Diário dos Açores

O facto, o número e o nome

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Olhar do Sul

O facto...

Do papel ao digital: uma imensa oportunidade

Para quem gravita em torno da indústria dos “media”, e sobretudo no âmbito de uma imensa insularidade, há muito que as dificuldades se tendem a transformar em oportunidades. Sobretudo, no capítulo da imprensa, baluarte histórico da autonomia, pilar indestrutível do pensamento e da ação em democracia, garante dela própria, pelo pluralismo, pelo equilíbrio, pela equidistância, por uma “praxis” que desde sempre a legitima como um ator essencial do nosso sistema autonómico.
O efeito “butterfly” aplicado à crise do papel fez-se, finalmente, notar. As produtoras do norte da Europa (entenda-se, da Escandinávia), adquiridas por potentados económicos orientais, redimensionam o negócio do papel e transformam-no em produção de embalagens de cartão para venda a grandes superfícies e marcas de produtos tecnológicos. O embalamento destes resulta no desequilíbrio de matéria-prima, na sua falta para outro tipo de negócios (como, por exemplo, o da comunicação social impressa).
A razão parece rebuscada mas é, no essencial, bastante simples. E o seu resultado (uma crescente falta de papel para venda aos mercados tradicionais), obriga três títulos açorianos, numa fase temporária, a suspender as respetivas edições físicas.
Para o leitor habitual, o consumidor que, ao fim de semana, se reúne à mesa do café para comentar as notícias “do seu jornal de sempre”, esta será… a pior notícia, talvez mesmo indiciadora de uma quebra progressiva de vendas e de aceitação do formato perante as novas gerações de leitores.
Que consomem em plataforma, com orientação segmentada e seletiva. Que estão muito mais voltadas para uma leitura rápida (não confundir com superficial…), para uma análise sucinta e, sobretudo, para uma capacidade de decisão sobre os temas que verdadeiramente lhes interessam muito superior à dos consumidores em papel.
Ora este é um quadro interessantíssimo para os jornalistas e gestores dos três títulos que agora suspendem as edições em papel: potenciar as edições digitais, não apenas na lógica de um “fac simile” do que seria a edição física do dia, mas numa perspetiva de efetiva reconversão das suas redações, (re)formando e (re)formatando profissionais e estratégias, por forma a acudir à emergência com uma fundamental ideia de médio e longo prazo: agregar valor à componente multimédia e trabalhá-la em rede, em verdadeira rede de parcerias e sinergias, de forma a apresentar, a médio prazo, um produto novo, vanguardista nos Açores e competitivo nos diversos “nichos” de destinatários (em que os açorianos deslocados para estudar ou trabalhar e a diáspora deverão ter, fatalmente, papel estratégico e fundamental).
Às aparentes dificuldades sucedem-se evidentes oportunidades. Alguém falou em “sismo democrático”. Completamente em desacordo. Do que se trata, mesmo, é de uma excelente chance para mostrar arrojo, atrevimento, disrupção e talento.

O número...

500 anos de concelho e 10 anos de cidade

Sendo a sede de concelho mais próxima da maior cidade açoriana, Lagoa poderia sofrer com uma espécie de “efeito eucalipto” de Ponta Delgada, fosse na capacidade de agregação populacional, na oferta de emprego ou na dispersão de investimento.
Porém, ao comemorar 500 anos de elevação a vila e a sede de concelho e dez anos de promoção à categoria de cidade (a terceira em São Miguel e a sexta na região), Lagoa revela-se pelo pensamento estratégico que a tem norteado desde o consulado autárquico de Martins Mota.
Com inegável mestria e capacidade de aglutinação de interesses e de investimentos para o seu concelho, João Ponte e, agora, Cristina Calisto, têm congregado ideia de valor e de futuro para o concelho fronteiriço com Ponta Delgada, Ribeira Grande e Vila Franca do Campo.
É num clima de “euforia controlada” que Lagoa se apresenta ao mundo, com o desenvolvimento assegurado do NONAGON (o Parque de Ciência e Tecnologia de São Miguel que está já em fase de ampliação, depois do absoluto sucesso na implementação da primeira fase), com a velocidade de cruzeiro do Hospital Internacional dos Açores, com a referência na aposta interativa e digital no capítulo das “Smart Cities” ou com o ritmo acelerado de construção do primeiro hotel da cadeia Hilton a ficar sediado nos Açores (com abertura prevista para o último trimestre de 2023).
É no que resulta fazer as coisas com cabeça, tronco e membros, sem ceder aos ventos do momento ou aos humores dos poderes. Lagoa pode muito bem servir de exemplo, a nível nacional, como o tem sido no âmbito da Região Autónoma dos Açores.

O nome...

Rui Marques

É, seguramente, dos mais reputados técnicos nacionais na sua área. E, como muitos dos verdadeiros académicos, exerce a sua atividade na sombra, longe dos holofotes que até parecem, a dado passo, ser inimigos do rigor e da perfeição com que desenvolve o seu trabalho.
Rui Marques, 42 anos, foi catapultado para o primeiro plano por força da crise sismovulcânica na ilha de São Jorge. O geólogo Mestre em Vulcanologia e Riscos Geológicos e Doutor em Riscos Geológicos revelou, enquanto Presidente do CIVISA e, portanto, putativo porta-voz da estrutura técnica de avaliação e prevenção da sismologia nos Açores, uma calma, um bom senso e um sentido de prevenção sem alarmismos absolutamente notáveis e sempre adequados a cada momento da evolução da situação na ilha mais central dos Açores.
Sem ser um técnico de comunicação, utilizou ferramentas simples e diretas, como um discurso escorreito e uma linguagem “para todos”, pontuando o que tinha de pontuar e nunca entrando pela porta enviesada do facilitismo ou do emproamento.
Rui Marques, no momento em que o nível de alerta desce, em São Jorge, de V4 para V3, merece um cumprimento muito especial.
Por muito menos, muitos outros já receberam insígnias autonómicas de reconhecimento.


(*) Jornalista e Apresentador de Televisão
Horta, 9 de junho de 2022

Rui Almeida (*)

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