Diário dos Açores

O Pentecostes é o Mistério do Espírito Santo, Terceira entidade da Trindade, Igual e una com o Pai e o Filho

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No dia de Pentecostes, todos ficaram cheios do Espírito Santo, para que santificasse continuamente a Igreja, e deste modo, os fiéis tivessem acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito. (II Concílio Vaticano)

Partindo do símbolo do Espírito Santo,” a pomba”, línguas de fogo vêm pousar sobre Maria e os Apóstolos quando estavam reunidos no cenáculo, como mostra a artista imagem iconográfica do Pentecostes.
 “Consumada a obra que o Pai confiou ao Filho, todos ficaram cheios do Espírito Santo, quando reunidos no mesmo local, subitamente ressoou vindo do Céu, um som comparável ao de forte rajada de vento.
Viram então aparecer umas línguas à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles” (Actos, 2.1-11).
Se considerarmos a liberdade interior em que o homem, sem olhar para si mesmo, permanece fiel à exigência da sua consciência; se conseguirmos, sem sabermos sequer nós como colocarmo-nos fora da prisão do nosso egoísmo; se não nos contentarmos apenas em apreciar os prazeres e as alegrias, mas possuirmos a alegria que não conhece limites; Se nos confiarmos com fé ao mistério supremo, onde se unifica o significado último do amor, em tais circunstâncias, está em acção Aquele que nós chamamos, Espírito Santo.
O Antigo Testamento fala do Espírito Santo, como aquele sopro de Deus que cria, dá a vida e repousa sobre os eleitos, investindo-os de poderes com a finalidade de combater, profetizar, governar, executar diversos trabalhos ao criar, está implícito o elemento que possibilita ao homem consciente de Deus, o comungar com Ele, porque o Espírito de Deus é portador do divino no homem, é aquilo que o torna espiritualmente vivo.
Os profetas, Jeremias, Ezequiel e Joel, foram figuras marcantes na transição da actuação externa e pública de criar uma perspectiva mais interior e pessoal, onde o Espírito do Senhor é visto como aquele que age no coração de cada fiel, capacitando todo o povo de Deus à experiência de uma renovação interior e à novidade do coração em vista da aliança que o Senhor projectava contrair (cf. Jr 31,31-34; Ez 36,24-28; Jl 3,1-5).
A Nova Aliança, firmada em seu Filho amado, o Pai leva o seu desígnio de salvar e renovar todos os homens, e abre o caminho às promessas messiânicas para a efusão do Espírito Santo, destinado a todos os povos, e “aquele que crer” pode colher ricos e abundantes dons, frutos da fecunda árvore plantada no Mistério Pascal de Jesus (vida paixão, morte-ressurreição, efusão do Espírito Santo, no nascimento da Igreja).
O Antigo Testamento, havia intuído que o Messias seria revestido do Espírito de Deus e que este mesmo Espírito repousaria definitivamente sobre o “rebento do tronco de Jessé” (cf. Is 11,1ss), aquele Espírito que revestia os carismáticos e os capacitava para missões precisas, nos “últimos tempos”, ser infundido plenamente no Filho de Deus, o Messias, o descendente de David, plenitude e centro de toda a revelação bíblica.

