamente interessa a Ursula von der Leyen, atual presidente da Comissão Europeia, anterior ministra da defesa alemã que vendeu muitas armas à Turquia e à Arábia Saudita. Uma presidente que, ao anunciar as novas sanções da UE à Rússia em conferência de imprensa do passado dia 26 de fevereiro, distraidamente confessou que a Europa oculta e protege de forma deliberada os dinheiros roubados pelas elites, ao afirmar que, com as sanções agora aprovadas, as elites russas deixam de poder “continuar a esconder o seu dinheiro em portos seguros na Europa”!
Num mundo politicamente dominado pelo mercantilismo armamentista, narcotraficante e financeiro, nunca foi tão difícil e tão incómodo lutar pela Paz…

 

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