Publicidade Catastrófica
Teresa Nóbrega

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Um madeirense que entre nós se radicou e aqui viveu as últimas décadas da sua vida muito apreciava a nossa beleza paisagística e acreditava nas nossas potencialidades turísticas. Manifestava sempre o seu desacordo com a ideia predominante na população local de que o turismo não vingaria nos Açores devido ao clima destas ilhas de bruma, comparativamente com a Madeira. Na sua opinião o clima dos Açores não era tão mau como se dizia nem o clima da Madeira era tão bom como se fazia crer. Para ele, o principal óbice ao desenvolvimento do turismo nos Açores era a falta de vocação turística da população.
 Outra ideia obsessiva da população açoriana sobre o turismo, que lhe merecia comentários, era de que o turismo iria estragar a pureza do nosso ambiente e deixar por todo o lado uma pegada de sujidade. Esclarecia que na Madeira se tinha passado exactamente o contrário. O turismo havia originado um maior cuidado com o património natural e edificado e para com as tradições, usos e costumes, pois tudo isso faz parte do produto turístico que era necessário acautelar. Estava muito longe de supor que seriam os próprios açorianos que iriam conspurcar (eutrofizar, assim se diz em português técnico) a nossa maior riqueza paisagística, as lagoas de São Miguel.  
Vem tudo isto a propósito da publicidade institucional com que temos vindo a ser bombardeados nos últimos dias no horário nobre da rádio e da televisão públicas. O bloco publicitário, que apenas deveria conter informação sobre procedimentos de segurança, começa de forma catastrófica dizendo textualmente: “OS AÇORES SÂO UMA REGIÂO SUJEITA A CATÀSTROFES, COMO SISMOS, TEMPESTADES, ERUPÇÔES, ENTRE OUTRAS”. Na televisão a voz “off” é reforçada pelo texto escrito que acompanha gravuras representativas de cada desgraça enunciada. Uma autêntica catástrofe para uma região que aposta no turismo.
Cada vez mais a segurança é dos factores importantes num destino turístico. Uma insistente campanha publicitária governamental que apresenta um destino turístico como uma região de catástrofes, só no reino do absurdo. Impensável de acontecer em qualquer outro destino turístico do planeta.
Parecido já tínhamos visto nos anos 80. Uma Secretaria Regional investia no combate à eutrofização das lagoas enquanto outra Secretaria continuava a subsidiar o arroteamento de terrenos para pastagens nas bacias hidrográficas das mesmas lagoas. Mas nada era publicitado.
 À primeira vista esta publicidade está em linha com o discurso do Presidente e da sua emblemática frase “antes excessivos na prudência do que negligentes na acção”, que não se cansa de repetir. Pensando bem sobre este pensamento carregado de negativismo, há algo que não bate certo, pois o excesso de prudência paralisa a acção. Não ficaria melhor retirar os excessos e a negligência e ficar pela PRUDÊNCIA E DILIGÊNCIA NA ACÇÂO? É preciso medir as palavras e ter em conta a sua carga simbólica.


*Jornalista
A autora escreve segundo a anterior ortografia

 

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