O Futuro joga-se na História mundial
Lúcia Simas

O Futuro joga-se na História mundial

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“Vou ser claro (…) toda a história humana é a história da transição das formas nómadas para formas cada vez mais sedentárias. Não derivará daí que a forma extrema de vida (a nossa) é simultaneamente a mais perfeita? Os homens desceram de um extremo do mundo para outro, nos tempos pré históricos, quando havia coisas como nações, guerras, traficâncias, a descoberta de várias Américas. Mas quem é que precisa de tais coisas, para fazer o quê com isso? “Evgueni Zamiatine Nós””p.24-25.”

As distopias do século XX foram sucessoras do escritor russo, Evgueni Zamiatine, (1884-1930), antecipa as mais conhecidas distopias mostrando uma estratégia social que permite uniformizar e controlar o pensamento num único totalitário. Em “Nós” os indivíduos são apenas números com o triunfo da racionalidade matemática. Em “Nós”surge uma sociedade arrepiantemente perto da era digital e tecnológica para onde caminhamos.

Oswald Spengler, ( 1880 –1936 com “O Declínio do Ocidente” historiador e filósofo, fascinou a Europa pois surgiu num momento em que aplicou uma morfologia à História. Com cariz pessimista apresentava as sociedades como orgânicas e biológicas vindas da Filosofia da Natureza. A reformulação da narrativa história que Spengler engendrou denunciava a historiografia como se as culturas fossem organismos vivos escritos muito depois dos acontecimentos e tecidos de fábulas e mitos. O seu discurso europeista  tornou-se imperativo  ler. Os leitores dividiram-se em admiradores e adversários. Spengler utiliza a natureza como exemplo e aplica-o ao mundo das formas históricas: as formas passariam por as diferentes etapas das sociedades juvenis, crescimento, florescimento e declínio, “designações de estados orgânicos” aplicados à História. Tal acontecia com qualquer cultura no que há de característico nos destinos e o que existe de necessário na incoercível abundância de acontecimentos casuais”. Assim após uma cultura florescente, a História tal como um organismo vivo ou a própria Natureza teria uma fase superior de cultura, seguindo-se a civilização e o seu declínio.

O entusiasmo por Spengler enquadra-se clima intelectual e artístico do período de La Belle Époque. Vivia-se uma era de ouro da beleza, inovação e paz europeia. Enquanto novas invenções deslumbravam e alteravam todos os níveis sociais, a cena cultural no dizer de Ortega Y Gasset enchiaas praças, cafés e ambientes de entusiasmo das massas com o cinema e a Arte Nova muito controversa. A cultura urbana de divertimento das massas e libertou um imprudente desinteresse pelos efeitos de tais transições. Os planos económicos e políticos pareciam secundários.

Em França 1848 foi politicamente uma derrota que se transformariamais tarde na vitória de uma classe operária levada pela força do proletariado unido e desesperado da Comuna de Paris em 1871 que fez tremer o poder da monarquia burguesa de Napoleão III.  O marco da Comuna de Paris, tornou-se numa referência nos debates filosóficos e políticos entre os intelectuais, ao longo do século XX.

   Ironicamente, a Europa sentia que tudo isso num paradoxo irredutível. A “Belle Époque”, foi um tempo de contrastes e de mudanças com um aumento espantoso de descobertas e inventos que coloriam de um “novo mundo” com maior bem estar e estilo de vida citadino. Após o cessar dos conflitos externos com a Prússia e internos com a Comuna, abriam-se horizontes de nova era.
Entretanto o extraordinário chanceler imperial, Bismarck (1815-1898), estadista de renome universal visava como grande objetivo a consolidação do novo estado germânico. Com a sua genial estratégia obrigou os franceses a uma declaração de guerra e a sofrer uma pesada derrota em Sedan. Para imensa humilhação dos franceses colocou Guilherme II como imperador na “Sala dos Espelhos” em Versalhes. Após a unificando interna da Alemanha, o “Chanceler de Ferro” foi ingratamente afastado do poder pelo orgulhoso Imperador que o temia. Os franceses recuperaram uma monarquia burguesa com o regresso de Luís Napoleão ao poder e uma crescente indústria em que se distinguiu a Fábrica Peugeot com o apoio manufactureiro da imperatriz Eugénia de Montijo e a invenção da moda das saias  com arames que foram divulgadas como crinolinas a que se seguiram outros inventos.

A visão superficial da sociedade anunciava uma paz que escondia feridas bem profundas das guerras. As discussões políticas, as suspeitas de espionagem, o caso do processo do Capitão Dreyfus, que fez furor entre os franceses ou a condenação à morte da bailarina Mata-Hari inflamava a opinião pública por suspeitas de espionagem, internamente, entre franceses e alemães por trás dos dias de “rose and wine” mostravam sinais de grandes descontentamentos e suspeitas do progresso.

Tal como o pensamento de Comte ao proclamar que a “ordem e o progresso não haveria mais razões para as guerras. Os mais prudentes teimavam numa “paz armada” e num poder militar e tecnológico que ameaçava o horizonte.  

Ao aproximar-se a Grande Guerra “IlPapagallo” ridiculariza: É a confusão geral. A Triplice Alliance patina com a Paz armada. O Vaticano cai desastradamente. A infeliz Rússia cai e ninguém a ajuda (…) O inglês, patinador exímio, anda de um lado para o outro a ver onde cai dinheiro, o Americano deixa-o em paz. A Hungria quer libertar-se. Os Estados Balcãs divertem-se com o Turco. A Alemanha e sua companheira Áustria seguem a China, sem saber se fala a sério ou estar a troçar de tudo.

Entravámos no que se dizia ser “A Guerra que acabaria com todas as guerras” quando afinal o século passado foi o mais terrível na História mundial e quem mais entende de política é o comentador de cada hora.

 

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