Diário dos Açores

Que Autonomia?

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As comemorações do Dia da Região Autónoma dos Açores regressam amanhã, de forma presencial, depois de dois anos interrompidas devido à pandemia.
Nos discursos que vamos ouvir amanhã - e são muitos - ficaremos com informação suficiente para retermos uma síntese de balanço destes anos de Autonomia.
Duvido que haja sentido crítico suficiente para reconhecer que a caminhada, até aqui, poderia ter sido muito diferente, se os partidos políticos não se apoderassem do processo autonómico como uma conquista apenas deles, ignorando os cidadãos e a participação cívica há muito reclamada, com representação nos órgãos próprios de governo da Região.
Passados todos estes anos temos um parlamento que nem consegue construir uma proposta de reforma da Autonomia, em que os cidadãos independentes se sintam representados e os eleitores tenham a oportunidade de eleger directamente os seus representantes.
Esta incapacidade tem levado ao afastamento, cada vez mais crescente, dos cidadãos na participação dos actos eleitorais e no debate cívico, com os partidos a capturarem a Autonomia e todo o sistema representativo como se fossem donos da nossa consciência.
Esta é uma das maiores lacunas da nossa Autonomia, agravada pelo falhanço da coesão regional e pela falta de equilíbrio nos investimentos públicos  entre as várias ilhas.
Apesar de tudo, avançamos durante todos estes anos - não poderia ser de outra forma -, mas outros como nós avançaram mais depressa e com melhores resultados.
 Há muito caminho, ainda, para percorrer, mas se continuarmos com as mesmas estratégias e com os mesmos vícios do sistema, teremos as novas gerações a herdar uma região sem grande futuro.
Oxalá que ainda consigamos ir a tempo.

 

É de desconfiar...

Aí está um exemplo apenas de como a nossa Autonomia progrediu quase nada nestes últimos anos: só agora é que o Governo da República reconheceu o direito da Universidade dos Açores ter acesso aos fundos comunitários, tal como já acontecia com as suas congéneres nacionais. Era uma discriminação incompreensível e bastante significativa da forma como os governos centrais tratam as Autonomias.
Convém, agora, a Universidade dos Açores e os órgãos regionais, obrigarem a República a cumprir com a palavra, pois não é a primeira vez que prometem milhões para a academia açoriana e, depois, não cumprem.
O governo anterior foi humilhado pelo governo de Costa e do ministro Heitor ao falhar com a promessa assinada em Ponta Delgada com pompa e circunstância e que mereceu, ainda esta semana, um voto de protesto no parlamento, a que o PS, sempre curvado a Lisboa, não se associou.
Noutro plano, o actual governo assinalou, também com grande pompa, o primeiro ano da Tarifa Açores, uma iniciativa de grande sucesso, sem dúvida, mas que não pode ser a única bandeira que restará a este governo para mostrar no final do mandato.
São precisas medidas ousadas semelhantes noutras áreas e uma delas é o investimento na Saúde, área que foi ignorada nos últimos anos, com falta de investimentos, deixando, por exemplo, o maior hospital dos Açores num sufoco, com falta de espaço, falta de equipamentos e de recursos humanos e muito material obsoleto. O mesmo acontece em vários Centros de Saúde por estas ilhas fora.
Robustecer o Serviço Regional de Saúde com meios que respondam com mais rapidez e qualidade aos cidadãos é uma prioridade absoluta e nunca contribuir para os lucros dos accionistas privados, por maior pressão que eles exerçam.
É preciso coragem para mudar muita coisa para termos uma melhor Autonomia, em todos os sentidos.
Os cidadãos agradecem.

Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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