Ecos de nós numa poesia que espelha tudo o que o Homem consegue ser!
Patrícia Carreiro

Ecos de nós numa poesia que espelha tudo o que o Homem consegue ser!

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O homem carrega medo e receio
E crava nos outros todo o seu desdém
Guarda o que tem, usa o que é alheio
Para a todo o custo se sentir alguém!

Bastariam estas palavras iniciais, citadas do poema “Egoísmo” de Luís Costa, no livro Ecos de Mim, para explicar todo o sentido desta crónica.
Neste momento, estamos exatamente como descreve este autor, independentemente de este livro ser datado de 2019. Há coisas que nunca mudam e a condição humana de ridicularizar o seu poder é uma delas.
Se por um lado há homens que criam guerras com armas reais que ferem e matam, menos verdade não é que outros homens conseguem fazer da escrita uma arma tão poderosa quanto útil no combate à descrença pelo nosso mundo, perdido e encontrado tantas vezes na sua própria História.
Conheci o autor do livro Ecos de Mim, o Luís Costa, numa visita à livraria Letras Lavadas e o livro, que não é meu, veio comigo para casa naquele dia.
Só o li agora, e já lá vão alguns meses desde que isso aconteceu. Grande asneira, digo eu! Este é um livro capaz de mostrar o poder de reivindicarmos com palavras, com ideias e ideais, sem nos armarmos de balas e bombas.
Luís segue neste livro, cuja arte visual pertence a Mónica Perestelo, uma lógica que parte dos ecos de si próprio, passando pelos ecos de outrem e chegando até nós sem qualquer esforço. Toda a ilustração deste livro nos faz sentir dentro dele, em cada poema lido e sentido.
Sempre ouvi dizer, e sempre senti, que a literatura é interventiva, que muda algo em nós e que nos faz, no mínimo, pensar e repensar.
O certo é que tenho descoberto na poesia um importante papel quanto ao desenvolvimento que queremos dar ao nosso mundo e ao nosso destino.
Luís Costa vai mais além e, no seu poema “Estado de alerta”, fala do quanto nos perdemos em nós próprios, sem sabermos bem onde vamos parar ou de onde saímos.
No desconhecido quero me perder
Talvez encontrar o que falta em mim
Nesta bebedeira deixar-me render
À luz do saber sou dono de mim
Mas donos de nós não somos mesmo, os últimos dias o comprovam; muitos estão a deixar tudo o que era seu, tudo o que – supostamente – lhes pertencia, e partem, sem saber até que segundo terão vida. E seremos nós donos de alguma coisa? De nada. Nem da nossa roupa, se esta fica numa casa que explode pela maldade da mente humana em segundos, quando trabalhamos dias, semanas, meses e anos para construir tudo o que tínhamos alcançado.
Por isso, em “Filhos da guerra”, Luís não se inibe e garante que
A guerra os afasta dos seus ideais
Sentem bem na pele a fúria do Homem
Tiram-lhes o pão os livros os pais
O riso e os sonhos o medo consomem!
Até da leitura privados ficam quem por estas atrocidades passam. Tanto que já pensei nisso. Tudo numa casa custa a deixar, mas quem se conforta nos livros deve sentir que a história que está a viver só pode ser um pesadelo, um livro com cenários de terror e, supostamente, pertencentes ao passado. Que falta me faria um livro num momento destes. Ou será que nem nisso pensamos em situações destas será?
O passado é hoje e por isso temos, cada vez mais, o “Mundo ao contrário”.
Por trás de sorrisos e roupas garridas
Usamos palavras que a todos seduz
Mas tudo o que somos são frases batidas
Com falsas modéstias queremos ser luz!

Das alegrias às tristezas, das realidades aos mundos irreais, este autor madeirense conquistou-me e acompanhou-me nos últimos dias e, por isso, a minha gratidão é imensa!

Boas leituras!

*Editora da 9idazoresnews.com
Diretora da Livraria Letras Lavadas

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