Mais de um milhar de pessoas já migraram na ilha de São Jorge
Diário dos Açores

Mais de um milhar de pessoas já migraram na ilha de São Jorge

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Mais de mil pessoas, residentes do concelho das Velas, já migraram para outras paragens, muitas delas alojando-se em casas de familiares e amigos no concelho da Calheta, segundo fontes autárquicas.
Outras, poucas dezenas, optaram por sair da ilha.
Também os 85 utentes da Casa de Repouso João Inácio de Sousa, localizada nas Velas, foram retirados do lar e levados para a Calheta devido à crise sismovulcânica, revelou o Presidente da instituição.
Em declarações aos jornalistas, Paulo Silveira, Presidente da Casa de Repouso, revelou que a operação foi “preparada” com a Proteção Civil e com a Câmara Municipal de Velas.
Os idosos, a “maior parte com mais de 80 anos”, seguiram para a Calheta, o outro concelho da ilha.
“26 utentes seguiram para a Santa Casa da Misericórdia da Calheta, para o lar. Os restantes foram para a pousada da juventude”, especificou.
Paulo Silveira avançou ainda que os utentes estão a ser acompanhados pela psicóloga da instituição.
“Os idosos estão receosos, mas têm uma certa calma. Temos tido um diálogo permanente com eles e tivemos o cuidado de explicar a situação. Como sabe, com a idade que têm, não é fácil. Ficaram ressentidos, estão calmos e esperamos que corra tudo bem”, assinalou.
E acrescentou: “A maior parte deles tem a memória do sismo de 1964 e têm a memória do sismo de 1980. E agora [têm presente] o sismo que recentemente houve nas Canárias. Portanto, as pessoas estão preocupadas com a situação. É natural”.
Durante a tarde de Quinta-feira, várias pessoas acorreram ao terminal marítimo das Velas e ao aeroporto para abandonar a ilha de São Jorge.
O Presidente do Governo Regional anunciou um reforço das ligações marítimas e áreas para São Jorge, para permitir a saída da população que o desejar fazer.

Mau tempo poderá provocar
desabamentos

O Presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), Rui Marques, alertou que a chuva prevista desde ontem e durante o dia de hoje, conjugada com a crise sísmica, pode provocar desabamentos em São Jorge.
“Poderá esta conjugação de factores, a saturação dos solos com a sismicidade que estamos a registar, promover ou desencadear movimentos de vertente que, no caso da ilha de São Jorge, tradicionalmente são desabamentos que estão associados a materiais rochosos muito fraturados”, afirmou em declarações aos jornalistas.
Rui Marques falava após ter participado numa reunião com o Presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, com o Presidente da Câmara das Velas e com os responsáveis da Protecção Civil, em São Jorge.
O responsável do CIVISA afirmou que, neste momento, se está perante uma “crise sísmica dentro daquilo que é um sistema vulcânico activo”, podendo ocorrer uma erupção ou um sismo de maior magnitude dos registados até ao momento (a maior magnitude registada até agora foi de 3,3 na escala de Richter).
“As duas hipóteses estão em cima da mesa”, salientou.
Rui Marques acrescentou ainda que o CIVISA, que tem neste momento sete elementos na ilha de São Jorge, está a “aumentar a capacidade de monitorização” através da “implementação de mais estações sísmicas” e de “três estações de monitorização para analisar deformação do terreno”.
O responsável do CIVISA explicou também que o nível de alerta vulcânico de V4 é o mais alto possível para a actual situação, porque o nível V5 só pode ser accionado em caso de erupção.

