Paraplegia e paraparésia
António Raposo

Paraplegia e paraparésia

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Conselhos de médico

1 – A paraplegia é a paralisia total (e a perda de sensibilidade) dos membros inferiores. A paraparésia é quando a paralisia e a alteração da sensibilidade são parciais. Isto deve-se a uma interrupção das vias motoras (nervos) que percorrem a medula espinhal e nível dorsal ou lombar.
2 – Acontece maioritariamente entre os 15 e os 45 anos. É muito mais frequente no sexo masculino. A principal causa é traumática e resulta de acidentes de viação, acidentes de trabalho, quedas, agressões por arma de fogo, lesões na prática desportiva e em mergulhos.  As outras causas comuns são as infeções da medula (tuberculose óssea com compressão medular, sífilis, poliomielite, mielite transversa), tumores, hérnias discais graves e malformações congénitas, como por exemplo a espinha bífida. Lesões cerebrais ainda in útero, ou no primeiro ano de vida, podem desencadear paraplegia ou paraparésia. Existe também uma doença genética que se chama paraparésia espástica familiar.
3 – Os sintomas são a perda de movimento dos membros inferiores, a alteração da sensibilidade e a incontinência dos esfíncteres anal e vesical com incontinência.
4 – Existem de dois tipos de paraplegia, flácida e espástica. Na flácida os músculos ficam completamente “moles” com uma perda total do tónus muscular. Neste caso os reflexos osteotendinosos (aquele teste com o martelinho que os médicos fazem) estão abolidos. No paraplegia espástica existe uma hipertonia, com os músculos muito rígidos e os reflexos muito vivos.  Esta espasticidade “complica” muito a vida dos doentes com paraplegia.
5 – As principais complicações são: úlceras ou escaras de pressão; ossificações heterópicas (ao redor das articulações); osteoporose; hipotensão postural (baixa de tensão arterial quando o doente se levanta de deitado para sentado ou se o colocamos em pé em “aparelho” próprio); bexiga neurogénica; infeções urinárias de repetição; unhas “encravadas”; disrreflexia autónoma; trombose venosa profunda nos membros inferiores e deformidades variadas da coluna, das ancas, dos joelhos e dos tornozelos e pés.
6 – Na fase de instalação da doença o tratamento depende da causa que a origina. Na fase crónica os tratamentos deverão sempre ser orientados por médico fisiatra.Fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros de reabilitação, técnicos ortoprotésicos, assistentes sociais, psicólogos e outros são muito importantes para estes doentes que têm de aprender a viver com esta deficiência. Toda a atenção deve ser tida em conta para a prevenção destas complicações todas. Alternância de posicionamentos, almofadas anti escaras, posicionamentos em pé com “aparelhos”, mobilizações passivas, massagens, uso de meias elásticas, treino intestinal, treino vesical, treino em atividades da vida diária, treino de transferência, reeducação sexual, cuidados com a pele e com as unhas e muito mais.  Perante um doente com paraplegia toda a equipa que cuida destes doentes tem um desafio permanente. Apesar da doença não ter cura (mais propriamente a incapacidade), existe um trabalho que é necessário ser efetuado com muita persistência.  Alguns paraplégicos conseguem uma razoável qualidade de vida.
7 – Um doente paraplégico pode ser totalmente independente, não necessitando de qualquer ajuda de 3ª pessoa, utilizando algum tipo de dispositivo ou demorando mais tempo na realização das suas tarefas. A maior parte necessita de alguma supervisão ou ajuda que pode ser mínima ou máxima.

Nota 1 – A melhor coisa a fazer na paraplegia é a sua prevenção, com destaque para os acidentes de viação (use sempre o cinto de segurança), os acidentes de trabalho (cumpra as regras de segurança) e os acidentes de mergulho (não arrisque em sítios desconhecidos, em águas turvas ou em piscinas com pouca profundidade).
Nota 2 -Há uns anos passou aqui nos Açores um doente paraplégico que fez a travessia do Atlântico em avião monolugar. Quando estive no Centro de Reabilitação do Alcoitão (1987 a 1991) fiz parte da equipa que cuidou dele. Existem vários desportos para doentes em cadeira de rodas: basquetebol, várias especialidades no atletismo, boccia, tiro, tiro com arco, esgrima, rugby, ténis, ténis de mesa, vela, voleibol sentado (sem usar cadeira de rosas), etc.
Nota 3 – A pandemia da Covid – 19 ainda não acabou. Vale a pena manter as medidas de segurança.  

* Médico fisiatra
e especialista em Medicina Desportiva

 

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