A guerra comprada
José Soares

A guerra comprada

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Transparência

Num elucidativo e bem articulado escrito do politólogo Jaime Nogueira Pinto no “Observador”, é narrada, em síntese, uma resenha histórica e política sobre as profundas causas que terão contribuído de sobremaneira ao nefasto final da jovem democracia ucraniana.
No sentido de compartilhar o mesmo e com a devida vénia, permito-me aqui deixar alguns extratos que refletem um Ocidente surdo (e agora mudo) sobre o descalabro infernal a que agora assistimos, impotentes. Nada justifica a carnificina nem os crimes de guerra que estão a ser cometidos pela Rússia de Putin, mas que tudo poderia ter seguido um caminho diferente e pacífico, é comprovado e historicamente certo, não fora as diversas negligências, imprudências e ignorâncias de um Ocidente americanizado.
E diz aquele escritor e comentador de Ciências Políticas:
“… A vitória do Ocidente na Guerra Fria resultou da aliança de uma tríade – Reagan, Thatcher, João Paulo II – que, alimentando a resistência polaca, rearmando militarmente e usando o bluff da SDI-Guerra das Estrelas, forçou Gorbachev a “reformar” o sistema, retirando-lhe aquilo que o sustentava – o medo.
Assim, as Repúblicas Soviéticas, usando as suas constituições “independentes”, abandonaram uma estrutura que era mantida pela hegemonia do Partido Comunista e pelo sistema securitário. Porém, uma das preocupações nas negociações finais entre americanos e soviéticos foi a salvaguarda de um certo espaço livre entre as fronteiras da NATO e da Rússia.”
“… Em 1998, numa entrevista a George Friedman para o New York Times, George Kennan, o grande inspirador da estratégia de contenção dos Estados Unidos face à URSS durante a primeira Guerra Fria, foi claro no aviso, quanto à política da Administração Clinton de expansão da NATO para Leste:
“Penso que é o princípio de uma nova Guerra Fria. Os russos vão reagir, gradualmente, de modo hostil, porque esta expansão vai afetá-los. Penso que é um erro trágico. Ninguém agora ameaça ninguém. E este nosso expansionismo faria os nossos Founding Fathers revirarem-se nas sepulturas. Comprometemo-nos a proteger uma série de países, embora não tenhamos nem os recursos nem a intenção de o fazer de um modo sério. A expansão da NATO foi uma decisão tomada de ânimo leve por um Senado que não se interessa particularmente por política externa.”
Em relação à Ucrânia, escreveu Henry Kissinger em 2014:
“O Ocidente deve perceber que, para a Rússia, a Ucrânia nunca pode ser apenas um país estrangeiro. A História da Rússia começou no que foi a chamada Rússia de Kiev. A religião russa disseminou-se dali. A Ucrânia fez parte da Rússia durante séculos e as duas histórias estiveram entrelaçadas desde então. Algumas das mais importantes batalhas pela liberdade da Rússia, a começar pela batalha de Poltava, em 1709, foram travadas em solo ucraniano. A frota do Mar Negro, o instrumento de projeção do poder russo no Mediterrâneo, está baseada, por um aluguer de longo prazo, em Sebastopol, na Ucrânia. Mesmo dissidentes famosos, como Alexandre Soljenitsin e Jozeph Brodski, insistiram que a Ucrânia é parte integrante da História da Rússia e, na verdade, da Rússia.”
Estas citações sobre o escrito do Professor Jaime Nogueira Pinto, elucida-nos e ajuda a compreender melhor os meandros da política internacional no que concerne ao Leste europeu e, sobretudo, diz-nos que ‘um tango é sempre dançado a dois’. Os peões deste triste xadrez são sempre os povos, vítimas colaterais que nada contam para os Senhores da Guerra.

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