Nené Carreiro: O Melhor Fundista da História do Atletismo Açoriano
Eduardo Monteiro

Nené Carreiro: O Melhor Fundista da História do Atletismo Açoriano

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Desportistas do meu tempo

José de Sousa Medeiros Carreiro (Nené Carreiro), atleta dotado de uma extraordinária condição fisiológica e um perfil psicológico próprio de um grande campeão, dominou as corridas de meio fundo e fundo do atletismo regional na década de oitenta. Naquela altura, Portugal vivia um dos seus  momentos mais altos dos fundistas, através das proezas de Carlos Lopes, Fernando Mamede, Rosa Mota, António Leitão, Helder de Jesus e tantos outros. Nos Açores, o Nené Carreiro, nascido na freguesia de S. José, Ponta Delgada, terceiro filho de uma família de dez irmãos, era a grande estrela dos fundistas do arquipélago. Aos 18 anos de idade vence uma prova de estrada em S.Miguel e a partir daí (1984), sob a orientação técnica do Prof. Fernando Melo, começou a destacar-se nas provas de corta mato, estrada e de pista.
Durante a época desportiva (1984/85), nas provas de Estrada/Corta Mato: foi 7º na Meia Maratona Internacional das Açoteias, 2º no Grande Prémio do Natal (Terceira), 2º na 26ª Volta ao Funchal (Madeira), 3º no Grande Prémio dos Reis (S.Miguel), 12º no Cross Internacional das Amendoeiras em Flor (Algarve).Nas provas de Pista, bateu por cinco vezes os seguintes recordes açorianos (8.31,9) nos 3.000 metros; (14.55,0 e 14.40,0) nos 5.000 metros e (31.22,0 e 30.13,5) nos 10.000 metros (Lisboa).

Na época (1985/86), provas de Estrada/Corta Mato: 6º na Meia Maratona Internacional das Açoteias (Algarve), 8º na Corrida do Pão de Açucar (Lisboa), 1º na Grande Prémio do Natal (Horta), 1º na 22ª Corrida de S.Silvestre (Ponta Delgada), 1º na Meia Maratona Rosinha Volei Clube (Ponta Delgada), 1º na IV Grande Corrida da Páscoa (Ponta Delgada). Nas provas de Pista obteve as seguintes marcas: (8.47,0) nos 3.000 metros (Campeonato Nacional Inverno), (8.31,4) nos 3.000 metros (Torneio Nacional Sub-23), (14.44,2) nos 5.000 metros (Torneio Nacional Sub-23), 1º (31.31,2) nos 10.000 metros (Campeonato Regional) (S.Miguel) e (30.13,9) nos 10.000 metros (Campeonatos de Portugal-Pista Estádio José Alvalade).
Na época seguinte (1986/87) participou nas provas de Estrada/Corta Mato obtendo as classificações: 1º no Grande Prémio do Natal (Ponta Delgada), 1º na 28ª S.Silvestre do Funchal (Madeira), 1º na 23ª S. Silvestre de Ponta Delgada, 3º na Meia Maratona da Terceira, 3º na Grande Corrida de S. Pedro (Ribeira Grande). Nas provas de Pista obteve as seguintes marcas nos 3.000 metros: (8.30,5) Associação de Lisboa, (8.33,8) Campeonatos de Portugal de Inverno, (8.26,13) Associação de Lisboa(actual recorde Açores)  e (30.57,3) nos 10.000 metros (Asssociação de Lisboa).
Entretanto, no início da época de 1987/88 o Nené Carreiro sofreu um acidente de viação que o abalou muito do ponto de vista psicológico, e que o impediu  de treinar com regularidade devido às lesões resultantes do acidente. Contudo, ainda conseguiu recuperar de modo a poder participar em duas provas de estrada Corrida da Lagoa (29.Nov.87) e 24ª S.Silvestre de Ponta Delgada (31.Dez.87) tendo sido vencedor de ambas. No entanto, as lesões contraídas impediram-no de correr nas provas de pista. A época seguinte (1988/89) foi idêntica à anterior tendo repetido as vitórias na Corrida da Lagoa (28.Nov.88) e 25ª S.Silvestre de Ponta Delgada (31.Dez.88) contabilizando 7 vitórias nesta última.
Os recordes do Nené Carreiro ainda são uma referência na medida em que  a marca de (30.13,5) nos 10.000 metros obtida em (27.Abril. 1985) e a marca de (8.26,13) nos 3.000 metros efectuada em (12.Julho.1987) ambas realizadas em Lisboa, ainda são recordes regionais açorianos. O então recorde regional de (14. 40) nos 5.000 metros alcançado pelo Nené Carreiro em (6.Junho.1985)já foi melhorado.
Entretanto, em princípios de 1989, o Nené Carreiro emigrou com a família para as Bermudas, regressando a S.Miguel cerca de dois anos depois. 
Há 35-40 anos atrás o maior problema que os atletas e os treinadores enfrentavam era a inexistência de pistas em material sintético. Os treinos e competições eram realizados em pistas de terra batida, o que em nada contribuíam para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das corridas, saltos e lançamentosespecíficos do atletismo. A competição com atletas mais evoluídos apenas se verificava nas corridas de Estrada através da presença de atletas do continente nalgumas meias maratonas e grandes prémios do Natal e S.Silvestre. Progressivamente, o Nené Carreiro foi competindo no continente em provas nacionais e internacionais com reflexo na melhoria dos tempos nas diversas especialidades de pista, cross e estrada. Apesar destas dificuldades o Nené Carreiro era o atleta açoriano que “batia o pé” aos atletas continentais nas provas realizadas nos Açores. Nas S.Silvestre de Ponta Delgada, a avenida marginal enchia-se de gente e no colorido das camisolas dos atletas ouvia-se : “Vai Nené , vai com eles”. Nené Carreiro, um nome que ficará na história do atletismo e do desporto açoriano como o melhor fundista de sempre. Foi vencedor por sete vezes da tradicional S. Silvestre de Ponta Delgada (1977, 1979, 1983, 1985, 1986, 1987  e 1988). Passados cerca de 40 anos, o Nené Carreiro ainda é dono dos recordes açorianos de 3.000 e 10.000 metros. É caso para dizer: Quando é que vamos ter um novo Nené Carreiro?
O Nené Carreiro deixou as competições oficiais há mais de 30 anos e, para além de uma homenagem da Associação de Atletismo de Ponta Delgada, ainda continua à espera que as entidades oficiais (autarquia e governo) lhe prestem uma merecida homenagem.
Grande Abraço e Muita Saúde.

Eduardo Monteiro

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