O Espírito Santo, desce do Céu como uma pomba.” Do Evangelho de S. João, Baptismo de Jesus”
O Baptismo de Jesus, é o grande sinal histórico do propósito redentor da Encarnação. Ele mergulha no rio do pecado da humanidade, para purificar as águas sobre que paira o Espírito Santo. No baptismo, o Espírito Santo dá testemunho da divindade de Jesus, ungindo-O como Cristo.
Na iconografia do baptismo, a presença de Jesus é representada simbolicamente, não só pela pequena pomba, mas sobretudo, pela forte luz amarelada que desceu do céu e incidiu sobre a figura do Senhor.
Depois de baptizado todo o povo, e no momento em que Jesus orava, após ter sido baptizado, o Céu abriu-se,
e o Espírito Santo desceu sobre Ele, em forma corpórea, como uma pomba, e doCéu veio uma voz  que disse:“ Tu és o meu Filho muito amado, em ti pôs todo o meu enlevo.( Ev. S. Lucas)
Depois, Jesus disse aos Apóstolos: ” João baptizava na água, mas, dentro de pouco tempo, vós sereis baptizados no Espírito Santo”(Actos)
A unção pneumática no Jordão é profética pois; confere o impulsoe o crédito junto da humanidade; confirma o seu mandato divino; comprova a sua investidura messiânica; e instaura a sua obra de servo com o anúncio da boa nova aos pobres.
O baptismo no Jordão, é imagem que se toma como paradigma para o entendimento da cristologia, por ser o início e a razão da unçãodo seu “baptismo no Espírito”,e ser de grande importância para o seu mistério e ministério, na vida da Igreja e dos cristãos.

No Pentecostes, o amor de Deus foi derramado nos nossos corações por meio do Espírito Santo (CartaS Paulo Rom).
A Igreja primitiva, na manifestação do Espírito Santo no baptismo de Jesus, davaapreço à “unção” por significar toda a sua obra salvífica (cf. At 10,38).
A “história crística de Jesus” dá-se a partir da expansão pneumática, e a unção qualifica-O, de “Ungido” do Senhor, no exercício da sua actividade pública, e ministério messiânico.
Aplicando a si a profecia messiânica (Is 61,1-2)Jesus,mostra que a sua missão tem um cunho essencialmente de consagrado.(cf. Lc 4,18-19).Como Filho de Deus, habitou pelo Espírito Santo o seio materno, e no acto do baptismo, inicia “nova missão no ser e no ministério messiânico do Verbo encarnado”.
O Espírito de Deus, é a alma da comunhão estabelecida entre Jesus e o Pai, pela acção do Espírito Santo que resplandece na vida do seu ministério público. Pelo Espírito Santo, Jesus possui a “vida em si mesmo (Jo 5,21), e a sua passagem no mundo deixa sulco fecundo para que, “todos aqueles que O receberem” tenham o poder de “se tornarem filhos de Deus”.
O Espírito no centro da Trindade, é o vínculo da unidade de amor na diversidade das Pessoas divinas, é o dínamo unificante que triunfa sobre todas as forças de dispersão da morte, porque a ressurreição dá ao Filho de Deus, uma “existência pneumática” através da qual, se torna “Espírito vivificante” (cf. l Cor 15,45)

“A glória de Deus, é reveladora por natureza, uma vez que ela, é o próprio mistério em sua irradiação, como todo o mistério divino, é de natureza trinitária. Ela emana do Pai e brilha em Cristo, mas identifica-se com o Espírito Santo na plenitude da vida filial no tempo pela glória, pelo poder e pelo Espírito.Três nomes designam a única causa da ressurreição, que é, o Espírito Santo, o poder e a glória de Deus em sua paternidade, como “ Espírito da Verdade que se experimenta a Verdade, que outra coisa não é senão, o próprio Jesus”. François .Xavier .Durrwell
A revelação plena do Deus Uno e Trino, torna-se possível por meio do Filho de Deus e do Espírito Santo, porque o Verbo encarnado, “no seio de Maria”, revela o Pai, e pelo Mistério Pascal torna-se o veículo pelo qual o Espírito Santo é derramado nos corações.
“A concepção neotestamentária do Espírito Santo, é a original e única relação entre Cristo e o Espírito, meio para conhecer Deus Trindade”.
Na Trindade, o Espírito Santo é o elo de amor eterno entre o Pai e o Filho, e na Encarnação torna-se o vínculo de união entre o Verbo e a humanidade, porque as diversas circunstâncias ao envolverem o Mistério da Encarnação, têm um carácter pneumático (cf. Mt 1,20; Lc 1,15.42; 2,26).
O centro da fé cristã é a Ressurreição de Jesus, forma privilegiada da revelação da Trindade única de Deus, pois a força operante do Espírito, é o poder pessoal e vivificante enviado do Pai, é a Pessoa que preside à nova criação, que é a Ressurreição de Jesus.

