Diário dos Açores

Urge apoiar a imprensa açoriana

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A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, vulgarmente conhecida e designada apenas por Assembleia Regional dos Açores, é composta por 57 deputados - não é coisa pouca para a dimensão do arquipélago -, em representação de vários partidos políticos. Falam que se fartam e brigam uns com os outros mais do que seria desejável e expectável. O funcionamento do parlamento açoriano sai muito caro ao erário público, sem que se veja produtividade a condizer.
Os deputados abordam muitos e diversos assuntos, de três categorias, mais ou menos: muito importantes, pouco importantes e nada importantes. É tudo uma questão de importância, de facto. Muitos assuntos muito importantes e urgentes passam ao lado das iniciativas parlamentares e dos debates. Por exemplo, as enormes dificuldades que enfrenta a imprensa açoriana não são matéria que mereça o interesse dos deputados regionais.
Nos últimos anos, encerraram nas ilhas vários jornais e outros poderão vir também a fechar, o que é um perigo para o bom funcionamento da democracia no arquipélago, para o regime autonómico e para a coesão regional, porque esses jornais são fundamentais para a informação e para o conhecimento das realidades locais entre todos os habitantes das ilhas. As televisões, as rádios e as redes sociais, apesar da sua relevância, não substituem os jornais, de modo algum.
As dificuldades da imprensa regional só foram agravadas pela pandemia e pela actual crise internacional, porque, em boa verdade, já vêm de há muito, sem que os poderes públicos tenham percebido que apoiar devidamente os jornais regionais e locais é fundamental para a vida social, para a democracia e para o bom funcionamento da Autonomia político-administrativa regional. Muito têm aguentado os proprietários desses jornais, mas tudo tem, obviamente, um limite, razão pela qual, como já referi, várias publicações já encerraram e outras estão confrontadas com uma situação terrível, nomeadamente com os encargos com os funcionários, os impostos e os custos do papel, que têm vindo sempre a subir. De resto, em face da actual crise internacional, já se verifica escassez de papel, o que piora o cenário existente.
A velha e prestigiada Gráfica Açoriana, Ldª, na ilha de São Miguel, anunciou que deixa de publicar em papel os seus três jornais, “Correio dos Açores”, “Diário dos Açores” e “Atlântico Expresso”, precisamente porque não suporta mais os custos do papel, o que é compreensível. Esses jornais agora são apenas disponibilizados em “PDF”, por via digital.
Numa terra com uma população com muitas pessoas que não dominam as novas tecnologias, os jornais em papel são fundamentais para a vida diária dessas pessoas, como é fácil perceber. Muitas são assinantes dos jornais há longas décadas, seguindo até uma tradição e um hábito dos seus ancestrais. Privá-las do “jornalinho” diário, como por vezes dizem, é, sem dúvida, causar-lhes um certo tipo de sofrimento.
Mas os deputados regionais, de diversos partidos, parece que desconhecem em concreto muitos aspectos da vida açoriana. Talvez por isso as dificuldades da imprensa regional e local sejam para eles uma questão menor. Mas não é, de todo! Impõe-se que a Assembleia Regional dos Açores trate este assunto com a urgência e a importância que merece e que o Governo Regional também faça o mesmo, sem mais delongas ou desculpas.
Diminuindo impostos e/ou subsidiando condignamente, é preciso apoiar as empresas e as entidades detentoras dos jornais regionais e locais, porque tal representa um verdadeiro serviço público, em defesa das populações, em primeiro lugar, e da informação, da democracia e da Autonomia regional, em segundo lugar.
Não se percam em grandes e maçadores debates, ao longo de vários dias, semanas ou até meses. A difícil realidade da imprensa açoriana é mais do que conhecida e o preocupante diagnóstico está mais do que feito. Importa agora agir, antes que seja tarde demais.

 

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