Bulimia e anorexia da informação
Dionísio Fernandes

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Ainda a invasão e a guerra.
Hoje, nas minhas redes sociais foram mais uns quantos de vela. São aqueles a quem (quem como se fossem gente, que não são) se podem chamar de russólogos que andam a espalhar desinformação, ou contra informação, do género (imaginem dos dias de hoje, com tanta informação): “a suposta invasão”, “a culpa é dos ucranianos”, e, “etc,etc”, etc, etc, porque nem vale a pena as destacar.
A quantidade de comunicações e informações, que nos chegam, sejam nos “caminhos” digitais ou convencionais, empanturra a pessoa, e gera uma espécie de constipação intelectual e comunicacional.
Do excesso dela, as pessoas põem para fora sem nada absorverem. A possibilidade da informação propiciar conhecimento ou da comunicação ceder lugar ao diálogo é quase nula.
Não tenho dúvidas de que o mundo, cada vez mais tecnológico, convergiu comunicação e informação, possibilitando uma interconexão monstruosa entre os seres humanos e uma explosão de conteúdos circulando, mas isso, entretanto, garante conhecimento?
Alguns minutos depois de ter apagado as minhas mensagens nas redes sociais, dou de caras com 125 novas publicações. O que torna impossível acompanhar o frenesim  das informações que circulam por aí. Esse nervosismo vem acompanhado por uma instantaneidade das coisas, bem na perspectiva abordada por Bauman, quando dizia  que vivemos uma vida da descartabilidade e que o nosso mundo é líquido, porque tudo se desfaz e escapa, quando tão logo aparece.
Na TV não há necessidade de separar as coisas, pois elas já vêm um pouco organizadas. A informação, por exemplo, diz respeito às narrativas humanas, aos acontecimentos triviais ou extraordinários da vida; E a comunicação, que tem a ver com a interação das pessoas, corresponde a possibilidade de alguém dizer algo a alguém; o conteúdo aqui entendido como os elementos que vão compor as informações e a própria “argamassa” da comunicação.
Nas redes sociais também temos isto, embora tenhamos de ser nós a separar as duas coisas. Acresce-se a tal contrainformação que escrevi antes.
A falsa comida de informações que engolimos faz-nos sentir (alguns de nós, claro), temporariamente, saciados, mas não alimentados do ponto de vista do conhecimento.
A poluição da informação e comunicação parece gerar o fenómeno do regurgimento da informação, ou seja, as pessoas reproduzem o mais do mesmo para serem consumidas, mesmo que seja na impossibilidade de absorver tudo que se produz.
Voltando à guerra.
Para terminar escolhi um poema de Serena Santorelli:
A maldade surpreende-me sempre.
Quando a pressinto, fico ali a olhar para ela,
como se fosse uma besta, da qual, não sei defender-me.
E apesar de nunca me tornar grande, o suficiente,
para aprender a entendê-la,
nunca me tornarei tão pobre para aprender a praticá-la.
Boa semana
Na esperança que tudo isto já tenha acabado quando me voltarem a ler.
Haja saúde

 

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