O Espírito Santo na Igreja

“Onde está a Igreja aí está o Espírito de Deus, e onde está o Espírito de Deus aí está a Igreja(João Paulo II)
O Espírito Santo, fica na Igreja como mestre da Boa Nova que Cristo anunciou. Aquele” ensinar-vos-á e recordar-vos-á”, significa que Ele garante a continuidade e identidade da mensagem de Cristo, porque o Espírito Santo, faz com que perdure sempre na Igreja a mesma verdade, que os Apóstolos ouviram do seu Mestre.

No Pentecostes, Maria no Cenáculo, é Igreja.
“Maria, Mulher dócil à voz do Espírito Santo, foi mulher e voz do silêncio e da escuta, mulher da esperança”. (João Paulo II).

Maria, é presença no cenáculo, é dignidade coroada como Rainha e mãe da Igreja. A sua coroa, tem selada no cimo o esplendor da glória do Pai, o Espírito Santo em forma de pomba corpórea, que desde o momento da encarnação e concepção, aceitou o segredo de ser mãe Deus, a privilegiada no oráculo do Magnificat, mulher mãe, agradecida que engrandece as maravilhas que o Senhor operou no tempo de gestação do filho gerado por obra de Deus Pai.
Maria é Pentecostes, é compromisso de Irmandades e Instituições, é proclamada Senhora dos Remédios e hospitaleira do Divino Espírito Santo, Estrela-do-Mar, Mãe Sacerdotisa dos Pescadores e Navegantes.
Na Literatura Medieval e Renascentista, o Pentecostes e a Virgem Maria, são referência na Corte Imperial, é imagética do séc. XIII onde a pregação religiosa, inspira a divina oração que reza a fé da vida humana criada.
No Pentecostes, Maria, é videira inspirada de Deus, porque a videira de três ramos em flor, significa a virgem Maria, a sua pureza, e o perfume da flor. Maria gerou o seu Filho sem corrupção da sua pureza; cheia e densa de caridade, porque durante nove meses trouxe o Amor dentro de si, por isso, é invocada Mãe da Misericórdia e esperança dos desesperados. (A Bíblia na Literatura medieval PortuguesaBB,ICP, pág.29 e 31)
A Bíblia, na Literatura medieval Portuguesa cita: ”Três são os ramos: a anunciação do anjo, a vinda do Espírito Santo e aconcepção do seu Filho. Destes ramos, nascem outros, espalhados pelo mundo. E temos ainda os gomos, quer dizer, a humildadee a virgindade.Significam as flores da videira fecundidade virginal e o parto sem dor. Enfim, os cachos de uvas que dela nascem são a pobreza, a paciência e a abstinência. Destas uvas, faz-se vinho «maduro e perfumado» que nos inebria e, inebriando-nos, torna sóbrias as nossas almas”.(BB,ICP, pág.31)
Gil Vicente, poeta e dramaturgo Renascentista, séc. XVI, na sua literatura, observou o homem em todas as circunstâncias da vida, e do seu profundo humanismo, nasce uma severa critica social, na qual, algo de sobrenatural e transcendente existia na sua inspiração, sinal dotado de invocação do Espírito Santo, porque o seu pensamento estava recolhendo a imagem do anúncio do Anjo Gabriel a Maria, e cita a inspiração divina:

