Ainda que naturalmente sensibilizados pela narrativa hollywoodesca do corajoso herói (Zelensky) que faz frente à poderosa ofensiva militar do carniceiro (Putin), por este caminho, no entanto, para desgraça em primeiro lugar dos povos da Ucrânia e da Rússia, mas também dos restantes povos europeus mesmo dos mais afastados da zona de guerra, como Portugal, a Paz no leste europeu permanecerá violentamente interrompida.
Acentuado a destruição e morte em cada dia que passa, com origem no golpe de estado de 2014 apoiado pela Nato e pela União Europeia (UE) e seguida agora da invasão da Rússia, na continuidade desta guerra, que é tudo menos romântica, jogam os interesses político-militares da administração russa no terreno, já impossibilitada de recuar incondicionalmente na fase atual, e os interesses político-militares da administração norte-americana à distância, que nada tem a perder com um conflito a decorrer bem afastado das suas fronteiras geográficas e que lhe permite aumentar consideravelmente o volume do negócio das armas e dos combustíveis fósseis, em especial do gás, tal como Biden já contratou com a UE na sua visita da passada semana à Europa.
Por outro lado, entre muitas hesitações estratégicas e exigindo o apoio militar e sancionário de todo o mundo contra a Rússia, do governo ucraniano fica a impressão de que ambiciona derrotar o adversário pelas armas (incluindo a derrota dos seus ex-compatriotas na região de Donbass) e pela falência económica, o que não parece de todo possível e apenas acentuará o sofrimento e a desgraça tanto dos ucranianos como dos europeus no seu conjunto, podendo até descambar para um conflito nuclear, ou seja, uma catástrofe, certamente derradeira, estendida a toda a humanidade.
Neste cenário seria legítimo esperar da União Europeia, enquanto direta e fatalmente atingida pelas terríveis consequências duma guerra dentro de portas, uma atitude firme na procura da Paz, no respeito pelos acordos da ONU e de Helsínquia, com vista a uma rápida solução diplomática para o conflito.
Mas não! O poder da UE e da sua Comissão, tal como na Rússia ou nos EUA, parece estar a transitar para uma oligarquia belicista e pouco democrática.
Belicista porque, ao contrário do Papa, face à ofensiva russa na Ucrânia, a UE respondeu de forma apressada e imprudente, atrás da Nato, com a urgência de um considerável reforço armamentista e militar dos países membros, com um grande aumento do apoio armamentista ao governo ucraniano e com a imposição de sucessivas sanções à Rússia cujo ricochete económico se fará sentir em breve de forma muito negativasobre os setores chave das economias e no aumento das despesas dos europeus com bens e serviços essenciais.
Pouco democrática porque (com o aval anticonstitucional do governo português)a EU resolveu insinuar-se como proprietária das formas de pensar dos cidadãos, tentando criar um discurso e um pensamento únicos sobre esta guerra (de acordo com a versão hollywoodesca atrás referida) e atacando tudo e todos aqueles que se desviam desse discurso, censurando jornais, espetáculos e outras manifestações culturais, bloqueando plataformas digitais, impedindo atos desportivos e atletas de concorrer. Promovendo ainda, entre os seus cidadãos, comportamentos discriminatórios e xenófobos pró-ucranianos e anti-russos, ou mesmo anti-ucranianos russófonos (os “pretos da neve”), que estão já abrindo graves feridas humanas, difíceis de cicatrizar no futuro.
Por mais que a narrativa hollywoodesca nos queira impor a lógica da confrontação e da elevação das tensões, “A Paz não se constrói alimentando a guerra”! Uma conclusão carregada de significado e razão apresentada pela jornalista Teresa Nóbrega neste jornal, na passada quinta-feira.