Diário dos Açores

A liberdade

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Vou fazer, neste artigo, uma nova e breve referência à minha mais recente e motivante descoberta: o cronista Joel Neto. Chatear, aborrecer e colocar um espelho na frente de personagens ególatras e presunçosas é um velho prazer, a que não consigo resistir.
Pelas referências que me fez no seu último escrito, fiquei com a leve sensação de que Joel Neto não gostou do meu último artigo de opinião. Ficou indignado com a crítica que lhe fiz em relação ao conjunto de parvoíces que escreveu, cuja natureza infantil penso que consegui demonstrar.
Sem argumentos substantivos, que suportem a tese absurdamente maniqueísta e tendenciosa que escreveu a respeito do governo bom e do governo mau, Joel Neto refugiou-se no panteão dos homens livres. Juntou-se a mártires da liberdade como Nelson Mandela, Mahatma Gandhi, Martin Luther King ou Dalai Lama.
Quem é que faz perigar a sua liberdade de opinião? Supostamente, os tais “políticos de freguesia” que cometeram a ousadia de criticar os seus sagrados e dogmáticos escritos.
Na verdade, Joel Neto, esse grande vulto do jornalismo e da literatura universal, não compreende por que razão os ofendidos não lhe agradeceram a simples referência aos seus nomes. O nosso Hércules literário deixa o seguinte lamento, que espelha bem a grandeza da sua alma e deixa transparecer a humildade que se esconde no génio: “talvez tenha querido lamentar que, depois de anos a comentar os melhores golfistas do mundo, eu comente agora os melhores políticos da freguesia, o que só pode significar que ando a descer na vida. Provavelmente, terei até de lhe dar alguma razão”.
Sublime, não é? Joel Neto consegue, neste transcendente exercício de modéstia, amarrar, martelar e esmagar o ego, chamado Adamastor, que lhe enche a alma. Vou recomendar este escrito a homens como Carlos César ou José San-Bento, que têm muito a aprender no âmbito da Neolítica arte da domesticação dos seus egos insuflados.
Permito-me, apenas, assinalar duas pequenas incongruências, algo que o “colosso” não levará, certamente, a mal. A primeira é muito óbvia. Se os soldados da censura não passam, afinal, de pacóvios de freguesia, que perigo podem eles representar para alguém que integra, supostamente, a nossa elite intelectual? Que podem fazer esses ogres da floresta para limitar a liberdade do titã literário que caiu, ainda na infância, num caldeirão de poesia japonesa?
O perigo não é óbvio e carece de uma explicação adicional. A menos que a resposta resida no absurdo. Pode dar-se o caso de Joel Neto considerar que a sua liberdade fica amputada ou condicionada sempre que alguém o critica ou se atreve a escrever um qualquer contraditório. A confirmar-se este tipo de pensamento, Joel Neto engrossaria as fileiras dos que, na atualidade e na História, se tornaram plenamente livres à custa do esmagamento da liberdade de todos os outros.
Alguém duvida que Fidel Castro ou Francisco Franco foram homens livres? Foram, não duvido nem por um instante, homens livres. E as outras mulheres e homens dos seus povos? É claro que, na grande maioria dos casos, não foram livres. Nunca resta um pingo de liberdade para os outros, quando alguém concebe a sua liberdade à custa da liberdade dos outros.
No que me diz respeito, não abdico de escrever o que penso de ideias, projetos ou pessoas. O facto de ser deputado não me retira qualquer direito de cidadania. Isto significa que vou continuar a utilizar este espaço de opinião para exercer o contraditório que merecem narrativas absurdas, ideias parvas ou opiniões sem sustentação. Afinal, a liberdade é uma coisa de todos, para todos.   

Paulo Estêvão*

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