Crede o santo nascimento,/ Ser Deus da Virgem nascido/ Verbo de Deus concebido/para novo testamento.
E que a virgem gloriosa / ficou tal como nasceu; E sem dor apareceu/ a nossa flor preciosa,/Deus em toda a perfeição. (A Bíblia na literatura medieval portuguesa).
No auto da Alma, a pregação no séc. XIII,” ao princípio era a Palavra” (João.1,1) santo António, fala dos peregrinos que na caminhada da vida necessitam de estalagem, refeição e descanso das almas para a eternal morada de Deus, e esta estalagem, é a Santa Mãe Igreja; onde a mesa, o altar, e os manjares, são as insígnias da paixão; é a Madre Igreja Santa, e os seus santos doutores; e com ela tereis daí mui desposada Maria, Cheia do Espírito Santo.
No mesmo acto, na oração de Santo Agostinho, o Divino Espírito Santo é invocado; Alto Deus maravilhoso que o mundo visitaste;e Teu Filho delicado, mimoso da divindade e natureza, escolheu a Virgem Maria, mansa pomba gloriosa.(Auto da Alma, Gil Vicente)

O Pentecostes na literatura, é citado na Demanda do Santo Graal.“(Lenda medieval que atribui poderes divinos a um cálice (Santo Graal), que designa normalmente o cálice supostamente usado por Jesus Cristo na Última Ceia)”.

Na festa de Pentecostes (dia em que a Igreja comemora a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos), havia alegria na corte do rei Artur, onde estavam reunidos os seus 150 cavaleiros. Ouvida a missa, todos aguardavam um acontecimento prodigioso como era habitual dar-se em dia tão solene. Em torno da távola redonda para a ceia, os cavaleiros são surpreendidos pela aparição do misterioso vaso, o Santo Graal, que a todos ilumina com a Graça do Espírito Santo e os nutre com a luz de um místico alimento.

«No Pentecostes, o Divino Espírito Santo «é o Alfa e o Ómega, o começo e o fim, diz o Senhor»(Apoc.1,8).

A literatura Hebraica, na exegese da Sagrada Escritura, argumenta que a Cristologia é de um optimismo consolador, pois Deus encarnou, e fez-se homem como nós no puro amor, e declara, que em Deus «todas as três pessoas», e dignidades são uma só«coisa».

Interroga o Profeta Isaías: Quem é aquele que mediu as águas com o punho e mediu os céus a palmo e «tomou em três dedos o peso da Terra»?

De certo, que os três dedos mostram a Divindade que contém todas as coisas, «em poderio da majestade de três pessoas».
Com Cristo a presidir no começo e no fim de cada vitória, ouvem-se louvores de tanto saber e ressoam cânticos, e assiste-se a cenas adaptadas do Apocalipse: À direita do trono, sentava-se a Igreja Triunfante, vestida de sol, com a uma coroa de doze estrelas resplandecentes e a lua a seus pés.Em volta, multidões sem conta, de vestes brancas, com ramos de palmeiras nas mãos. Tiravam da cabeça as coroas de ouro e exclamavam cantando: “cf. Cântico Ap.4 e 5”; Senhor nosso Deus, Tu és digno de receber a honra, a glória e a força, pois criastes todas as coisas. Só Tu És digno de abrir o livro dos sete selos». (in A Bíblia na Literatura medieval Portuguesa BB,ICP, págs.47e 48)

O Divino Espírito Santo, é o resplendor e a beleza da imagem de Cristo que brilha na santidade da humanidade. Nele, atinge a sua mais alta expressão, o progresso espiritual da humanidade.
Senhor, que proclamastes a cristo como Vosso filho no momento em que era baptizado e o Espírito Santo descia sobre Ele, concedei aos vossos filhos adoptivos, renascidos pela água e pelo espírito da Graça de sempre Vos Amar.

 


Nota: (Ap. Cânticos 4 e 5).O Cântico 4, As visões da revelação, fala do trono de Deus, e o 5, O livro dos sete selos.
Estes cânticos são utilizados nas orações de vésperas das liturgias da: Solenidade de Cristo Rei, 5ª feira Santa, Corpo de Deus, Santíssima Trindade, com as antífonas: Jesus Cristo fez de nós Senhor, para Deus, um reino de sacerdotes. (Ap 5, 12; 1, 6)”O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder e a riqueza, a sabedoria, a honra e o louvor. Glória ao Senhor pelos séculos dos séculos.”

 

José Manuel Graça Teixeira Gaipo *

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