Empresários de S. Jorge
preocupados

A Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo e o Núcleo Empresarial de São Jorge estão preocupados com “os efeitos” da crise sismovulcânica “na economia local”, alertando que “se poderão agravar, caso a situação perdure ou piore”.
“A Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo e o Núcleo Empresarial da Ilha de São Jorge estão a acompanhar de perto e ao minuto a crise sísmica que se está a fazer sentir na ilha de São Jorge, desde o passado dia 19 de Março, nomeadamente os efeitos que a crise está a ter na economia local”, lê-se num comunicado enviado às redacções.
Desde a tarde de Sábado que a atividade sísmica na ilha de São Jorge “continua acima do normal”.
Num comunicado, as direcções da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) e Núcleo Empresarial de São Jorge referem que “a situação está a gerar naturais preocupações junto da comunidade local”.
“A situação merece todo o apoio e solidariedade, por parte da CCAH, sobretudo por se tratar de uma ilha da área de abrangência da Associação Comercial, com laços históricos e comerciais profundos com as ilhas Terceira e Graciosa, que muito aproximam as populações”, lê-se no mesmo comunicado enviado pela CCAH, a associação empresarial das ilhas Terceira, Graciosa e São Jorge.
A CCAH e o Núcleo Empresarial adiantam que emitiram “um ofício à Presidência do Governo Regional a transmitir as preocupações e a demonstrar disponibilidade total para dar todo o apoio necessário, dentro das suas competências, ao tecido empresarial da ilha de São Jorge”, com vista a “mitigar os efeitos nefastos que já está a ter, e que se poderão agravar caso a situação perdure no tempo ou piore”.
Está também “a ser preparado um conjunto de propostas de medidas concretas a apresentar ao Governo Regional, caso a situação assim o justifique”, acrescenta a associação.

Autoridade Nacional pronta
a ajudar nos Açores

A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) revelou que está a acompanhar “ao minuto” a crise sismovulcânica em São Jorge, nos Açores, e actualizou o plano de resposta para uma missão de apoio a uma região autónoma.
“O acompanhamento está a ser feito ao minuto. O Serviço Regional de Proteção Civil dos Açores está em permanente articulação com a ANEPC, ontem [quarta-feira] houve uma reunião especial do Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON) com elementos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e também do serviço regional para dar nota do ponto de situação”, disse aos jornalistas a Secretária de Estado da Administração Interna.
Patrícia Gaspar, que falava à margem da partida do material doado por Portugal à República da Moldova ao abrigo do Mecanismo Europeu de Proteção Civil devido à guerra da Ucrânia, frisou que tem sido manifestada “toda a disponibilidade para ajudar naquilo que vier a ser necessário”, ressalvando que a Região Autónoma dos Açores tem autonomia.

Missão com destino aos Açores

Também o Presidente da ANEPC, Duarte da Costa, afirmou aos jornalistas que a Protecção Civil está a acompanhar a situação nos últimos três dias, mas devido “ao evoluir da situação e em conversa com os presidentes do IPMA e do Governo Regional” foi decidido activar na Quarta-feira o CCON  (Centro de Coordenação Operacional Nacional) extraordinário “só para tratar a questão dos Açores”, nomeadamente o tipo de resposta.
Duarte da Costa explicou que a reunião de Quarta-feira serviu também para actualizar o plano de resposta a pedido para uma missão de apoio a uma região autónoma.
“Esse plano era de 2019 e agora foi atualizado com data de 2022 e estão apresentados os cenários fundamentalmente de equipamento, pessoal e volumetria daquilo que é ajuda que pode ser dada, não só na perspectiva da ANEPC, mas também dos outros agentes, INEM bombeiros, GNR e PSP”, frisou.
O mesmo responsável sustentou que a monitorização da situação está a ser “feita ao minuto”.
Perante este cenário, o executivo açoriano recomendou à população com maiores vulnerabilidades da principal zona afectada, entre Velas e a Fajã das Almas, que abandone as suas casas.
Também a Protecção Civil dos Açores ativou o Plano Regional de Emergência devido à elevada atividade sísmica que se regista em São Jorge desde sábado.
Os planos de emergência municipais dos dois concelhos da ilha, Calheta e Velas, também já foram atcivados.

Marcelo falou com Bolieiro

O chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, falou com o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, para se inteirar da situação na ilha de São Jorge, onde ocorre uma crise sismovulcânica.
De acordo com uma nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa “falou esta manhã ao telefone com o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, que está na ilha de São Jorge, onde pernoitou, e que lhe explicou a situação”.
José Manuel Bolieiro informou o Presidente da República das “medidas tomadas e previstas pelo Governo Regional, salientando a compreensão da população quanto ao fenómeno sísmico em curso e quanto à necessária prevenção”, lê-se na mesma nota.

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