Diário dos Açores

O facto, o número e o nome

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Olhar do Sul

O facto...

Finalmente, um voo sem máscara

Daqui a poucas horas aterro em Paris, num aeroporto (Charles de Gaulle), que é um exemplo mundial de simplicidade nas ligações e qualidade na oferta aos passageiros. Serve uma cidade âncora no turismo do planeta e sabe o que deve fazer para facilitar a vida aos viajantes profissionais que o cruzam e que nele confiam.
Paris adapta-se às necessidades e a Air France à evolução: escrevo a sobrevoar a Argélia, neste voo Luanda-Paris em que as máscaras de proteção já não são obrigatórias, mesmo para a tripulação. Sinais dos novos tempos, que assim sucedem aos tempos de pandemia. Convençamo-nos: não tendo sido dada como extinta, e avançando até para as quinta ou sexta vagas - consoante as zonas do mundo e a dispersão da infeção - tem de começar a ser encarada por todos como uma endemia, como vírus sazonal que, importando acautelar, passará a viver “alegremente” connosco em todos os momentos e latitudes.
Os Açores têm conseguido manter estes parâmetros de controle da infeção em números muito razoáveis para uma região descontinuada e, por isso mesmo, desprotegida. As medidas sucessivamente tomadas não significam, como muitos (e alguns com clara má-fé…) suscitam, um irresponsável aligeiramento. Pelo contrário: responsabilizam o cidadão, numa lógica inclusiva de cada um no processo de decisão individual e de capacidade de compreensão do alcance, da dimensão e da gravidade deste período final de pandemia, e exortam-no a tomar a melhor opção possível num quadro de cidadania responsável.
É, aliás, o único caminho, depois da consciencialização de que este é um vírus companheiro da humanidade e que, com um elevado grau de vacinação e uma potencial imunidade de grupo a atingir em breve, nos fará, como neste voo da Air France, andar de cara destapada e respirar finalmente melhor o ar que nos rodeia.

O número...

220 (deputados à Assembleia Nacional de Angola)

Orientei esta semana, em Luanda, uma “Master Class” sobre jornalismo em contexto eleitoral, aos profissionais da editoria política da TV Zimbo, uma das maiores estações televisivas de Angola.
Este é um ano determinante para o processo democrático naquele país africano de língua oficial portuguesa. A realização, em agosto, de eleições gerais - o que, no quadro político angolano, significa a eleição de 220 deputados à Assembleia Nacional, mas também do Presidente da República - mobiliza o país, de Cabinda às Lundas, de Benguela a Luanda.
Os angolanos têm plena consciência da importância do seu voto, fator decisivo para que se continue a consolidar o regime democrático do país. Serão talvez quinze as forças políticas concorrentes ao ato eleitoral, mas porventura apenas cinco as que conseguirão, efetivamente, eleger deputados ao parlamento de Luanda. E dessas, a atenção mediática recai sistematicamente sobre MPLA e UNITA, embora com abissais diferenças na disponibilização de espaços em serviços informativos e até em número de “peças” transmitidas.
Trabalhámos todas essas valências, envolvendo quinze profissionais de topo, entre pivôs, analistas e repórteres. E a ideia com que descolo do aeroporto 4 de fevereiro é a de que, apesar de todos os constrangimentos, de todos os sacrifícios que diariamente têm de ultrapassar, os jornalistas angolanos têm um papel determinante neste processo. Para informar com equilíbrio, equidade e, sobretudo, bom senso.

O nome...

Rui Goulart

Nos Açores, um dos nomes da semana é o de Rui Goulart. Embora já há alguns anos, enquanto sub-diretor da RTP Açores, gerisse as áreas de Meios, Conteúdos e Multimédia, é agora nomeado máximo responsável do Centro Regional dos Açores das rádio e televisão públicas.
Não creio que pudesse sequer haver outro nome tão consensual para a posição, em face da experiência acumulada do jornalista na estação e, sobretudo, da respeitabilidade que ao longo dos anos foi gerando em torno da sua figura.
O picaroto que agora substitui Lorina Amaral merece um voto de confiança para uma missão que - creio que ele próprio reconhece - é muito difícil mas, justamente por isso, profundamente, desafiante para alguém da indústria dos audiovisuais.
A RTP Açores passou por um processo de (re)estruturação tecnológica visível, com melhorias nas ferramentas de trabalho fixas e móveis, com a implementação da “visual radio” e com a migração do sinal de televisão para a alta definição. É agora hora de continuamente dignificar os seus profissionais, conferindo-lhes melhores condições para maiores e mais aliciantes desafios. Voltarei ao tema. Porém, este é o momento de desejar ao Rui (de quem, e para declaração de interesses, sou amigo há décadas), coragem para tomar decisões e defender posições, e bom senso para equilibrar critérios e estimular profissionais. Porque, à partida, tem para dar e vender a qualidade requerida para ser Diretor de um dos pilares da autonomia açoriana.

 

(*) Jornalista e Apresentador de Televisão
Voo AF945 (Luanda-Paris), 3 de junho de 2022

Rui Almeida (*)

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