Diário dos Açores

Mestre dos Mestres

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Em todas as profissões as pessoas têm os seus ídolos.
No Jornalismo, o ídolo do tempo da minha geração era Mário Mesquita.
O seu talento para teorizar sobre o fenómeno da comunicação e a problemática do jornalismo tornou-o no Mestre dos Mestres da profissão em Portugal.
Não admira que tenha formado uma geração inteira de jornalistas, que o admiravam e que ele retribuía com uma amizade e disponibilidade desconcertante.
Quando fui nomeado Director Interino do “Correio dos Açores”, já lá vão umas boas dezenas de anos, ligou-me para desejar felicidades e, no seu tradicional bom humor, sublinhar que éramos, então àquela data, os directores mais novos do país.
Nunca se esquecia dos amigos e dos Açores.
Ainda há poucos dias ligou-nos a pedir um artigo sobre o jornalista Manuel Ferreira, que ele admirava, para uma colectânea que estava a preparar para lançar numa editora da nossa região.
Perguntou-me se já tinha lido o livro sobre ele, “A liberdade por princípio”, que me tinha enviado, com mais de 800 páginas.
Respondi-lhe que ainda não tinha chegado ao fim.
“Duvido que chegue!”, comentou a sua conhecida conhecida ironia.
Mário Mesquita marcou, de facto, a minha geração de jornalistas, uma escola que sempre prezou a seriedade, a ética, o sentido de justiça e a crítica com base nos factos.
Foi um pioneiro no ensino do Jornalismo no nosso país e um cidadão com o alto sentido cívico, que começou muito cedo, aqui nos Açores, na sua luta contra a ditadura e a falta de liberdade de imprensa.
O pais deve-lhe muito, o Jornalismo também, mas, acima de tudo, os Açores, que ele ponha sempre à frente nas suas conversas e por quem deu a voz, em Lisboa, mesmo nos momentos mais tensos da política portuguesa.
Até sempre Mestre!

 

A morte de Mário Mesquita coincide com o Dia das Comunicações Sociais, a que o Papa Francisco dá relevo, este ano, ao fenómeno do “saber escutar”.
Por incrível que pareça, é uma das tarefas mais difíceis de cumprir nos dias de hoje: não basta escutar, é preciso saber escutar.
No Jornalismo, quem não souber escutar, nunca saberá transmitir.
Como diz o Papa, a capacidade de escutar a sociedade é a mais preciosa das coisas, uma vez que não existe boa comunicação sem haver capacidade de escutar.
Na sociedade de hoje, que vive em rede, há cada vez menos tempo para escutar e mais tempo para bisbilhotar, instrumentalizar e insultar.
As redes sociais são um campo sem fim para quem não gosta de escutar e o Papa descreve bem o fenómeno como “uma tentação sempre presente”, para opiniões “assanhadas” que se sobrepõem, muitas vezes, ao bom senso e ao  sentido de responsabilidade e seriedade.
São muitos os desafios que a Comunicação Social enfrenta neste novo ciclo comunicacional em rede, mas o maior de todos é exactamente não ceder à tentação de não saber escutar a sociedade. O bom Jornalismo agradece.

Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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