Empaticamente falando
Andreia M. Pereira

Empaticamente falando

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Os Açores já enviaram mais de 50 toneladas de ajuda humanitária para a Ucrânia, segundo a comunicação social.
Estas notícias recordaram-me um exercício que fiz com os meus formandos da disciplina “A Falar é que a Gente se Entende”, integrada no bonito projeto da Academia Oste – Encontro de Gerações.
Abordando a comunicação feita em debates, a turma foi dividida em dois grupos, onde metade seria a favor do acolhimento de refugiados na sua família e a outra metade seria contra.
Era fácil escolher o grupo a que queriam pertencer, bastava optar por aquele que defendia o seu ponto de vista. Mas facilitismo não era o objetivo das nossas sessões.
Por isso, aleatoriamente, cada aluno foi colocado num dos grupos, independentemente da sua posição acerca do tema. O acordo era que, mesmo não estando na fração que defendia a sua opinião pessoal, se esforçassem para convencer os restantes de que a ideia que lhes havia calhado em sorte era a mais correta, utilizando o poder da argumentação.
De notar que quando o exercício foi feito, em 2018, a palavra “refugiado” não se conciliava com a palavra “europeu”. A imagem a ela associada envolvia, imediata e erradamente, burcas, islamismo, atentados e outras tantas ideias sobre o que se passavam lá longe.
Durante o debate, todos eles tentaram defender a posição que pertencia ao seu grupo. Um olhar mais atendo percebia o desconforto de alguns dos que estavam do lado da integração, com um ou outro piscar de olho ao lado opositor. Terminado o exercício, abrimos corações, sem ter que defender nada imposto, mas sim o nosso ponto de vista. A maioria confessou ter solidariedade, mas que não, na sua casa não os quereriam. Deu-se uma longa conversa sobre costumes, zonas de conforto e segurança.
Foi um momento de verdadeira sinceridade. Falámos com verdade, a de cada um, tendo em conta a sua realidade.
E encontrámos, entre nós, empatia.
Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses, “empatia é a habilidade de se imaginar no lugar de outra pessoa ou ainda a compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outro indivíduo.” Naquele momento, partilhássemos, ou não, as mesmas convicções soubemos ouvir o outro, respeitar a sua opinião e compreender o porquê daquela posição, mais ou menos extremada. Fomos empáticos.
Mas estaríamos a ter empatia com quem vivia a situação de ter de abandonar o seu país em busca de paz? Provavelmente não.
Os açorianos conseguem ser empáticos com o povo ucraniano?
Enquanto se tratar de reunir condições para que “lá longe” tenham mantimentos, seremos. E quero acreditar que também o seremos quando se tratar de os receber, pelo menos, nas nossas ilhas.
Ao contrário dos refugiados em que pensávamos em 2018, os que agora procuram porto seguro são nossos semelhantes. E assim sendo, a empatia surge mais facilmente porque ela é facilitada quando existem coisas em comum.
Voltando à nossa vida pacata e aos relacionamentos mais próximos, como poderemos demonstrar a nossa empatia, levando a um melhor relacionamento com o outro?
Daniel Sá Nogueira, coach, defende que se a empatia aumenta quando temos elementos em comum, então, se adotarmos elementos em comum na nossa comunicação, a empatia surgirá mais facilmente.
Através da Comunicação verbal: linguagem, palavras, tema, citações, modo de falar, repetir o que o outro diz, usar as metáforas e expressões do outro.
Através da Comunicação não verbal: gestos, tom e ritmo da voz, distância, postura, respiração e toque.
Aproxime-se da linguagem do outro, aumente a sua empatia e transforme as suas relações.
Nota: um abraço apertado aos meus formandos e a toda a equipa da Academia Oeste – Encontro de Gerações.

*Licenciada em Jornalismo e Comunicação, coach certificada, formadora em Comunicação e Desenvolvimento Pessoal

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