Diário dos Açores

José Enes e Gustavo de Fraga: Pastores da Verdade na Luz do Ser (I)

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Dedico este livro à Minha Mãe,
Leontina Maria Oliveira Medeiros,
Minha Verdadeira Educadora e Professora, que sempre me educou na Escola da Verdade, em Universidade, no Sentido dos porquês e das razões, na procura dos fundamentos e da Razão.
A Vida deu-me a ver que foi no meu Berço que recebi a essência da Educação e das Letras, com que fui crescendo e tecendo o meu Ser, no Sentido do meu Caminho.

Há muito que venho afirmando que é preciso uma metafísica de carne e osso. Atender às pessoas não é uma opção, é uma obrigação moral, que vincula, é uma questão de respeito, um valor essencial na existência e coexistência, que urge defender sem reservas. Mas metafísicas em a qual a Dignidade do Ser Humano e os Valores da civilização ocidental podem ser postos seriamente em causa. A Pobreza não é uma abstração, é uma realidade que tem de ser vista em diversas dimensões. No limite, tendo o essencial, só o despojamento nos aproxima do ser e cria tempo para nós e para os outros. É tempo de recuperar os valores essenciais, desde logo para que haja Memória, Gratidão e Futuro. Este livro procura ser, também, um tributo a tudo isso. Nem todos os valores se equivalem mas do que estamos a precisar é de referências. Neste livro encontramos duas Referências Maiores: José Enes e Gustavo de Fraga.
Este livro tem o seguinte título e enunciação: José Enes e Gustavo de Fraga. Pastores da Verdade na Luz do Ser. Mais do que uma vontade individual e pessoal, que é, - claramente - este livro significa para mim muito mais. E nestas primeiras asserções já há, de modo implícito, o sentido ontológico e fenomenológico, o ser e o sujeito, e a relação, consciente e dinâmica, entre ambos os dois polos, que se dão na perceção externa e na perceção interna, bem como na ligação entre as duas, que nos levam a dois modos aparentemente distintos de fazer Filosofia. Ora, o facto de ter sido aluno destes dois Professores excecionais sempre vi neles uma ligação e uma complementaridade, pese embora as diferentes opções filosóficas. Mas também por isso faziam escola, tinha singularidade. Eram, de facto, Universitários. Acima de tudo era o modo de tratar os assuntos, os temas, os problemas e as figuras que os distinguiam mas também complementavam. É essa singularidade e complementaridade que me fascinava e não sei explicar, mas sinto, de modo nítido, como uma Universidade, seja ela qual for, só atinge grandeza na humildade de quem, de modo simples, se abeira do Ser, sem abdicar da subjetividade que confere singularidade e universalidade, que confere ângulos de visão, no conjunto do fenómeno, seja ele qual for. E nó no contexto da vida o fenómeno atinge a sua profundidade, uma profundidade que nos toca, que nos alimenta, que nos move. Mas, lá bem no fundo, o ser é o suposto e pressuposto do fenómeno que luz à consciência, uma consciência aberta ao mundo, tal como uma hermenêutica aberta ao mundo. Passado esse tempo, até poria S. Tomás de Aquino a dialogar com Descartes, tal como é percetível em S. Tomás o diálogo fecundo com S. Agostinho. Afinal, não há uma dicotomia entre interioridade e exterioridade, há um transfundo que põe em diálogo toda a vida, que se sente com todos os sentidos. Não se trata, de modo algum, de qualquer interdisciplinaridade forçada mas, pelo contrário, de uma seriedade na Busca da Verdade, por caminhos aparentemente tão diferentes e, até, opostos. É que, no limite, não é já a certeza do juízo externo mas a Fé que acaba por ser determinante em S. Tomás de Aquino. É a fé que vem suprimir a insuficiência dos sentidos. A leitura da letra e a audição do Hino do Santíssimo Sacramento, da autoria de S. Tomás de Aquino, veio mostrar-me que a Suma Teológica – Obra notável, do ponto de vista filosófico e teológico – foi relativizada pelo próprio S. Tomás, em momentos místicos intensos deste grande Professor, Filósofo e Teólogo, que foi são Tomás de Aquino.
