A velha Europa e os quatro cavaleiros do Apocalipse
Lúcia Simas

A velha Europa e os quatro cavaleiros do Apocalipse

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“A ideia de uma vida diferente das fronteiras ditadas pelos outros é já supor outra vida e pode ser que daí surja o conflito que temos. Cada vez somos mais complicados e simples. Cada vez há mais razões para viver e não se aprende nunca. O nosso ambicioso quotidiano quer ultrapassar antinomias entre a “quotidianidade – festividade” com um forte colorido para os mais banais acontecimentos.”

 

A velha e primitiva estátua do grande explorador o primeiro a atravessar toda a Ásia, Bento de Góis inaugurada pelo seu centenário em 1907, bem como o pedestal alegórico, da maior beleza foram relegados para canto obscuro. Hoje o belo pedestal foi desterrado para o cemitério. Toda a estética do fim do século dezanove celebrava ventos de mudança num misto de nostalgia e orgulho pelos tempos dourados das descobertas e dos exploradores em busca de uma globalização que se concretiza agora. Quem se lembrará disso ou olhará para o rosto esculpido do explorador tão louco por um sonho?
As revoluções, sangue, mortos e lágrimas, que por aqui passaram quem se recordará? As lutas, paixões, ideais morreram há muito num pacifismo amorfo. O pensamento voa baixo por roda de penedos, tubarões e proezas de um dia fugaz como as tempestades da ilha.  
Quantos séculos foram precisos para ser possível de  se realizar este quotidiano tão banalizado de agora?
As armas e os barões … para onde foram? E o Adamastor que chora, mais a linda Inês posta em sossego. Batalha de Ourique, Por Santiago! A eles!
Um jogo amanhã com milhares de adeptos a espreitar na janela de televisões obedientes e ronronantes. Nem um gato na rua… Um bando de pombas ainda vagueia, sem falta de migalhas. Gordas quase nem voam.
Os privilégios deste rapaz vieram bem devagar por entre mortos e sacrificados esquecidos, lentamente, por muito longas e pacientes gerações de homens e mulheres anónimos que lutaram mais pela sobrevivência do que pela felicidade ou infelicidade.
No século XVII, Saint-Just, citado por Henri Lefèbvre (1968) espantava-se por surgir essa palavra felicidade e também arrastava a infelicidade, novidade em França e no Mundo. Em breve ao conceito de progresso vinha juntar-se a felicidade, acompanhado do optimismo
Será que estes conceitos, tão vulgares, guardam o mesmo sentido para a condição humana nos tempos que correm bem ligeiros?
Ficou conhecida a frase de um dos maiores estrategas de todos os tempos, Clausewitz (1788- 1839 associava a guerra e a política: “A guerra é a continuação da política por outros meios” a argumentação de Clausewitz sintetizava-se pela superioridade da defesa, enquanto elemento de dissuasão e táctica de combate, pois ela permitiria logo o desgaste do invasor em uma guerra de atrito até à possibilidade de escolha do momento correto para contra-atacar as forças adversárias. “é a política, e não as armas, que cria o perigo” mas Clausewitz repensado por Aron viu na “Guerra Absoluta “o uso de armas nucleares. O que ocorreu no Japão não se pode caracterizar como guerra diante da incapacidade de retaliação. Um cenário de guerra nuclear, a ação recíproca dos oponentes resultaria, num apocalipse nuclear.
É, portanto, evidente que diante de tal irracionalidade do uso do armamento nuclear, a dissuasão passa a ser o ponto central na atualidade. O medo, algo que Bauman colocaria como “líquido” e o da guerra, como pensava Kant, manteria os povos pacíficos. Porém o armamento da Europa face ao poder da Rússia foi negligenciado. Está desgraça resulta de se julgar que os “4 Cavaleiros do Apocalipse “ são um quadro se há séculos. Não são.
Não tardará que europeus ingénuos e de olhos fechados se agitem, porque não há gasolina ou telemóveis novos cada 15 dias...
A demência e a incultura são totais! O Ocidente não entende que o Urso Russo, tem de estar rodeado de florestas que são terra de ninguém... Não tem nada a ver com um Clube de Caçadores.
Mas os Dados estão lançados. As negociações só têm hipótese quando: Ucrânia diga que adie sine die a Adesão Nato ou fica neutral enquanto a Crimeia e o Oriente do Oriente da Ucrânia ficam na esfera Russa, talvez com um estatuto especial. Seria preciso que as tropas Russas se retirem totalmente num prazo razoável e rápido. Entretanto uma força da UN vigiaria a zona desmilitarizada da Ucrânia na fronteira.
E esperar que daí a 20 anos, os Russos se encham de Putin e um Czar mais liberal seja o avô duma futura Rússia
A ideia de uma vida diferente das fronteiras ditadas pelos outros é já supor outra vida e pode ser que daí surja o conflito que temos. Cada vez somos mais complicados e simples. Cada vez há mais razões para viver e não se aprende nunca. O nosso ambicioso quotidiano quer ultrapassar antinomias entre a “quotidianidade – festividade” com um forte colorido para os mais banais acontecimentos.
Se Lefèbvre via um conflito entre festa e vida, ultrapassa a antiga ideia do destino, de futuro traçado, mais ou menos seguro, agora também esse novo espírito da festividade pulula por todo o lado, chega a quebrar rotinas com gente que quebra as regras num tempo só de frágeis limites, numa gare, num Centro Comercial ou até nas ruas, desata a cantar ópera, a tocar ou cantar em coros e rompem as malhas do quotidiano.
Uma inesperada festa com alegria para todos é o último sonho de uma Europa adormecida. Desejo de festa já semeado nas escolas, pois se quer que se aprenda brincando, quebrando antigos realismos que se revoltam de serem seguidos para não haver nada para seguir senão a flauta do tocador louco. A festa a repetir-se numa vertigem em que apenas uma vem seguir a outra torna o trabalho um intervalo e a criação um mito passado? Quantas perguntas, enquanto a guerra se esquece nos livros fechados e bate na face atónita dos cegos e ingénuos?. Agora, ao longe as guerras dos outros que somos nós. No aeroporto, na praça, na estrada, em trânsito de viagem, o desafio do destino dos povos e suas guerras em nome da paz.

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