O pai mais horrível do mundo
Patrícia Carreiro

O pai mais horrível do mundo

Previous Article Previous Article Cristina Calisto reuniu com AIPA sobre a recepção de ucranianos
Next Article A fábrica de holocaustos A fábrica de holocaustos

“Um dia, meu filho, vais lembrar-te disso!”

Quantos de nós, por diversas vezes, já ouvimos esta frase e, inclusivamente, já a dissemos?
Muitas, certamente.
Quando somos pequenos, e achamos que o mundo é nosso e não há perigo em nada, os nossos pais dizem-nos constantemente para termos cuidado, para não irmos por ali, que eles estão preocupados e nós, que até nos podemos importar com o que eles dizem, queremos viver a nossa vida. Normal!
Muitas vezes disse à minha mãe que ela era chata e insistente e ela respondia-me regularmente: “quando fores mãe vais ver o que é”. Agora ela diz ao contrário: “já és mãe, já sabes o que é”. E é verdade.
Agora que sou mãe vejo tudo de outra perspetiva e de outro ponto de vista e também já sou apelidada de chata, naturalmente, por uma miniatura de mim mesma com quatro anos, em que me revejo diariamente; qual espelho de carne e osso.
Por isso, o livro O pai mais horrível do mundo, com texto de João Miguel Tavares e ilustrações de João Fazenda, numa edição da D. Quixote, fez-me pensar e repensar.
Os pais têm a função de fazer pensar e ajudar os filhos a crescer com a responsabilidade exigida para cada fase da nossa vida. Até quando eles também já são pais. Posto isso, este livro revela de uma forma simples, numa escrita escorreita que nos faz sorrir, a ligação entre um pai e um filho quando já passou a fase da adoração em que o pai ou a mãe são o mundo da criança.
Sim, o miúdo, com um cabelo vermelho que eu adorei, faz quase uma queixa ao leitor por todas as “maldades” que o pai lhe faz, mas se as palavras dão a razão ao menino, as ilustrações revelam toda a razão do pai; toda aquela razão que a criança – do alto da sua pequena idade – não consegue ver, nem perceber.
E mais do que palavras ou ilustrações bonitas, este livro tem uma mensagem que me tocou particularmente, pois apesar de este ser o pai mais horrível do mundo o menino nunca o larga, e ele próprio nem deve acreditar nas palavras que utiliza.
A relação amor-ódio entre pais e filhos é mesmo assim, agora sinto e compreendo, mas a verdade é que não vivemos sem eles, ou sem quem protagoniza este papel na nossa vida e nos educa, pois o pilar de quem nós somos vem de algum sítio.
Ninguém chega a lado nenhum só porque o corpo cresceu fisicamente, mas sim porque alguém nos orientou e nos fez seguir o nosso caminho.
Recomendo, por tudo isso, esta leitura para crianças, pais, educadores ou familiares apenas, porque esta sensação todos nós já tivemos e no fundo sabemos que os nossos pais sempre fizeram tudo aquilo que puderam, ou pelo menos o melhor que sabiam!

Boas leituras!

 

*Editora da 9idazoresnews.com
Diretora da Livraria Letras Lavadas

Share

Print

Theme picker