Na obra de José Enes e de Gustavo de Fraga há muito pensamento explícito mas também muito de impensado, muito para estudarmos, como “sugerências” para quem tem a humildade de pensar de que quem viu antes, e bem, viu sempre primeiro e melhor. Não se trata, nunca, de um retrocesso, pelo contrário. Mas de um regresso às origens onde o futuro se entre diz e se entrevê. Quanta humildade é preciso para saber e sentir o que é o passado, ali, onde a Memória faz Futuro.
    No dia 27 de fevereiro de 2014 foi publicado, no Jornal Diário dos Açores, um artigo/reportagem da minha autoria, intitulado: “Professor Doutor José Enes e Professor Doutor Gustavo de Fraga: Patrimónios vivos, Testemunho e Transmissão: A Força das Novas Gerações”, a propósito de uma Conferência que proferi, no dia 25, daquele mês, num projeto que vinha de 2013, uma Conferência intitulada: “SICUT AURORA SCIENTIA LUCET: Uma leitura metafórica e hermenêutica do lema da Universidade dos Açores, à Luz da Ontologia e da Fenomenologia: interpelações educacionais ao Pensamento de José Enes e de Gustavo de Fraga”. Ainda antes, a 30 de janeiro de 2014, foi publicado um artigo, da minha autoria, intitulado: “Professor Doutor José Enes e Professor Doutor Gustavo de Fraga. Figuras Maiores da Universidade, da Educação, da Filosofia e da Cultura. Aí é anunciado um Projeto que, como tal, está sempre em aberto, designadamente na formação, gradual e progressiva, de Educadores e Professores, bem como várias outras áreas.
Aí está o sentido de uma fidelidade às Origens, em dinâmicas, sempre com Futuro. Aí estão sementes de um projeto, de uma Ideia, que, uma vez lançada, germina onde há Conhecimento, Abertura, Humildade e, acima de tudo, a Vontade de aprender, de investigar, de meditar, de escrever, de problematizar, ainda e sempre, com quem fez da Filosofia um Projeto de Vida e, assim, nos ensina, com uma força imparável, e um enorme maravilhamento,  a procura, permanente, da Sabedoria, do Conhecimento, com vínculo à Verdade, que nos edifica e nos faz ser mais e melhores, num recomeço, em Educação e Letras, na Ciência mais profunda, que é a do Ser Humano, um Sentido de Ciência Integral que ficou bem patente na divisa, tirada do livro bíblico do Eclesiastes: SICUT AURORA SCIENTIA LUCET, como afirma, de modo documental, o Professor Doutor António Machado Pires no livro Memórias e Reflexões (2015), como é devidamente citado num artigo, que escrevi, e que integra este livro.
Guardo, dos meus tempos de aluno, de estudante, que fui, a maravilha dessa metáfora que nos faz crescer e ser, em termos individuais e comunitários. Em mim permanece intata essa frescura, original, originante, e atuante, que me foi transmitida, de modo vivido, em exemplo e respeito, pelo Professor Doutor José Enes e pelo Professor Doutor Gustavo de Fraga, meus Professores, para sempre. Em Memórias, em Obras e Pensamento. Por isso, foram – e são – pelo seu legado e património vivo, Pastores da Verdade na Luz do Ser. Se vejo outros universitários falarem e escreverem, até ao fim da vida, sobre os seus verdadeiros Mestres, por que razão não o hei-de fazer? É um dever e um imperativo que tenho. Eis aqui um contributo. Talvez outros se seguirão. Só o Futuro dirá.
    Este livro abre um Sentido, que espero, se possível, - e se se proporcionar - retomar e aprofundar.
    Aqui fica o meu Testemunho, em sentido de exemplo e transmissão. Certo de que este livro só tocará quem tiver o dom, e virtude, da honestidade e da humildade, traços essenciais para que haja Educação, na afirmação da Dignidade.
    Tendo como fundamento também o subtítulo do livro – Pastores da Verdade na Luz do Ser – decidi incluir neste livro alguns textos que falam de outros professores, e de temas, igualmente maiores, e que estão em sintonia com a finalidade explícita e profunda deste livro, e em intertextualidades de significação. Só a verdade faz e fundamenta a amizade no ser e no conhecer. Urge cultivar a sinceridade. Só essa fala da verdade do coração e da razão.
(Cont.)     

* Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia
da Educação

 

Emanuel Oliveira Medeiros
Professor Universitário*

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